Filme brasiliense “A natureza das coisas invisíveis” chega ao Festival de Berlim

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O primeiro longa de Rafaela Camelo está prestes a ganhar o mundo. Selecionado para a mostra Generation do Festival de Berlim, “A natureza das coisas invisíveis” fará sua estreia mundial em fevereiro de (2025), levando uma história sensível e cheia de camadas ao público infantojuvenil.

A diretora, que já marcou presença no festival com seus trabalhos anteriores, agora retorna com um projeto ainda mais ambicioso. Produzido pela Moveo Filmes, em parceria com a Apoteótica Cinematográfica e a chilena Pinda Producciones, o filme já vem acumulando conquistas antes mesmo de seu lançamento. Entre os prêmios recebidos estão o WIP Paradiso no Ventana Sur (2024), o prêmio Mistika no BrasilCineMundi (2024) e o reconhecimento como melhor projeto de ficção no BAL-LAB do Festival Biarritz Amérique Latine. Além disso, a obra passou por importantes laboratórios internacionais, como o First Cut Lab no Karlovy Vary e o Curitiba Lab no Olhar de Cinema.

Na trama, acompanhamos Glória (Laura Brandão), uma menina de 10 anos que passa as férias dentro de um hospital, onde sua mãe (Larissa Mauro) trabalha como enfermeira. O cenário pouco convencional se transforma quando ela conhece Sofia (Serena), uma garota que acredita que a piora na saúde de sua bisavó está diretamente ligada à internação. Juntas, as duas constroem uma amizade intensa e delicada, enquanto encaram a fragilidade da vida e os desafios do amadurecimento. Mas há algo a mais: Glória carrega um coração que não nasceu com ela e, aos poucos, percebe que certos sentimentos talvez não sejam inteiramente seus.

Em uma entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, a diretora Rafaela Camelo compartilhou a inspiração por trás do filme e a importância da infância como ponto central da história: “A escolha da infância, a princípio, não foi tão consciente, não é tão racional. Eu sabia que queria trabalhar com um filme que abordasse a questão do luto, mas a idade das personagens foi se definindo à medida que a história ganhava mais profundidade. São crianças vivendo muito de perto a questão do luto e da perda, mas sem a intermediação de um adulto. Elas acabam explorando e entendendo o mundo à sua maneira, com a imaginação e a fantasia.”

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Rafaela Camelo. – Foto: Reprodução/Flávio Oliveira

Ela também comentou sobre a construção da relação entre Glória e Sofia: “Tentei sempre trazer essas meninas que são absurdamente inteligentes e nunca subestimar a capacidade delas de entender o que está acontecendo ao seu redor. Elas estão descobrindo o mundo adulto, mas de forma surpreendente e tocante.”

O realismo fantástico, presente na experiência de Glória após o transplante, foi abordado com a mesma sutileza. “O realismo fantástico veio no desenvolvimento da história, como uma forma da personagem dar significado à experiência que está vivendo. Não é um delírio ou um sonho, é simplesmente a perspectiva dela sobre o que está acontecendo.”

Para a diretora, o hospital, inicialmente visto como um confinamento, se transforma ao longo do filme: “A criança, em qualquer ambiente, encontra uma forma de se expressar e de brincar. E no caso delas, a presença delas naquele lugar já traz essa dualidade, mostrando que, mesmo em um espaço que parece limitante, há liberdade para a imaginação.”

Camelo ainda comentou a origem do filme, que surgiu a partir do relato de uma pessoa transplantada: “O coração é um simbolismo muito forte, algo que nos conecta e nos dá unidade. No início, o transplante estava mais central na história, mas com o tempo a narrativa foi se expandindo para explorar temas de morte e renascimento.”

Sobre o impacto de sua estreia na Berlinale, ela afirmou: “É um lugar muito privilegiado para estrear um longa-metragem. Estou muito ansiosa para ver como o filme será recebido por um público jovem alemão, em um festival que se dedica a entender as realidades da infância.”

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