Práticas Sustentáveis: Um Olhar Comparativo entre Brasil e Itália

Por Renata Bueno*

Nos últimos anos, a sustentabilidade tem se tornado um tema central em muitas partes do mundo, e tanto o Brasil quanto a Europa vem adotando medidas importantes nesse sentido. No entanto, ao observar as práticas seguras na Europa, especialmente na Itália, não posso deixar de notar algumas diferenças interessantes e significativas em relação ao que acontece no Brasil. Essas distinções revelam não apenas como a cultura e a política influenciam as decisões de cada região, mas também como pequenas ações podem gerar grandes impactos no futuro do nosso planeta.

Transporte e Mobilidade

Na Europa, é comum ver cidades extremamente comprometidas com o transporte sustentável. Milão, por exemplo, conta com extensas áreas de tráfego limitadas para veículos ocasionais, incentivando o uso de bicicletas, transporte público e veículos elétricos. A adoção de carros elétricos é cada vez mais incentivada, com infraestrutura robusta para carregamento e subsídios governamentais.

No Brasil, embora algumas cidades como São Paulo e Curitiba tenham avançado bastante no transporte público, a adoção de veículos elétricos e o incentivo ao uso de bicicletas ainda estão longe de serem realidade na maior parte do país. Falta infraestrutura adequada e, muitas vezes, até mesmo políticas públicas que facilitem essas transições. Em cidades menores, o uso de bicicletas pode ser mais comum, mas o transporte elétrico e compartilhado ainda é tímido.

Essa diferença reflete uma questão importante: enquanto na Europa o transporte sustentável é tratado como prioridade governamental e cultural, no Brasil ele ainda é visto como uma alternativa distante. Isso precisa mudar, porque os benefícios são claros: menos poluição, cidades mais limpas, e uma qualidade de vida melhor para todos.

Energia e Eficiência

Um aspecto que chama a atenção na Itália é o investimento em eficiência energética nas residências. A modernização de casas antigas com isolamento térmico e o uso de paineis solares são práticas cada vez mais comuns, o que ajuda a reduzir o consumo de energia e os custos a longo prazo. Esse tipo de comportamento é enraizado tanto na cultura quanto nas políticas europeias que favorecem reformas e tecnologias sustentáveis.

No Brasil, por outro lado, o potencial para o uso de energia solar é enorme, devido à nossa vasta exposição ao sol durante o ano todo. No entanto, o acesso ainda é restrito a quem pode arcar com os altos custos de instalação. A disseminação de energia solar deveria ser prioridade, pois não só economiza energia como também tem um impacto ambiental positivo, algo essencial em um país com tantas oportunidades para aproveitar fontes renováveis.

Alimentação e Agricultura

Outro ponto interessante é a relação dos italianos com a alimentação sustentável. Há uma forte valorização dos alimentos locais e da estação, o que reduz a pegada de carbono associada ao transporte de alimentos e promove uma economia circular. A agricultura orgânica também tem um papel relevante, com práticas agrícolas mais conscientes e menos relevantes ao meio ambiente.

Aqui no Brasil, a agricultura orgânica também tem crescido, mas ainda é vista como um nicho. Enquanto na Itália você encontra produtos locais e de estação facilmente em mercados e feiras, no Brasil a logística de grandes redes de supermercados domina, e alimentos vindos de outras regiões ou países são muitas vezes a regra. O apoio aos pequenos produtores locais precisa ser intensificado para que possamos, de fato, integrar uma alimentação mais sustentável e com menos impacto ambiental no nosso dia a dia.

Reciclagem e Redução de Resíduos

Na Itália, e em várias partes da Europa, a reciclagem é levada a sério. Existe uma infraestrutura robusta que facilita a separação de resíduos e, em muitas cidades, há fiscalização e até multas para quem não recicla corretamente. Além disso, o conceito de compostagem doméstica tem ganhado espaço, com várias famílias mudando orgânicos em adubo natural.

No Brasil, ainda que a coleta seletiva tenha sido avançada em algumas cidades, ela é ineficiente na maior parte do país. A conscientização é um ponto importante aqui: muitas pessoas não sabem como ou por que separar o lixo. A compostagem, por exemplo, é quase inexistente na vida cotidiana dos brasileiros, mesmo sendo uma prática relativamente simples e com grandes benefícios para a redução de resíduos.
Importância e Benefícios das Práticas Sustentáveis

A adoção de práticas sustentáveis, tanto na Europa quanto no Brasil, é fundamental não apenas para o meio ambiente, mas para a qualidade de vida das pessoas. Quando pensamos em transporte sustentável, reciclagem e consumo consciente de alimentos, estamos falando de ações que, no longo prazo, exercem pressão sobre os recursos naturais e prometem cidades mais limpas e organizadas.

No Brasil, temos um potencial incrível para nos tornarmos líderes em energia renovável e agricultura sustentável, mas isso exige não só políticas públicas claras e apoio governamental, como também uma mudança cultural. É preciso que cada um de nós perceba que pequenas ações no dia a dia, como separar o lixo, economizar água ou apoiar o comércio local, fazem a diferença.

Por outro lado, ao observar o exemplo europeu, especialmente o italiano, fica claro que essas práticas não precisam ser vistas como algo distante e inalcançável. Elas podem ser incorporadas gradualmente no cotidiano das cidades e das famílias brasileiras, trazendo benefícios palpáveis: um ambiente mais limpo, uma economia mais justa e, claro, um futuro mais sustentável para as próximas gerações.

Essas ações individuais e coletivas são essenciais para enfrentar os desafios climáticos e ambientais que vivemos. O futuro do nosso planeta depende de como cada um de nós atende hoje às necessidades do meio ambiente.

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.
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