Às vésperas de eleição histórica, interferências de Musk e Rússia preocupam Alemanha

files us politics musk extremism

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

Na véspera da eleição mais importante em décadas para a Alemanha, autoridades do país lidam com interferências de agentes externos. O X conseguiu afastar um juiz de ação movida por ativistas contra a rede social, enquanto o governo federal anunciou nesta sexta-feira (21) ter detectado novos ataques híbridos promovidos pela Rússia.

O país vai às urnas no domingo (23) para escolher um novo Parlamento, e as pesquisas de opinião indicam um resultado histórico para a extrema direita. A AfD (Alternativa para Alemanha), que possui integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo, caminha para fazer a segunda maior bancada no Bundestag, o Parlamento alemão.

A ascensão populista vem sendo alimentada por interferências vindas do exterior desde que o pleito, programado para setembro, foi antecipado por um voto de confiança. A coalizão de governo montada por Olaf Scholz ruiu no fim do ano passado, precipitando a campanha eleitoral, marcada por episódios de violência relacionados à crise imigratória, palpites de Elon Musk e do vice-presidente americano, J. D. Vance, assim como ondas de desinformação patrocinadas pelo Kremlin.

Segundo a agência de notícias Reuters, o X obteve vitória em ação que tramita na Justiça alemã. Duas ONGs pedem que a rede social de Musk forneça dados em tempo real para que seus analistas consigam monitorar manipulação e desinformação no dia de votação. Liminar obrigando o acesso havia sido concedida por um tribunal regional no começo do mês.

Nesta semana, porém, advogados do X conseguiram afastar um dos três juízes designados para apreciar o caso. Ele teria demonstrado “engajamento positivo” com os ativistas em rede social. A decisão agora caberá aos outros dois magistrados, em audiência marcada para o dia 27. As ONGs, portanto, não terão acesso aos dados, mas o julgamento pode criar precedente importante contra o X.

A disputa judicial reflete uma das perguntas ainda não respondidas da eleição: o quanto o envolvimento de Musk na campanha de Alice Weidel, a candidata a primeira-ministra da AfD, é turbinado pelo algoritmo da rede social. O bilionário se manifestou diversas vezes em favor da líder da legenda extremista, entrevistou Weidel em live no X e ainda participou de evento de sua campanha.

Vários políticos alemães, como Scholz e seu ministro da Economia, Robert Habeck, ambos também candidatos a premiê, percebem as ações como interferência, mesmo que não haja impulsionamento irregular. Só o peso de mais de 200 milhões de seguidores já seria um fator.

Por outro lado, o X anunciou que vai processar o governo alemão, afirmando que há muitos pedidos de informações sobre seus usuários. A rede social acusa as autoridades de promoverem uma ação deliberada contra a privacidade de dados e a liberdade de expressão.

O X, ex-Twitter, era uma das plataformas mais acessíveis para coleta e análise de dados por especialistas e estudiosos, mas derrubou a prática desde que Musk assumiu o controle.

Também nesta sexta, um porta-voz do ministério do Interior afirmou que foram detectados nesta semana dois ataques de desinformação patrocinados pela Rússia. Em Leipzig, vídeos falsos mostravam cédulas de votação sem o nome da AfD. Em Hamburgo, imagens mostravam votos dados para a legenda extremista sendo triturados. É possível votar pelo correio na Alemanha, daí o argumento para desinformação.

Ao menos cem sites falsos e perfis criados por inteligência artificial interferem na atual campanha eleitoral, segundo investigações da imprensa alemã. Parte da campanha de desinformação repete esquema já empregado nos EUA, no ano passado, quando Donald Trump foi reeleito à Casa Branca.

Indagado sobre o X, o porta-voz do ministério afirmou que nada relacionado à rede social de Musk foi registrado até o momento pelo governo alemão.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.