Feira de telefonia vira palco de visões conflitantes sobre futuro da IA

GUSTAVO SOARES
BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS)

O palco principal da feira de tecnologia MWC (Mobile World Congress), em Barcelona, recebeu dois palestrantes na segunda-feira (3) com visões opostas sobre os impactos da inteligência artificial no futuro da humanidade.

De um lado, o futurologista e pesquisador Ray Kurzweil defendeu o potencial da tecnologia de se fundir com a vida humana e transformá-la para melhor. De outro, o escritor e professor da Universidade de Nova York Scott Galloway destacou os perigos dos algoritmos.

Kurzweil argumentou que a IA vai potencializar descobertas genéticas e acelerar avanços médicos que devem promover um aumento substancial na longevidade humana. Em outra abordagem, Galloway criticou líderes de big techs que não se impõem ao falar dos riscos da tecnologia e do novo mandato de Donald Trump para a democracia.

“Esses avanços exponenciais nos levarão à velocidade de escape da longevidade. Hoje, a cada ano que você vive a sua expectativa de vida é reduzida em um ano, mas, em 2032, para cada ano vivido você o terá de volta devido ao avanço científico”, disse Kurzweil em transmissão a distância.

Ele também afirmou que a popularização da direção autônoma nos veículos fará o número de acidentes se aproximar de zero e que a otimização promovida pela IA fará com que a energia solar seja a matriz dominante do planeta nas próximas décadas.

Apesar de reconhecer riscos como alucinações, ameaças técnicas e potenciais abusos, ele disse que os modelos estão mais confiáveis do que eram há 2 anos.

“Se olharmos para o passado, as pessoas sempre se preocuparam com as implicações negativas de novas descobertas, e descobrimos que o resultado é muito mais positivo”, disse.

Já Scott Galloway afirmou que a ascensão da IA deve afetar principalmente homens jovens cada vez mais propensos à solidão e radicalização.

“As empresas mais inteligentes do mundo têm a missão de produzir uma espécie de pessoas assexuadas e associais que não fazem nada além de encarar seus telefones, porque se elas fizerem isso, estarão gerando lucro”, disse.

O escritor best-seller disse que empresas com algoritmos poderosos descobriram que a ferramenta definitiva de branding é a raiva, e não mais a conexão humana.

“Companhias mais endinheiradas, com o capital humano mais brilhante do mundo, descobriram, ou seus algoritmos descobriram, que a chave para o valor dos acionistas, a chave para o poder, é nos enfurecer e nos dividir”, disse, ressaltando que 40% dos americanos não conversam com seus vizinhos por conta de discordâncias políticas.

Ele também pediu para que CEOs proeminentes como Tim Cook da Apple, Satya Nadella da Microsoft e Sam Altman da OpenAI se impusessem e deixassem de se preocupar com a IA e a democracia usando “tons sussurrantes”.

Galloway ainda os criticou pela aproximação do presidente Donald Trump após sua eleição em vez de se manifestarem em defesa do sistema que lhes permitiu construir suas fortunas e tecnologias.

“O efeito dominó de covardia entre os super-ricos é simplesmente decepcionante e antiamericano”, disse.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.