Calor extremo no Rio de Janeiro desafia moradores que enfrentam falta de luz e água

ALÉXIA SOUSA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A onda de calor intenso que atinge o Rio de Janeiro tem feito os moradores enfrentarem mais do que altas temperaturas. Em diferentes regiões da cidade e da Baixada Fluminense, a falta de luz e a escassez de água vêm dificultando a rotina e aumentando o desconforto.

Nesta terça-feira (18), o Rio registrou 41,8°C em Irajá, na zona norte, em mais um dia de temperaturas extremas que levaram a prefeitura a manter o nível 4 do protocolo de calor, acionado pela primeira vez este ano. Enquanto tentam se proteger do calor, moradores relatam dificuldade para dormir sem ventilação e falta de água para necessidades básicas.

A Light afirma que está monitorando os casos de falta de energia e mobilizando equipes técnicas para atuar nas regiões citadas na reportagem.

Segundo a concessionária, o calor extremo tem gerado um aumento significativo nas interrupções de energia, causado pela sobrecarga na rede elétrica, especialmente por ligações clandestinas.

Moradores de diversas regiões do Rio e da Baixada reclamam de cortes prolongados no fornecimento de energia.

Na Ilha do Governador, uma moradora de um condomínio, que preferiu não se identificar, contou que ficou cerca de nove horas sem luz, entre 00h40 e 10h desta terça-feira. Segundo ela, o problema se repetiu entre os dias 5 e 6 de fevereiro.

“É um calor absurdo. Minha casa virou um forno de madrugada, ninguém dorme. O pior é que isso vem acontecendo direto e ninguém dá uma solução”, disse a moradora.

Situação semelhante ocorreu no bairro Olavo Bilac, em Duque de Caxias, onde um morador relatou ter ficado oito horas sem luz desde a madrugada desta terça-feira.

Em Magalhães Bastos, na zona norte, moradores passaram ainda mais tempo sem energia: 17 horas seguidas sem luz, entre domingo (16) e segunda-feira (17). Segundo eles, a longa interrupção fez com que ventiladores e aparelhos de ar-condicionado ficassem inutilizados, tornando o calor ainda mais difícil de suportar.

No Complexo do Alemão, na zona norte, os moradores afirmam estar sem luz desde domingo (16). Já em Santa Teresa e no Catumbi, bairros da região central, houve registro de queda de energia também no final da tarde de domingo. No Catumbi, a energia voltou três horas depois.

“Um calor desse, não tem como viver assim sem luz, se abanando com papelão. A gente dorme mal, perde comida na geladeira, uma tristeza”, disse Joyce Macedo, 33, moradora de Água Santa, também na zona norte, que ficou sem luz por mais de cinco horas no último fim de semana.

Além disso, moradores de algumas regiões do Rio e da Baixada Fluminense enfrentam problemas recorrentes de abastecimento de água, o que tem se tornado ainda mais crítico diante do calor intenso.
Em São Gonçalo, na região metropolitana, moradores do bairro Rocha relatam que enfrentam falta de água intermitente desde setembro do ano passado. O abastecimento volta em alguns momentos, mas a maior parte do tempo não há fornecimento regular.

A Águas do Rio diz que, nesta quarta-feira (19), dará início em São Gonçalo a uma obra de extensão de rede para melhorar o fornecimento de água para a região.

Sobre os problemas na Ilha do Governador, a empresa disse que instalará um booster, equipamento que aumenta a pressão da água em redes de distribuição localizadas especialmente em áreas mais elevadas.

Enquanto isso, a concessionária afirmou que abastecerá os clientes das regiões afetadas por meio de carros-pipa.

O autônomo Lauro Rodrigues da Silva, 23, conta que sua mãe, recém-operada, tem tido dificuldades por precisar de higiene constante. “Ela passou por uma cirurgia no joelho e já até fez a retirada dos pontos, mas é muito difícil porque precisamos ficar higienizando o local o tempo todo, e não tem uma gota de água”, disse.

A aposentada Márcia Lacerda, 67, também moradora do Rocha, diz que já fez diversas reclamações à concessionária, mas nada foi resolvido. “A gente faz a reclamação, mas nada muda. Os moradores precisam se juntar para comprar caminhão-pipa, mas a conta vem todo mês”, afirmou.

No Jardim Carioca, na Ilha do Governador, a comerciante Flávia Garcia, 50, disse que os moradores estão sem água desde o início do mês. “O caso mais crítico foi em dezembro, quando ficamos 28 dias sem uma gota d’água. O relógio fica rodando, mas não cai nada. Desde então, fica nessa escassez. Agora, neste exato momento, estamos sem água”, disse na tarde desta terça-feira.

Ela conta que precisou comprar dois caminhões-pipa apenas neste mês. “A gente usa com muita economia, só para o essencial. Meu filho adolescente tem passado o dia fora de casa para usar menos água”, completou.

Com a previsão de mais dias de calor extremo, os moradores das regiões afetadas pela falta de luz e água ainda não sabem quando a situação será normalizada.

Enquanto aguardam soluções das concessionárias, muitos continuam a recorrer a baldes, garrafões e caminhões-pipa para garantir o mínimo necessário.

“A gente vive um dia de cada vez, na esperança de cair um pouco de água. Quando cai um pouco, a gente corre, um avisa o outro e enche baldes, garrafões, o que der, porque não sabemos se no outro dia vai ter uma gota”, disse a aposentada Márcia Lacerda.

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