Perigo nas estradas: números alertam para epidemia de mortes no trânsito

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Com o período de férias se aproximando muitas pessoas já estão fazendo planos para viajar de carro pela imensa malha rodoviária que corta o Brasil. Afinal, o automóvel é uma das paixões nacionais e, por isso, dirigir é a opção mais usada pelos brasileiros para fazer turismo. Mas para além do lazer e diversão, as estradas brasileiras têm se tornado motivo de muita preocupação para motoristas, autoridades de trânsito e gestores públicos. De acordo com o Ministério dos Transportes, apenas a malha rodoviária federal possui atualmente extensão total de 75,8 mil km, dos quais 65,4 mil km correspondem a rodovias pavimentadas e 10,4 mil km de terra.

Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do RS (Abramet/RS), com base no painel de acidentes disponibilizado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), revela a gravidade dos sinistros nas estradas do país. O Brasil, segundo a pesquisa, registrou um número alarmante de ocorrências de trânsito nas rodovias federais até junho de 2024, com 29.435 mil sinistros de trânsito, que resultaram em 85.549 mil pessoas envolvidas e 2.906 mil mortes. Apenas no Distrito Federal e Entorno, segundo a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal do DF (PRF-DF), 60 pessoas perderam a vida nas rodovias federais que cortam a capital do país.

Além das irreparáveis perdas humanas, os sinistros nas rodovias federais também geraram um impacto econômico considerável, com um custo total de R$ 7,5 bilhões. Desses, R$ 2,8 bilhões são atribuídos às mortes e R$ 4,4 bilhões às vítimas feridas nestas ocorrências. Ainda há R$ 231 milhões relacionados ao número de sinistros sem vítimas. Para a Abramet/RS, nada supera ou é maior do que a epidemia de mortes no trânsito.

Pelo mapeamento, é possível verificar que as colisões foram os sinistros de trânsito que mais ocorreram, sendo responsáveis por 64,4% das tragédias com mortes nas estradas (1.871 mil óbitos). Em seguida, os atropelamentos foram o segundo tipo mais comum, representando 16,3% dos sinistros com mortes (475 óbitos). “Esses dados refletem uma situação preocupante nas rodovias brasileiras e evidenciam a necessidade de medidas urgentes para que mudanças efetivas amenizem este cenário. Sabemos da importância da fiscalização nas estradas e das políticas públicas que visam a redução de sinistros, mas é preciso uma consciência maior por parte de quem dirige, pois é o motorista que está no controle”, alerta o presidente da Abramet/RS, Ricardo Hegele.

Ainda de acordo com o especialista em Medicina do Tráfego, a quantidade de sinistros e o impacto financeiro significativo apenas no primeiro semestre deste ano, reforçam a importância de investimentos em infraestrutura e a necessidade de uma mudança cultural para melhorar a segurança viária no Brasil.

Perfil das Vítimas

Ao analisar as vítimas que morreram nos sinistros de trânsito, percebe-se que as faixas etárias mais atingidas são as que incluem adultos em fases produtivas da vida. Do total de óbitos, 1.094 pessoas (37,6%) pertenciam à faixa etária acima de 45 anos, sendo a mais impactada. Já 621 mortes (21,4%) foram vidas perdidas entre os 36 e 45 anos e 573 pessoas (19,7%) tinham entre 26 e 35 anos. Das vítimas, 81,1% eram do sexo masculino e 18,7% do sexo feminino.

Dias Críticos

Curiosamente, os dados revelam que o dia da semana com mais registros de acidentes é o domingo, com 4.550 sinistros, que resultaram em 597 mortes, o que representa 20,5% do total de óbitos. O sábado e a sexta-feira aparecem logo em seguida, com 4.521 sinistros, resultando em 518 mortos e 4.493 sinistros, com 436 mortes, respectivamente.

“Não nos alegra trazer este panorama de tragédias nas estradas, mas analisamos estes números para chamar atenção da população e das esferas públicas para que providências sejam tomadas com a máxima urgência. O respeito às leis de trânsito, o comportamento responsável dos motoristas e a fiscalização mais eficiente podem reduzir significativamente os custos com sinistros e, mais importante, salvar vidas”, acrescenta Hegele.

Capital Federal

Nas rodovias federais que cortam o Distrito Federal, nove pessoas já morreram entre janeiro e junho deste ano, segundo os números apresentados pela CNT. A avaliação da Abramet/RS sobre o levantamento da CNT identificou o perfil destas vítimas: quatro pessoas tinham entre 26 e 35 anos, uma pessoa tinha entre 18 e 25 anos, a outra estava entre os 36 e 45 anos e três crianças até 12 anos morreram. O custo desta epidemia de mortes no trânsito na capital federal, segundo o levantamento da CNT que considera apenas o DF foi de R$ 83,936 milhões. Nos sinistros fatais, o custo foi de R$ 10, 310 milhões; nos sinistros com feridos, o valor gasto foi de R$ 70.184 milhões e, nas ocorrências sem vítimas, o custo foi de R$ 3,441 milhões.

