Lula evita provocar Trump e defende sistema voluntário para comércio em moedas locais no Brics

GUILHERME BOTACINI, MARIANA BRASIL E RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quarta-feira (26), aumentar as opções de pagamento em moedas locais entre países do Brics para reduzir “vulnerabilidades e custos” -numa linguagem pensada para evitar um provocação direta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“A atual escalada protecionista na área de comércio e investimentos reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves à nossa integração econômica”, declarou Lula, durante reunião dos negociadores (chamados sherpas) do Brics (bloco atualmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia).

“Aumentar as opções de pagamento significa reduzir vulnerabilidades e custos. A presidência brasileira está comprometida com o desenvolvimento de plataformas de pagamento complementares, voluntárias, acessíveis, transparentes e seguras”, disse.

O estudo de medidas que reduzam a dependência ao dólar no comércio internacional é uma demanda histórica de países do Brics, inclusive do Brasil. A avaliação é que a hegemonia da moeda americana deixa países vulneráveis a sanções unilaterais.

No entanto, existe forte apreensão neste ano -em que a presidência do bloco está com o Brasil- devido a ameaças feitas por Trump em suas redes sociais.

O republicano disse neste mês que as nações do Brics poderiam enfrentar tarifas de 100% dos EUA “se quiserem brincar com o dólar” -ameaça que já havia feito em novembro do ano passado.

“Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”, escreveu Trump em novembro.

Diante disso, o tom adotado por Lula foi mais tímido do que em encontros anteriores do Brics, embora ele não tenha deixado de mencionar a agenda. Nesse esforço, o petista, por exemplo, destacou que qualquer plataforma alternativa seria voluntária.

Em 2023, durante cúpula de líderes do Brics na África do Sul, Lula disse que uma moeda comum para transações comerciais entre os países do bloco reduziria as vulnerabilidades.

“A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimentos entre os membros do Brics aumenta as nossas opções de pagamento e reduz as nossas vulnerabilidades”, disse Lula.

De acordo com interlocutores, discussões sobre uma moeda comum para a aliança hoje estão fora da agenda, diante da complexidade do tema, de divergências internas e da possível confrontação com os EUA.

O que Lula defende, dizem esses interlocutores, é a exploração de mecanismos que permitam maior utilização de moedas locais no comércio intra-Brics. Diplomatas usam como exemplo o sistema desenvolvido com a Argentina que permite a importadores e exportadores a realização de pagamentos e recebimentos em real e peso argentino.

Qualquer resultado prático sobre esse tema no âmbito do Brics, destacam pessoas com conhecimento do tema, não é algo para o curto prazo. Existe um diagnóstico geral de que é preciso discutir medidas de facilitação do comércio entre países do Brics, mas ainda não há definição sobre o melhor modelo a ser adotado.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.