Apenas 646 municípios do país têm mais da metade das crianças de 0 a 3 anos em creche

ISABELA PALHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 646 conseguiram garantir que mais da metade das crianças de 0 a 3 anos estivessem matriculadas na creche em 2022. Em 325 cidades, esse indicador estava ainda abaixo de 10% incluindo 31 nas quais nenhuma criança dessa idade frequentava escola ou creche.

O Brasil tinha como meta ter 50% da população dessa faixa etária na educação infantil até 2024. Apesar de ter avançado nos últimos 22 anos, o país segue longe de alcançar a marca.

Segundo os dados do Censo, divulgados na manhã desta quarta (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país chegou, em 2022, conseguindo atender apenas 33,9% dessa população. Em 2010, 23,5% das crianças eram atendidas. E em 2000, apenas 9,4%.

O relatório do Censo destaca ainda a persistência das desigualdades regionais, já que no Norte do país apenas 16,6% das crianças dessa idade estão na creche. No Nordeste e Centro-Oeste, 28,7% e 29%, respectivamente. Já no Sul e Sudeste, a parcela chega a 41% e 41,5%.

São Paulo foi a unidade da Federação que registrou o maior atendimento dessa faixa etária, com 49,2%.

Já o Amapá, foi o que menos conseguiu atender, com apenas 12% das crianças matriculadas em creche.

Os dados revelam ainda como a desigualdade racial se manifesta ainda no início da infância, já que crianças brancas e amarelas são proporcionalmente mais atendidas – 37,3% e 42% delas estão matriculadas em creche, respectivamente.

Entre as crianças pretas, 36,4% estão matriculadas. Essa taxa cai para 30,7% das pardas e 13,5% das indígenas.

Em agosto do ano passado, um levantamento do MEC (Ministério da Educação) identificou que o Brasil tem 632 mil crianças fora da escola por falta de vagas em creche. Há fila por vagas em 44% dos municípios brasileiros.

Ainda segundo a pesquisa, feita pelo Gaepe-Brasil (Gabinete de Articulação para a Efetividade da Educação), 1.972 municípios não possuem plano de expansão de vagas. Desses, 21% afirmam não ter o planejamento por entenderem não haver necessidade.

A falta de vagas em creche é um dos grandes desafios da educação brasileira. Pesquisas internacionais e nacionais têm reforçado a importância da educação na primeira infância para o desenvolvimento educacional e sucesso na vida adulta.

Pela lei do PNE (Plano Nacional de Educação), o Brasil deveria chegar ao fim de 2024 com 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche —dados do governo federal apontam que esse percentual chegou a 37,3% no ano passado. Mesmo sem ter alcançado o objetivo, o presidente Lula (PT) pretende ampliar a meta para 60% no próximo plano, com validade para os próximos dez anos.


UNIVERSALIZAÇÃO DA PRÉ-ESCOLA


Os dados do Censo mostram ainda que o país conseguiu avançar na oferta de vagas na pré-escola, mas ainda está longe de universalizar essa etapa. Em 2022, 86,7% das crianças de 4 a 5 anos frequentavam a escola em 2000, eram apenas 51,4%.

Para essa etapa escolar, 372 municípios brasileiros conseguiram ter 100% das crianças atendidas, enquanto 12 cidades ainda tinham uma cobertura de pré-escola abaixo de 50%.

Pesquisas nacionais e internacionais apontam que crianças que frequentam a educação infantil (dos 0 aos 5 anos) têm mais chances de se desenvolverem de forma plena e, consequentemente, de ter melhores resultados educacionais no restante da trajetória escolas e depois na vida profissional.

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