A importância do brincar na psique das crianças

criança brincando

Com colaboração de Ângela Anastácio

A coluna desta semana, escrita por mim e pela professora Ângela Anastácio, da Unieuro, complementa a da professora Ivana, também da Unieuro, abordando um tema de grande relevância para o cenário atual. Exploramos, com base nos principais autores, a importância de as crianças brincarem mais, abandonarem as telas de tablets e celulares, e se envolverem em brincadeiras reais: com suas famílias, nas praças, sob os blocos, nas quadras e nas escolas.

O ato de brincar é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças, sendo reconhecido como um direito fundamental na infância. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), brincar não é apenas uma atividade lúdica, mas um elemento crucial para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor. Através do brincar, as crianças exploram o mundo ao seu redor, desenvolvem habilidades, constroem sua identidade e experimentam um desenvolvimento cognitivo significativo.

Jean Piaget (1978) enfatiza que a brincadeira é uma forma de a criança assimiladar e acomodar novas informações, integrando-as ao seu repertório mental. Ele destaca que brincar é um meio pelo qual a criança testa e experimenta conceitos, aprimorando seu pensamento lógico e habilidades de resolução de problemas. No contexto do desenvolvimento cognitivo, o jogo simbólico desempenha um papel essencial. Durante essa fase, a criança simula situações cotidianas, atribuindo significados a objetos e interações. Brincadeiras de faz de conta, por exemplo, ajudam as crianças a compreender papéis sociais e a desenvolver a imaginação. Vygotsky (1991) reforça essa ideia ao afirmar que “na brincadeira, a criança sempre se comporta além do seu comportamento cotidiano, pois nela se projeta para um nível superior de desenvolvimento.”

Além de benefícios cognitivos, o brincar é fundamental para o desenvolvimento socioemocional. O psicanalista britânico Donald Winnicott (1975) destaca a importância do “espaço potencial” criado pela brincadeira, um ambiente seguro onde a criança pode expressar suas emoções, desenvolver criatividade e testar limites de maneira saudável.

As interações sociais durante o brincar são essenciais para o aprendizado sobre cooperação, empatia e resolução de conflitos. Brincadeiras em grupo ensinam as crianças a negociar, compartilhar e entender diferentes perspectivas. Vygotsky (1991) também acredita que a interação social durante o brincar é essencial para o desenvolvimento da consciência social e para a internalização de normas e regras.

Ademais, o brincar tem um impacto significativo na regulação emocional das crianças. Atividades lúdicas permitem que elas expressem medos, ansiedades e desejos de forma simbólica. Brinquedos como bonecas, jogos de tabuleiro e brinquedos de construção servem como ferramentas para elaborar sentimentos internos, promovendo um equilíbrio emocional saudável. Estudos mostram que crianças que brincam regularmente apresentam menores níveis de estresse e maior capacidade de adaptação a situações adversas (Ginsburg, 2007).

A ausência do brincar pode gerar consequências negativas para a psique infantil. Crianças privadas de oportunidades para brincar podem enfrentar dificuldades emocionais e sociais, além de um maior risco de desenvolver quadros de ansiedade e depressão. De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), a redução do tempo de brincadeiras espontâneas está associada ao aumento do estresse infantil e ao declínio da saúde mental.

Winnicott (1975) ressalta que o brincar é uma forma de comunicação da criança consigo mesma e com o mundo ao seu redor. Ele argumenta que o ato de brincar permite à criança integrar diferentes aspectos de sua experiência, auxiliando na construção de uma identidade saudável e resiliente.

No contexto atual, onde o uso excessivo de tecnologia e a sobrecarga de atividades reduzem o tempo disponível para brincadeiras espontâneas, é ainda mais importante garantir momentos e espaços para o lúdico. Famílias e educadores devem incentivar o brincar livre, proporcionando ambientes seguros e estimulantes para que as crianças possam explorar sua criatividade e emoções de maneira saudável.

O brincar é, portanto, essencial para o desenvolvimento da psique infantil, impactando diretamente o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e psicológico. Teóricos como Piaget, Vygotsky e Winnicott enfatizam que a brincadeira não é apenas um passatempo, mas um meio fundamental para a criança entender o mundo, expressar suas emoções e construir sua identidade.

Dessa forma, é crucial que pais, educadores e a sociedade como um todo valorizem o brincar, garantindo que as crianças tenham tempo e espaço para essa atividade essencial. Ao permitir que as crianças brinquem livremente, estamos promovendo não apenas diversão, mas um desenvolvimento saudável e equilibrado para toda a vida.

Até a próxima…

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