Com Musk alvo de protestos, vendas da Tesla caem 76% na Alemanha

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JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

As vendas da Tesla despencaram pelo segundo mês consecutivo na Alemanha. Depois da queda de 59% em janeiro, o tombo em fevereiro chegou a 76%, em relação aos mesmos meses do ano anterior. O período coincide com a recente campanha eleitoral alemã, que teve em Elon Musk, dono da montadora, um de seus mais controvertidos personagens.

Em uma ofensiva populista sem precedentes, o bilionário pediu votos para a extrema direita, relativizou o peso da Segunda Guerra e do Holocausto na sociedade alemã, ofendeu do primeiro-ministro ao presidente e alimentou bate-bocas de toda sorte no X, em que congrega mais de 200 milhões de seguidores.

A AfD, o partido considerado pelo serviço de segurança alemão como extremista, com integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo, alcançou a segunda maior bancada no Parlamento. Se é discutível o quanto Musk contribuiu para o resultado histórico, parece cada vez mais fácil relacionar seu empenho na política aos resultados da Tesla.

Alvo de manifestações nos EUA pelo trabalho no departamento de eficiência governamental da gestão Trump, Musk é alvo de boicote em diversos países europeus. No fim de semana, na França, uma concessionária da Tesla foi alvo de um incêndio suspeito, que destruiu ao menos 12 veículos. Um grupo anarquista reivindicou a autoria do ataque. As vendas da marca na França recuaram 26% em fevereiro, após despencaram 63% em janeiro.

A França é o segundo maior mercado de elétricos da Europa, e a Tesla, a maior fabricante no continente europeu. Sua fábrica está instalada em um subúrbio próximo a Berlim e também já foi alvo de protestos.

Uma elaborada projeção na fachada do prédio principal da fábrica denunciou a radicalização do empresário, culminando com a saudação que fez em um ginásio nos EUA que o mundo viu como nazista.

Há algumas semanas, obras de infraestrutura viária próximas à unidade sofreram pequenos atos de sabotagem.

O fiasco nas vendas aparece ainda mais em países onde a eletrificação está em curva ascendente, como Dinamarca (-48%) e Suécia (-42%). Com uma fatia de 96% de elétricos entre os veículos novos e caminhando para os 100%, a Noruega comprou 44% a menos da Tesla nos primeiros dois meses deste ano. E não faltam compradores para produtos de outras marcas, pois o mercado cresceu no mesmo período impressionantes 53%.

A nova líder é a Volkswagen, com mais de 3.222 unidades comercializadas, um salto de 224% em relação ao mesmo bimestre de 2024. Termômetro da crise alemã, acossada por inéditos planos de corte e greves, a montadora de Wolfsburg começou 2025 também na liderança em seu país, com cinco modelos entre os dez elétricos mais vendidos. O novo carro-chefe da empresa, o ID.7, liderou as vendas na Alemanha em janeiro pela primeira vez.

O modelo Y da Tesla, antes líder do mercado alemão, amarga a sétima colocação agora. Houve um aumento repentino de preço, no fim do ano passado, e analistas dizem que muitos consumidores aguardam o lançamento de uma versão atualizada, programada para este mês na Europa. Até acionistas da Tesla, porém, concordam com a percepção de que a atuação política de Musk está pesando sobre a empresa.

Segundo o jornal The New York Times, um grupo de investidores planeja propor na próxima reunião de acionistas que os ganhos de Musk sejam atrelados a objetivos ambientais e de governança corporativa.

Musk argumenta que o futuro da companhia está mais atrelado ao desenvolvimento definitivo de táxis autônomos, que promete para este ano.

O proselitismo digital de Musk é visto na Noruega como um dos principais motivos para a queda nas vendas, mas a rejeição à marca já vinha crescendo nos últimos meses. Falhas em veículos e no serviço de manutenção levaram a Tesla ao topo do ranking de reclamações no país.

Ainda que a derrapada da montadora do bilionário anime a concorrência, o mercado de elétricos europeus enfrenta momento delicado. A União Europeia adiou a aplicação de rígidas metas ambientais aplicadas às frotas comercializadas, o que pode impactar a oferta de elétricos; fabricantes pedem ainda o fim da tarifa de 20,7% aplicada a carros fabricados na China, inclusive os de marcas europeias.

A propalada disputa tarifária com o governo Trump contribui para o cenário de incertezas.

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