Rosamaria se destaca em projeto de expansão da liga japonesa de vôlei

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LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Ter duas estrangeiras como maiores pontuadoras da liga japonesa feminina de vôlei não chega a ser motivo de orgulho para o Japão, mas está alinhado com as ambições do país para o esporte.

A meta é ousada. Os organizadores do torneio, oficialmente chamado de SV.League, querem torná-lo o mais competitivo da modalidade no mundo até 2030.

A ideia é aumentar a presença de grandes atletas internacionais, interessadas em repetir os passos da italiana Silvia Nwakalor e da brasileira Rosamaria Montibeller, destaques da atual temporada.

Com 793 pontos, a europeia é a maior pontuadora da atual edição, jogando pelo Toray Arrows, enquanto a catarinense, com 727, atuando pelo Denso, é a segunda do ranking.

A temporada 2024/25 marca o início de uma nova era nas quadras japonesas, com regras mais flexíveis para estrangeiros, quebrando um paradigma no país em prol do desenvolvimento da modalidade.

“Em qualquer liga, quanto mais diversidade de estilos de jogo, mais é preciso você se adaptar à característica de cada jogadora, criada e educada em uma escola diferente de voleibol. Essa diversidade de nacionalidades dentro do mesmo campeonato traz esse aprendizado para todas as atletas”, disse Rosamaria à Folha de S.Paulo.

Prata com o Brasil nos Jogos de Tóquio-2020, realizados em 2021 por causa da pandemia de Covid-19, e bronze nos Jogos de Paris-2024, a oposto está em seu segundo ano no país asiático.

Sua decisão de trocar a Itália pelo Japão teve como uma das motivações a busca por uma evolução técnica. Rosa considera as japonesas muito habilidosas: “Elas colocam a bola onde querem”.

A consciência tática para atacar e defender é outra característica que foi buscar. “Elas têm uma visão de jogo diferenciada.”

Houve um tempo em que o Japão era reconhecido como uma das maiores potências do voleibol mundial, especialmente a partir da década de 1960, quando sediou os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, e conseguiu formar seleções competitivas tanto no masculino como no feminino.

Terceira colocada no quadro geral de medalhas daquela edição, a nação asiática conquistou dois pódios com o vôlei, o bronze dos homens e o ouro das mulheres.

Nas décadas seguintes, porém, o Japão freou o desenvolvimento de sua liga doméstica ao optar por criar uma espécie de reserva de mercado para seus atletas e limitar a presença de estrangeiros.

Foi nesse cenário que a Daido Life SV.League, que organiza os campeonatos masculinos e femininos de vôlei no país, lançou o projeto descrito como “renascimento”.

Com a reestruturação, a principal mudança foi a abertura para estrangeiros. Antes, cada clube podia ter somente um jogador do exterior em seu elenco. Agora, não há mais limites de inscrições, e o time pode ter até dois atletas de fora do Japão em quadra ao mesmo tempo, com uma vaga extra para asiáticos não japoneses.

Considerando as ligas feminina e masculina, há jogadores de 25 países, incluindo o Japão.

Na temporada 2024/25, em curso desde outubro, a disputa dos homens reúne dez times, e a competição das mulheres tem 14.

O processo de “renascimento” envolve também uma tentativa de mudança na relação com as empresas que patrocinam e controlam as equipes. A maioria das atletas tem contrato com essas companhias, nas quais não apenas jogam vôlei.

“É como se fosse um contrato parecido com a CLT. Além de jogar, elas fazem serviços em nome da empresa”, afirmou Rosamaria, que é exceção. “Eu tenho contrato de atleta profissional independente. Já as outras meninas são funcionárias da empresa que controla o time.”

A meta da SV.League é que o modelo de Rosamaria seja a regra, não a exceção, até 2027. Assim, os clubes teriam melhores condições para atrair estrelas do esporte.

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