Cirurgião que operou corretora de imóveis presta depoimento após morte da vítima


Veruska Rendall, de 54 anos, fez três procedimentos estéticos de uma só vez em uma clínica de Salvador. Polícia apura se unidade tinha capacidade para uma operação desse porte. Cirurgião plástico que operou corretora presta depoimento em Salvador
O cirurgião responsável pelas cirurgias que antecederam a morte da corretora de imóveis Veruska Rendall, em Salvador, foi ouvido pela Polícia Civil (PC) pela primeira vez, nesta quarta-feira (19), um dia após o óbito da paciente.
A mulher de 54 anos fez procedimentos estéticos no abdômen, mama e nádegas. A cirurgia aconteceu na segunda-feira (17) e durou cerca de 15h. A corretora morreu na madrugada de terça (18).
O depoimento do cirurgião aconteceu na 7ª Delegacia Territorial (DT), no bairro do Rio Vermelho, onde o caso foi registrado. Marcos Paiva estava acompanhado de um advogado e permaneceu no local por cerca de 2h. Ele não falou com a imprensa.
Cirurgião que operou corretora de imóveis presta depoimento pela primeira vez após morte da vítima
Reprodução/TV Bahia
Além do homem, outras testemunhas deverão ser ouvidas nos próximos dias. Entre elas, o médico anestesista que acompanhou os procedimentos estéticos e técnica de enfermagem que cuidou da paciente no pós-operatório.
A polícia apura se a clínica tinha capacidade para fazer a cirurgia considerada de grande risco, enquanto aguarda os laudos periciais que devem definir a causa da morte de Veruska.
“A clínica estaria adequada para cirurgias de pequeno e médio porte, mas não para uma cirurgia grande, no meu entender. Nós estamos buscando saber se com o equipamento que tinha na clínica poderia fazer uma cirurgia desse porte”, afirmou o delegado Nilton Borba, responsável pela investigação.
Corretora de imóveis morre após passar por três cirurgias estéticas em cerca de 15 horas
Reprodução/Redes Sociais
Ponto destacado pelo irmão da vítima, Jorge Carvalho Júnior, em entrevista à TV Bahia. No dia da morte da corretora de imóveis, ele conseguiu acesso à clínica para ver o corpo da irmã, antes de ser levado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT), e conversou com o cirurgião.
“Eu vi que era um procedimento grande. Aquilo me assustou. E eu perguntando para ele e ele me confirmou que eram os três procedimentos”, disse.
A família aponta ainda o fato da vítima ser paciente renal como um outro desafio para a realização dos procedimentos.
“Ela assumiu um risco muito grande. Minha irmã não tinha um rim. Dentro desses questionamentos, é permitido numa paciente renal uma cirurgia deste tamanho?”, afirmou o irmão da paciente.
Família não sabia
Mulher tem parada cardíaca e morre após fazer três cirurgias plásticas em Salvador
Reprodução/TV Bahia
A clínica responsável pela cirurgia fica localizada no bairro de Ondina, em Salvador. Segundo a família da corretora de imóveis Veruska Rendall, os procedimentos começaram às 9h de segunda-feira e foram concluídas 0h de terça.
Apenas o marido de Veruska sabia que ela faria os procedimentos. De acordo com a irmã da mulher, Soraya Rendall, a família não foi informada a pedido da própria mulher.
O local não tinha sala de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas possuía equipamentos de ressuscitação.
“O médico fez a cirurgia naturalmente e foi embora. Ele mesmo disse lá que não tinha um outro médico na clínica. Poderia ter um enfermeiro ou alguma coisa, mas a gente não sabe se no momento desse, essa pessoa estava capacitada para fazer uma reanimação”, disse a irmã de Veruska, Soraya Rendall.
“Os riscos eram grandes. Ela estava muito animada para fazer a cirurgia, a família não sabia, mas o marido sabia e evidentemente deu a maior força. Quando ela botava uma coisa na cabeça, não tinha quem tirasse”.
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Soraya Rendall acredita que os médicos teriam que convencer a paciente a não fazer os três procedimentos de uma vez só. Ela acrescentou que Veruska fez todos os exames antes das cirurgias e não apresentou problemas de saúde.
Mulher de 54 anos morre depois de cirurgia plástica
“Cabia aos médicos não permitir que fizesse todas as cirurgias de vez, não a paciente. A paciente quer fazer tudo, ficar bonita. Era para falar: ‘olha, Veruska, vamos fazer parte agora, outra em seis meses, e não fazer uma cirurgia tão longa'”.
Quando passou mal, a corretora de imóveis foi atendida por uma médica que estava de plantão. Uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) também foi acionada para dar suporte na clínica de cirurgia plástica. No entanto, ela não resistiu.
A corretora de imóveis deixou uma filha de 16 anos, que mora em Portugal com o pai. A menina está a caminho de Salvador para participar do sepultamento, agendado para a quinta-feira (20).
O que dizem as autoridades
Na terça-feira, uma equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) fez uma inspeção na clínica. Segundo a pasta, foram encontradas condições sanitárias adequadas para o funcionamento do estabelecimento, no que se refere às condições de trabalho, higiene e gerenciamento de resíduos e organização.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) informou que, até o início da tarde desta terça, não recebeu denúncia sobre o caso. A autarquia federal orientou que, caso a família entenda que houve indícios de infração ética por parte do atendimento médico, realize uma denúncia para a apuração dos fatos.
O que diz a clínica
Nas redes sociais, ainda na terça-feira, a clínica informou que está contribuindo com o trabalho da polícia.
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