Estudo conclui que adoçante aumenta níveis de insulina em camundongos

SAMUEL FERNANDES
MARSELHA, FRANÇA (FOLHAPRESS)

Certo dia, Yihai Cao, professor do Instituto Karolinska, uma universidade médica na Suécia, estava conversando com um estudante sobre um projeto de pesquisa. O aluno estava confuso sobre qual estudo desenvolver, e Cao notou que ele estava bebendo algo. “O que você está bebendo?”, perguntou, ao que o aluno respondeu: “é um refrigerante zero açúcar”. “Por que você não olha para essa bebida e vê o impacto disso nos vasos sanguíneos?”, sugeriu o professor.

Foi assim que teve início um projeto sobre como adoçantes artificiais podem afetar a saúde vascular. O resultado está em artigo publicado em fevereiro na revista científica Cell Metabolism. Baseado em um modelo pré-clínico com camundongos, o estudo observou que o aspartame, adoçante artificial comum em bebidas zero açúcar, aumentou o nível de insulina nos animais, o que foi associado a uma inflamação nos vasos sanguíneos.

A carreira de Cao é focada no estudo de vasos sanguíneos, por isso o interesse de entender a relação disso com os adoçantes artificiais. De tempos em tempos, essas substâncias são objeto de debate nos meios científico e médico. Em 2023, por exemplo, o aspartame foi considerado possivelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), um braço da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Na pesquisa recém-publicada, os pesquisadores avaliaram o aspartame em diferentes camundongos.

Uma dessas espécies é particularmente suscetível ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, condições diretamente associadas com vasos sanguíneos.

Um dado inicial observado no estudo é que, após a disponibilização de uma dose de 0,15% de aspartame, o nível de insulina subia no organismo dos animais. A insulina é crucial para reduzir o nível de açúcar no sangue, mas o interesse dos pesquisadores era observar se, nesse contexto, esse hormônio poderia impactar de outras formas o organismo dos animais.

Nesse caso, verificou-se o início de inflamações nos vasos sanguíneos dos camundongos. Diante de análises, os autores do estudo concluíram que as células endoteliais, que se localizam na camada interna dos vasos e funcionam como sensores, respondiam ao alto nível de insulina após o consumo do aspartame. Essa resposta envolvia a liberação de uma molécula chamada citocina inflamatória.

Parte dessas citocinas ficam presas no vaso sanguíneo e podem prender outras células que passam ali. Isso leva a um acúmulo de substâncias na parede do vaso, gerando complicações. A partir disso, outros problemas foram observados nos vasos dos camundongos, como o acúmulo de lipídios.

Cao reitera que todo esse mecanismo não foi observado em pessoas, já que a pesquisa seguiu um modelo somente com animais. Ele afirma, no entanto, que “um mecanismo semelhante pode existir em humanos”. A razão de acreditar nisso, ele diz, é que o estudo recém-publicado também contou com dados e desfechos semelhantes em macacos, que apresentam um organismo mais próximo ao dos seres humanos.

O professor especializado em vasos sanguíneos também afirma que adoçantes artificiais podem impactar a saúde humana de diferentes formas, não somente no que diz respeito à saúde cardiovascular.

“Eu acredito que o consumo de adoçantes artificiais pode ter um amplo impacto na saúde humana. Então, como uma grande população ao redor do globo consome esse tipo de produto, nós temos que saber seus impactos na nossa saúde e no nosso corpo. Estamos começando a aprender algo”, afirma, indicando já ter planos para outros estudos sobre o tema.

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