Presidente do Equador quer permitir forças estrangeiras em combate ao narcotráfico

MAYARA PAIXÃO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

A dois meses de um acirrado segundo turno no qual tenta a reeleição, Daniel Noboa propõe no Equador o ingresso de forças de segurança de outros países para ajudar no combate ao narcotráfico.

Seu governo afirma que forças especiais estrangeiras “apoiariam e potenciariam as ações das Forças Armadas”. “As máfias e o narcotráfico operam em redes internacionais, de modo que é preciso atuar juntos para combatê-los de forma mais efetiva”, disse em comunicado.

No mesmo texto, a equipe chefiada pelo presidente de centro-direita pede que o Legislativo unicameral do país debata o tema e aprove uma reforma da Constituição para permitir o estabelecimento de bases militares estrangeiras no território nacional.

São propostas incomuns, notadamente a primeira, da atuação de forças estrangeiras. Esse costuma ser um recurso extremo em países com níveis galopantes de insegurança e tende a ser abordado no âmbito das Nações Unidas, que aprovam, por exemplo, missões de paz.

Essas ações demandam amplo debate internacional e, principalmente, o estabelecimento das chamadas regras de engajamento, ou seja, as regras da atuação dos militares estrangeiros, de qual o limite de suas ações e de como seriam punidos no caso de irregularidades.

Hoje o Haiti é um país nas Américas que conta com a presença de forças estrangeiras para tentar ajudar a Polícia Nacional Haitiana, em colapso. Em sua maioria são policiais do Quênia que atuam na capital, Porto Príncipe, após a ONU aprovar em 2023 uma espécie de missão “não onusiana”, ou seja, uma missão multinacional, mas que não é uma missão de paz comandada pela organização.

Noboa não esclareceu quais seriam os potenciais países que enviariam seus agentes. Disse apenas que seriam nações “aliadas” e que instruiu o seu Ministério das Relações Exteriores a “utilizar canais diplomáticos correspondentes para realizar aproximações e coordenar esforços e acordos de cooperação com esse objetivo”.

Seu curto mandato não foi marcado por alianças internacionais expressivas. Recentemente, no entanto, ele se aproximou dos Estados Unidos, após a eleição de Donald Trump. Noboa foi um dos poucos líderes que participou da cerimônia de posse do republicano, junto com Javier Milei (Argentina), em Washington.

O Equador vive uma grave crise de segurança ao menos desde 2022, fruto do avanço do narcotráfico, que usa o país para escoar a cocaína produzida nas nações vizinhas da América do Sul. A taxa de homicídios intencionais quintuplicou em apenas três anos, de 7,8 crimes por 100 mil habitantes em 2020 para 46,2 em 2023.

No primeiro turno realizado no último dia 9, Noboa viu um cenário bem distinto do que esperava. Ele conseguiu 44,1% dos votos, contra 43,9% da opositora de esquerda Luisa González. Sua expectativa, refletida em pesquisas de intenção de voto, era de que a diferença entre os dois fosse maior. Eles vão a segundo turno em 13 de abril.

Herdeiro bilionário, Noboa foi presidente por apenas um ano e meio, cumprindo um mandato-tampão para o qual foi eleito em 2023 em uma disputa idêntica à de agora, com Luisa González.

Suas ações no governo foram questionadas como aquém do necessário na área de segurança pública, já que a diminuição dos homicídios foi tímida, e como de viés autoritário, ao tentar tirar sua vice do cargo e ignorar violações de direitos humanos cometidas por militares nas ruas

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