Diagnosticado com Alzheimer, escritor Antonio Cícero opta por eutanásia e deixa carta de adeus

Antônio Cícero, escritor membro ABL (Academia Brasileira de Letras), morreu por eutanásia, na Suíça, aos 79 anos. A morte foi confirmada pela academia, nesta quarta-feira (23).

Antonio Cícero

Antonio Cícero era poeta e escritor brasileiro – Foto: Reprodução/ND

Em vida, ele foi compositor, poeta, crítico literário e filósofo. Recentemente, enfrentava a doença de Alzheimer, que considerou “insuportável”, como descreveu na última carta que deixou antes de se submeter à morte assistida.

Natural do Rio de Janeiro, se formou em filosofia duas vezes, a primeira na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica) e a segunda pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Antonio Cícero ainda estudou na Universidade de Londres, no tempo que ficou exilado do Brasil durante a ditadura militar.

Na Suíça, a morte assistida é autorizada desde 1942, inclusive para estrangeiros. Após diversas etapas, a pessoa autorizada recebe uma substância letal, que é ingerida ou aplicada pelo próprio paciente.

Antonio Cícero e Mariana Lima

Escritor era irmão da cantora Mariana Lima – Foto: Reprodução/ND

Leia a carta deixada por Antonio Cícero:

“Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem”.

“Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação”.

“A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços”.

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