Senado italiano avalia Constitucionalidade de taxa extra no processo de cidadania

O Senado da Itália está analisando uma petição que questiona a constitucionalidade do aumento dos custos no processo de reconhecimento da cidadania italiana por descendência. O pedido foi formalizado por um grupo internacional composto pelos brasileiros Rodrigo Salgado Martins e Pierre Lourenço, o espanhol Pedro Beltran Gamir e o advogado italiano Marco Pepe. A petição sustenta que a elevação dos custos administrativos e judiciais, introduzida pela Lei Orçamentária de 2025, sancionada pelo presidente Sergio Mattarella, restringe o acesso à cidadania e compromete o direito à justiça, principalmente para famílias de baixa renda.

close up of an italian passport held by a traveler with a map beside it.
Ação judicial alega que aumento no custo de reconhecimento fere princípios do livre acesso à justiça

A mudança que gerou controvérsia está no Artigo 106 da nova legislação, que estabeleceu uma taxa fixa de €600 para cada requerente em processos judiciais de cidadania. Anteriormente, essa cobrança era aplicada de forma coletiva, o que permitia a grupos familiares dividirem os custos. Com a nova regra, um pedido que antes custava €550 para dez pessoas agora ultrapassa os €6.000, um aumento de até dez vezes no valor total do processo. Além disso, despesas adicionais com certidões e outros documentos também foram reajustadas.

Especialistas da área jurídica alegam que a nova cobrança pode inviabilizar o reconhecimento da cidadania para muitas pessoas. “O aumento de custos no processo de cidadania atenta contra o princípio do livre acesso à justiça, especialmente para famílias de menor poder aquisitivo. A cidadania não pode ser tratada como um privilégio acessível apenas para aqueles que podem arcar com custos tão elevados”, afirmou Matheus Reis, CEO da io.Gringo, empresa especializada no tema.

dupla cidadania
Ação judicial alega que aumento no custo de reconhecimento fere princípios do livre acesso à justiça

A discussão já avançou para o Tribunal Constitucional da Itália, após questionamentos feitos pelo Tribunal de Bolonha em novembro de 2024. O caso ganhou reforço com o apoio da AGIS (Associação de Juristas Iure Sanguinis) e da AUCI (Advogados Unidos pela Cidadania Italiana), que trabalham para garantir que ítalo-descendentes não sejam prejudicados por barreiras econômicas no processo de cidadania.

Para advogados envolvidos no caso, a legislação italiana é clara ao estabelecer o direito à cidadania por descendência, sem exigências adicionais de vínculo recente com o país. “O critério é sanguíneo, e não de residência ou comprovação de laços recentes com a Itália. Mudanças dessa magnitude não cabem ao Judiciário, mas sim ao Legislativo”, declarou um dos representantes da petição.

A decisão do Senado pode impactar milhares de ítalo-descendentes ao redor do mundo. Se a Corte Constitucional considerar a taxa inconstitucional, o governo italiano poderá ser forçado a rever a legislação e adotar um modelo mais acessível. A expectativa é de que o parecer final seja divulgado ainda em 2025.

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