Patti Smith entoa versos pela Amazônia e contra incêndios florestais em obras sonoras

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Conhecida por declamar poesia em ritmo punk, Patti Smith versifica o número de hectares devorados por incêndios na Amazônia e em outras florestas desde o seu nascimento, em 1946, até 2024. “Burning” é uma obra em vídeo que mostra imagens das chamas enquanto o furor da voz de Smith progride, ritmado pelo som do Soundwalk Collective, grupo de arte sonora experimental.

O trabalho é o mais feroz da mostra “A Amazônia”, que reúne algumas obras de Smith em parceria com o Soundwalk em uma idílica casa modernista nos Jardins, luxuoso bairro de São Paulo. Depois de passar mal durante a apresentação no Teatro Cultura Artística e cair dramaticamente no palco, a artista não pode ir na abertura da exposição -passou discretamente pela montagem, que fica em cartaz até este sábado, 15, antes de embarcar de volta para Nova York.

As artes plásticas não são um terreno desconhecido para Smith, que no início dos anos 1970 dividia seu tempo na metrópole americana entre performances de poesia e a pintura, antes de formar o The Patti Smith Group e escalar para a fama com o álbum “Horses”.

Smith trabalhou também com fotografia. “Em 1995, após a morte do meu marido, não consegui mais me concentrar no complexo processo de desenhar, gravar ou escrever poesia”, escreveu ela, sobre a morte de Robert Mapplethorpe. “A necessidade de imediatismo me levou novamente a polaroid”, concluiu. Dali nasceu uma série que retratou objetos e seres imóveis em diferentes espaços.

Nos anos 2000 e 2010, a cantora se dedicou também ao ativismo, aparecendo no filme “Socialisme”, de Jean-Luc Godard e fazendo músicas e performances contra a Guerra do Iraque, a política de ocupação israelense do território palestino e a favor dos direitos LGBTQIA+.

Como é esperado de um espírito punk, Smith não poderia deixar de combater aquele que já é um dos principais males do século: o colapso climático. Em 2021, ela se apresentou na abertura da COP 26 pela Pathways to Paris, organização sem fins lucrativos criada pela sua filha, Jesse, que promove shows de artistas em protesto para ações efetivas sobre o clima.

É dessa urgência que Smith criou versos para uma série de pinturas de Stephan Crasneanscki, líder do Soundwalk Collective, feitas com pigmentos naturais encontrados na floresta amazônica em uma de suas viagens ao local. O rasgo rubro em uma enorme tela branca mais parece o fluir de um rio sanguinolento, em que as margens são acompanhadas pela caligrafia de Smith. “Sou um rio, um gigante nomeado por Deus”, se lê em uma delas.

O último trabalho da exposição é outro vídeo projetado ao mesmo tempo em duas paredes brancas opostas. As imagens parecem o raio-X psicodélico de árvores e rios, como se alguém tivesse filmado em negativo um passeio trêmulo pela floresta. “Tudo que é vivo, como você ama, está na floresta”, narra Smith, enquanto sua voz faz uníssono com barulhos de aves e do vento.

A AMAZÔNIA
– Quando Seg. a sex., das 11h às 19h; sáb das 10h às 17h. Até 15 de fevereiro
– Onde Casa Iramaia – r. Iramaia, 105, São Paulo
– Preço Grátis

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