Caso de sarampo no RJ acende alerta para a presença do vírus no país, diz especialista

PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Uma infecção por sarampo detectada em um menino de seis anos, em Itaboraí, no Rio de Janeiro, acende um alerta para a presença do vírus no Brasil. É o que diz Mônica Levi, médica pediatra presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações).

A criança adoeceu em outubro de 2024. O episódio só foi divulgado nesta semana. O último registro de sarampo autóctone, ou seja, com transmissão no Brasil, havia ocorrido um junho de 2022, no Amapá.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Rio de Janeiro, a origem da doença é desconhecida. O paciente não tinha histórico de viagem ao exterior ou de contato com fontes de infecção. Além disso, estava com o esquema vacinal completo. O menino está bem.

“Duas doses oferecem uma proteção muito elevada, em torno de 97%, 98%, mas sempre existe um escape. Em vacinas, em medicina, nunca temos 100%. Isso foi uma falha vacinal. Se essa criança de fato recebeu duas doses, não era esperado adoecer, mas ela está dentro dos 2% que pode acontecer nessa situação”, explica Levi.

Assim que o caso foi notificado, a pasta adotou medidas de controle, o que incluiu bloqueio vacinal e monitoramento de contatos. Até o momento, não houve registro de outros casos suspeitos relacionados ao evento de outubro de 2024, bem como nenhuma nova confirmação no estado.

As equipes de Vigilância Epidemiológica, Atenção Primária e de Imunização da Secretaria da Saúde realizaram uma visita técnica ao município de Itaboraí para acompanhar as ações junto aos técnicos locais.

Em 2024, o estado do Rio de Janeiro notificou 207 casos suspeitos de sarampo, dos quais 205 foram descartados, um foi confirmado e um permanece em investigação. Já em 2025, até o momento, foram notificados 13 casos suspeitos, sendo oito descartados e cinco ainda em análise.

Em novembro do ano passado, após cinco anos, o Brasil foi recertificado pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) pela eliminação de sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita.

Foi a segunda vez que o Brasil recebeu o certificado por erradicação do sarampo. O primeiro foi concedido em 2016, mas perdido em 2018 após fatores como fluxo migratório de países vizinhos, reintrodução do vírus no Brasil e novos surtos da doença.

“O caso dessa criança acende um sinal de alerta que o vírus está circulando. Se ela pegou, tem vírus aqui no Brasil. Isso não nos tira da linha de eliminação, de país livre da circulação do sarampo. Para perder o certificado, tem que ter a transmissão ativa no país, perder o controle do bloqueio dos contatantes daquele caso e a doença se espalhar”, afirma Levi.

Nos Estados Unidos, uma criança morreu por sarampo no oeste do estado do Texas, na quarta-feira (26), segundo autoridades locais de saúde. O óbito é o primeiro de um surto que está se espalhando na região e no estado do Novo México.

A criança de idade escolar não estava vacinada, de acordo com autoridades de Lubbock (Texas) e do Departamento de Serviços de Saúde do Estado.

Quem pode ser vacinado?

O esquema vacinal recomendado pelo Ministério da Saúde prevê duas doses: a primeira aos 12 meses de idade, com a vacina Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola), e a segunda aos 15 meses, com a Tetraviral (que inclui varicela). A cobertura almejada é de pelo menos 95% da população.

Pessoas de 1 a 29 anos devem ter duas doses da Tríplice Viral, enquanto adultos de 30 a 59 anos devem ter pelo menos uma. Profissionais de saúde precisam comprovar duas doses independentemente da idade. Em situações de surto, crianças de 6 a 11 meses podem receber a dose zero.

SARAMPO

Doença infecciosa grave, causada por um vírus, que pode levar à morte. Sua transmissão ocorre quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outras pessoas. Não há tratamento específico contra a doença.

Infectados desenvolvem manchas vermelhas no corpo e febre alta (acima de 38,5°) acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas:

Tosse seca Irritação nos olhos Nariz escorrendo ou entupido Mal-estar intenso; Em torno de três a cinco dias é comum aparecer manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo restante do corpo. Após o aparecimento das manchas, a persistência da febre é um sinal de alerta e pode indicar gravidade, principalmente em crianças menores de cinco anos.

De acordo com a médica, o doente pode transmitir para até 16 pessoas. Bebês e imunocomprometidos têm maior risco de evolução para complicação e morte por sarampo, principalmente os desnutridos.

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