Guerra comercial

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O mundo já vem num processo de desglobalização, com cada país tentando proteger emprego e renda dentro de casa. Só este movimento já tende a ser inflacionário, pois ganhos de produtividade e eficiência acabam sendo perdidos no processo. Isso não é novidade.

A novidade vem dos EUA, com sua política de comércio exterior com a eleição de Trump. O aumento das tarifas de importação, com o objetivo de proteger a produção local, a economia americana deve observar aumento da inflação e, possivelmente, elevação dos juros e valorização do dólar no mundo inteiro.

Em tese, isto não é bom para o resto do mundo, principalmente para os países emergentes como o Brasil, que pode ter dificuldades para reduzir seus já elevados juros, além de questões de reciprocidade na sua balança comercial. Mas as empresas brasileiras exportadoras poderão até manter suas margens, mesmo com as novas tarifas de importação americanas, dada a forte demanda por lá.

Além disso, nossa taxa de câmbio está devidamente depreciada, o que torna nossas exportações competitivas em Reais, mesmo se houver necessidade de algum ajuste nos preços de exportação em dólares. Isto não seria possível se nosso câmbio estivesse apreciado, como já ocorreu em outras épocas no Brasil, talvez a principal razão da nossa desindustrialização.

E oportunidades também poderão ser criadas nesta guerra comercial, principalmente nas relações comerciais do Brasil com a Europa, China e Oriente Médio.

De todo modo, acomodações nos preços relativos serão inevitáveis. A velocidade e intensidade dos ajustes vão depender dos impactos na inflação e nos negócios nos EUA. 

Se lá a inflação subir muito e os negócios piorarem, cavalos de pau parciais na política comercial poderão ocorrer. Lembremo-nos que uma das principais razões da derrota de Biden foi a inflação, que reduziu o poder de compra dos americanos. 

Roberto Figueiredo Guimarães, diretor da ABDIB e ex-secretário do Tesouro Nacional

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