Antonio Cícero, escritor membro da ABL, morre na Suíça e deixa carta de despedida


Ele era carioca e tinha 79 anos. Além de escritor e compositor, o autor era poeta, crítico literário e filósofo. O escritor Antônio Cícero
Divulgação/ Academia Brasileira de Letras
Morreu na manhã desta quarta-feira (23) o escritor e compositor Antonio Cícero. Ele estava na Suíça e sofria do mal de Alzheimer.
Ele era carioca e tinha 79 anos. Além de escritor e compositor, Antonio Cícero era poeta, crítico literário e filósofo. A informação da morte foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras (ABL), onde o autor ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017.
O escritor faleceu por meio de morte assistida na Suíça, onde o procedimento é legalizado. O companheiro estava ao lado dele.
Antonio Cícero deixou uma carta explicando as causas da decisão que tomou.
“Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”, afirma Antonio Cícero em um trecho.
(Confira a íntegra abaixo)
O artista era irmão da cantora e compositora Marina Lima. Na voz dela, poemas seus ficaram famosos em todo o país. Entre as canções de sua autoria estão “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa”.
Antônio Cícero também é coautor de “O Último Romântico”, célebre na voz de Lulu Santos. Ele também teve parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais, Adriana Calcanhotto.
Carta de Antonio Cícero:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”
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