Concessão da Rodoviária do Plano Piloto divide opiniões

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Permissionários, ambulantes e passageiros dividem opiniões sobre a concessão da Rodoviária do Plano Piloto. A transferência operacional do terminal para a iniciativa privada foi iniciada no sábado (22) pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Com a concessão, o Consórcio Catedral, liderado pela RZK Empreendimentos Imobiliários Ltda, poderá gerir o local por 20 anos. 

Ao Jornal de Brasília, Rubens França, proprietário da loja Aritana Novidades, salientou que atualmente os permissionários já pagam duas taxas para poderem ocupar uma loja na rodoviária e que a situação até o momento está incerta em relação a novos valores. “Ninguém sabe como será daqui para frente. Já pagamos duas taxas, de rateio e de ocupação. Provavelmente teremos que pagar aluguel e talvez uma taxa tipo de condomínio, mas ainda não temos valores sobre isso”, comentou.

O lojista acredita que o aumento da taxa é certo, mas que se for um valor viável pretende continuar com a loja na rodoviária. “Infelizmente chegou nesse ponto de privatizar, mas se o governo quisesse ele poderia ter arrumado a casa [rodoviária] sem a concessão. Estamos aqui há 41 anos, se o aluguel aumentar muito teremos que repassar para o cliente, mas não gostaríamos de fazer isso. A nossa intenção é permanecer [na rodoviária]”, frisou França.

Em relação aos benefícios da concessão, o comerciante acredita que somente com o tempo poderá ser visto. “Promessas foram feitas e o usuário da rodoviária merece mais comodidade, respeito, dignidade e segurança. A rodoviária estava feia e desorganizada, então esperamos que nesse sentido pelo menos a concessão melhore”, completou França. 

O proprietário da loja Boa Viagem Souvenir, Natal do Nascimento, teme que a concessão afete o preço das mercadorias, visto que com taxas mais caras para os permissionários os valores terão que ser repassados para o consumidor. “Com a concessão as coisas sobem de preço. Não é bom para quem passa por aqui e nem para o lojista. Temo que fique difícil para a gente vender, se tiver que aumentar o preço dos produtos”, afirmou.

“Pela parte da segurança é bom porque tem muito ladrão, morador de rua e usuário de drogas. O fato de ter limpeza e tudo bonito é 100% também. Mas dizer que tudo será bom, não vai”, ressaltou Nascimento. O permissionário também questiona a questão dos estacionamentos nas redondezas da rodoviária que passará a ser rotativo (pago). “Tudo será pago, e com isso as pessoas somem. Também não sabemos ainda se os permissionários terão direito a uma vaga de estacionamento”, concluiu. 

Além dos permissionários, a concessão também afeta os ambulantes que circulam pela rodoviária vendendo produtos. Ao JBr, o ambulante Roberto Jorge contou que comercializa no terminal há mais de 20 anos e que sabe que não poderá mais ficar no local. “Até o momento não sabemos para onde vamos, o governo já está conversando com os ambulantes para tentar uma realocação. Mas sabemos que aqui [rodoviária] não vamos poder trabalhar mais. Onde colocar a gente vamos trabalhar”, disse. 

Mesmo com a retirada dos ambulantes, Jorge vê a concessão como positiva. “Acredito que terá melhorias nas escadas, elevadores, para todos que circulam por aqui”, afirmou. A expectativa do vendedor ambulante é que ele, junto com os demais, sejam realocados para que possam continuar comercializando as suas mercadorias. 

Quem circula na rodoviária diariamente em busca de um transporte público também vê pontos positivos e negativos com a concessão. A estudante Luana Marina Queiroz, 24 anos, teme que as tarifas de ônibus venham a subir com a gestão do setor privado. “Temo que possa ocorrer um aumento nas tarifas de ônibus, tendo reajuste mais vezes e maior. Teoricamente as pessoas pensam que privatizar será algo totalmente positivo porque a rede privada estará cuidando mas na prática não é isso que ocorre. A companhia de energia foi privatizada e nem por isso melhorou grandes coisas, o que eu vejo é que a energia ficou muito cara e temo que ocorra o mesmo na rodoviária”, afirmou.

A aposentada Ana Maria Fortes, 62, vê as melhorias de segurança, limpeza e organização como algo positivo, mas no ponto de vista dela o próprio governo poderia fazer isso sem a concessão para o setor privado. “Penso que não havia necessidade de se terceirizar já que o governo local é uma máquina enorme e tem condições de fazer o que o setor privado vai fazer. O que estão prevendo de melhorias é muito bom, mas acho que o próprio governo poderia fazer”, comentou. 

A transferência operacional da Rodoviária do Plano Piloto para o Consórcio Catedral começou no sábado (22), e nos próximos 90 dias a gestão do terminal será compartilhada entre a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) e o consórcio, que trabalharão juntos no planejamento das ações para a transferência completa da administração do local ao consórcio empresarial.

A reportagem, o diretor da RZK Concessões, Enrico Capecci, salientou que o Consórcio já iniciou os trabalhos de melhorias na rodoviária. “Já implementamos o Centro de Controle Operacional (CCO) que trará maior segurança aos usuários e demos início a operação de tapa buracos o que colabora com a manutenção dos acessos. Além disso, iniciamos o cadastramento dos ambulantes com a Unidade Móvel do Sebrae, gerando oportunidade para aqueles que desejem buscar um processo de formalização e capacitação para operar comercialmente na Rodoviária do Plano Piloto”, explicou.

Em relação aos permissionários, Capecci afirmou que o diálogo está sendo mantido. “O canal de diálogo vem sendo estabelecido ao longo dos últimos meses e assim pretendemos continuar. O rol de prioridades previsto em contrato será mantido”, frisou. “Sobre os ambulantes, já foram tomadas no que diz respeito à formalização e capacitação com a parceria junto ao SEBRAE. Em breve teremos a aprovação dos projetos para avaliarmos novas oportunidades de espaços que serão comercializados, gerando assim mais oportunidades de operações comerciais no terminal”, completou. 

Saiba mais

  • A área a ser concedida abrange todo o complexo rodoviário. Também estão incluídos os estacionamentos superiores e inferiores próximos ao Conjunto Nacional e ao Conic, no Setor de Diversões, que passarão a ser rotativos;
  • O Consórcio Catedral vai administrar o local pelos próximos 20 anos, período em que prevê investir R$120 milhões no local;
  • O GDF assegura que com a concessão não haverá aumento da tarifa paga pelo cidadão no sistema de transporte público;
  • Os permissionários terão preferência de permanecer com suas lojas e negócios;
  • O trânsito das pessoas pelo local também permanecerá inalterado, sem qualquer tipo de cercamento;
  • Obras de recuperação devem ser executadas e concluídas em até 51 meses (considerando os 90 dias de transferência operacional);
  • O processo de modernização da rodoviária terá prazo de até 72 meses para ser finalizado;
    • Requalificação das edificações existentes será realizada em até 48 meses;
    • Implantação dos sistemas operacionais devem ser implantados e entregues em até 48 meses;
    •  Implementação imediata dos serviços de operação, manutenção e conservação assim que a gestão for assumida, garantindo atendimento contínuo aos usuários.
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