Dormir bem: o impacto do sono na saúde cerebral dos idosos

idosa dormir

A qualidade do sono afeta diversas áreas da vida, incluindo a saúde cerebral. Noites mal dormidas podem acelerar o declínio cognitivo e elevar o risco de doenças como o Alzheimer, especialmente entre os mais velhos.

Segundo uma pesquisa publicada na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, pessoas entre 40 e 60 anos com sono de má qualidade podem apresentar sinais precoces de envelhecimento cerebral. Outro estudo, também publicado na mesma revista, indica que indivíduos na faixa etária de 30 a 40 anos que enfrentam interrupções frequentes no sono têm o dobro de chances de desenvolver problemas de memória.

Segundo o Relatório Nacional sobre a Demência, divulgado pelo Ministério da Saúde, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais convivem com a doença, representando aproximadamente 2,71 milhões de casos. O levantamento aponta ainda que até 2050, a projeção é que 5,6 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no país.

A relação entre o sono e a saúde do cérebro

Cecília Nobre, médica da área de geriatria do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, explica que o sono desempenha um papel essencial na consolidação da memória e na eliminação de toxinas no cérebro, processos que são cruciais para preservar uma função cognitiva saudável.

Durante o sono, o cérebro não apenas organiza e armazena as informações adquiridas ao longo do dia, mas também realiza uma espécie de “limpeza”, removendo substâncias prejudiciais que podem prejudicar o desempenho cognitivo. Isso contribui para manter o cérebro em bom estado e otimizar suas capacidades..

“Durante o sono profundo, o organismo realiza processos importantes para a memória e para a remoção de substâncias tóxicas associadas ao Alzheimer, como a beta-amiloide”, explica Nobre. Segundo a médica, a privação de sono ou a fragmentação do descanso noturno podem comprometer esse mecanismo e aumentar o risco de doenças neurodegenerativas.

Alterações comuns no sono dos idosos

Com o envelhecimento, o padrão de sono sofre mudanças naturais, como a diminuição do sono profundo e o aumento dos despertares durante a noite. “Muitos idosos relatam sentir sono mais cedo e acordar muito cedo, o que pode reduzir o tempo total de descanso”, explica a especialista. Essas alterações podem afetar diretamente a qualidade de vida, resultando em fadiga, irritabilidade e dificuldades de concentração.

Além das mudanças naturais do envelhecimento, fatores como dor constante, doenças como depressão e ansiedade, uso de remédios e hábitos inadequados antes de dormir podem comprometer o sono dos idosos. “O uso excessivo de eletrônicos próximo ao horário de ir para a cama e a ingestão de cafeína impactam negativamente o sono na terceira idade”, ressalta Nobre.

A médica destaca que distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva, também podem agravar o risco de doenças como o Alzheimer. “A apneia do sono reduz a oxigenação cerebral e está associada a um maior acúmulo de proteínas ligadas ao Alzheimer”, alerta. Além disso, insônia crônica e outros distúrbios podem acelerar o declínio cognitivo.

Quando procurar ajuda

Nobre recomenda que os idosos e suas famílias fiquem atentos a sinais de alerta, como sonolência excessiva durante o dia, dificuldades recorrentes para adormecer ou manter o sono, roncos fortes e pausas na respiração durante a noite. “Caso esses sintomas sejam frequentes, é fundamental procurar um médico para avaliação e tratamento adequado”, orienta.

Para diagnosticar distúrbios do sono, exames como a polissonografia podem ser indicados. “Esse exame avalia a qualidade do sono e identifica problemas como apneia e movimentos involuntários que podem prejudicar o descanso noturno”, explica a médica.

Como melhorar o sono na terceira idade?

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 45% dos casos de demência poderiam ser prevenidos ou retardados. A explicação para isso, segundo a pasta, está nos fatores e no estilo de vida que podem ser modificados, como baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social.

Por isso, Nobre destaca que cuidar da qualidade do sono é uma estratégia fundamental para preservar a memória e a saúde cerebral na terceira idade, sendo um dos fatores que podem ser ajustados. “Dormir bem é uma maneira de proteger o cérebro e garantir uma melhor qualidade de vida ao longo dos anos”, afirma a especialista.

A médica lista cinco medidas essenciais para melhorar a qualidade do sono dos idosos:

  1. Estabelecer uma rotina: manter horários regulares para dormir e acordar ajuda a regular o relógio biológico;
  2. Criar um ambiente propício: manter o quarto escuro, silencioso e com temperatura agradável favorece o sono profundo;
  3. Evitar estimulantes: reduzir o consumo de cafeína e bebidas alcoólicas, especialmente no período noturno;
  4. Praticar atividades relaxantes: leituras leves, meditação e alongamentos antes de dormir podem ajudar a induzir o sono;
  5. Fazer acompanhamento médico: em caso de dificuldades persistentes, buscar orientação profissional é fundamental.
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