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Foto: CBMDF

Os dados, no entanto, mostram apenas as pessoas que morreram entre janeiro e junho de 2024 dentro do perímetro do quadradinho do Distrito Federal. Mas, de acordo com a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal do DF (PRF-DF), quando o Entorno é incluído as estatísticas sobem consideravelmente. No mesmo período, 60 pessoas foram a óbito em sinistros de trânsito na circunscrição da PRF-DF. Segundo o policial rodoviário federal e especialista em segurança viária, André Durão, “nos sinistros fatais se destacam os do tipo colisão frontal (25 óbitos); atropelamento de pedestres (13 óbitos) e saída de leito carroçável (10)”.

Com o objetivo de reduzir o número de mortes, Durão acrescenta que a PRF-DF realiza uma série de operações ao longo do ano, tanto sazonais quanto contínuas, no esforço para aumentar a segurança viária. “Essas ações são alinhadas com os pilares do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS) e com os princípios de um sistema segura de mobilidade”, diz em nota.

Entre as operações da PRF-DF, destacam-se:

Operação Nacional de Segurança Viária: se desenvolve ao longo de todo o ano e busca reforçar o policiamento em trechos críticos, realizando ações de fiscalização e de educação direcionadas aos fatores que mais contribuem para sinistros nesses locais. 

Rodovida: ocorre entre o período das festividades de fim de ano e o carnaval com o foco no reforço do policiamento durante o período de maior movimentação nas rodovias federais. 

Policiamento orientado por dados: Apoio de tecnologias para otimizar a alocação de agentes e melhorar a resposta a incidentes, aumentando a eficácia das operações e reduzindo a sinistralidade com intervenções precisas e baseadas em evidências. Por meio do conjunto de informações coletadas ao longo dos anos pela PRF, ocorre o direcionamento do efetivo operacional responsável por cada trecho para os locais com maior risco de ocorrência de sinistros. 

Causas dos sinistros nas rodovias federais do DF/Entorno (Jan a junho/2024)

  • – Velocidade incompatível com a via; 
  • – Ultrapassagem indevida; 
  • – Travessia de pedestre em local inadequado.

Como os motoristas devem se comportar? 

  • – Dirigir de forma defensiva: postura fundamental para prever possíveis riscos. Isso inclui observar constantemente o comportamento dos demais motoristas, manter uma distância segura e evitar atitudes agressivas.  
  • – Respeitar a sinalização e limites de velocidade: respeitar os limites de velocidade e as regras de trânsito ajuda a evitar sinistros e facilita a convivência no trânsito. 
  • – Evitar distrações ao volante: O uso de celulares, conversas ou até mesmo ajustes no painel do carro.
  • – Revisar regularmente o veículo: Fazer revisões periódicas para identificar e corrigir problemas mecânicos, como freios, pneus e sistemas de iluminação, que podem comprometer a segurança no trânsito. 
  • – Adaptar a velocidade às condições da via: Em caso de chuva, neblina, buracos ou outras condições adversas, é prudente reduzir a velocidade e redobrar a atenção. 
  • – Não dirigir sob o efeito de álcool ou drogas: Substâncias que alteram os sentidos prejudicam o tempo de reação e o discernimento.
  • – Evitar dirigir em momentos de cansaço extremo: O sono e a fadiga reduzem a atenção e os reflexos. É preferível parar para descansar antes de continuar a viagem. 
  • – Antecipar manobras com sinalização: Utilizar o pisca, luz de freio e outras formas de sinalização permite que outros condutores saibam suas intenções, evitando surpresas e manobras bruscas. 
  • – Manter a calma e praticar a empatia: Muitas vezes, o trânsito gera situações de estresse, mas manter a calma e ser paciente evita comportamentos impulsivos e agressivos. 
  • – Observar o comportamento dos pedestres: Lembrar que pedestres também são vulneráveis e podem realizar movimentos inesperados, especialmente em faixas e cruzamentos.

A ABRAMET/RS ressalta que é imprescindível que políticas públicas mais eficazes sejam implementadas para combater essa verdadeira epidemia de sinistralidade. A conscientização da população e a criação de mecanismos mais rígidos de controle nas estradas são caminhos necessários para reverter essa triste realidade.

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