Remédio de juros altos vai funcionar e BC deve ter ‘parcimônia’ sobre atividade, diz Galípolo

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NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (12) que o “remédio” de juros altos vai funcionar no combate à inflação e que a autoridade monetária deve ter “parcimônia” na análise de dados sobre desaceleração da atividade econômica.


“O Banco Central mostrou que tem condições de colocar a taxa de juros em um patamar restritivo e seguir nessa direção”, afirmou em evento no Rio de Janeiro, organizado pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), em parceria com o Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças e o Centro de Debates de Políticas Públicas.


Segundo Galípolo, o país deve passar por um momento “desconfortável” no curto prazo, com inflação fora da meta e economia mais fraca.


“É um momento desconfortável para a sociedade como um todo, para as empresas e para as famílias, onde a inflação deve seguir num patamar desconfortável, fora da meta, repercutindo todos os eventos do passado, e você espera que a política monetária vá fazendo efeito gradativamente e apresentando um processo de desaceleração”, disse.


Essa foi a primeira declaração pública de Galípolo sobre política monetária desde que assumiu o comando do BC, em 1º de janeiro. Na última quinta-feira (6), o presidente da autoridade monetária falou em um painel internacional apenas sobre meios de pagamento.


Na primeira reunião sob o comando de Galípolo, no dia 29 de janeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano.


O colegiado do BC também reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março, e evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.


O presidente do BC disse ver com naturalidade que o mercado passe a acompanhar com mais atenção os dados sobre atividade econômica, mas assegurou que a autoridade monetária será cautelosa nessa análise até que a tendência, de fato, se concretize.


“Esses dados são dados de alta frequência, apresentam uma certa volatilidade […] Cabe agora ao Banco Central ter a devida parcimônia e serenidade na observação desses dados para que a gente tenha tempo suficiente para observar qualquer tipo de notificação”, disse.


Galípolo classificou como “desafio pessoal” o “limite ou a medida certa” do que cabe à autoridade monetária falar e disse ter tido “espaço e voz” para “traduzir e explicar” aos membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) as reações do mercado financeiro.


“Tem uma segunda variável que é aonde para, institucionalmente, a função do Banco Central. Esse realmente faz parte do desafio para você não cruzar uma linha e não transcender o que é o quadrado ali da autoridade monetária”, acrescentou.


Com relação ao ambiente internacional, Galípolo disse ver incerteza, mas ponderou que o impacto das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ser menor sobre o Brasil.
Isso porque, segundo análise de economistas, o país não aproveitou tão bem a reorganização das cadeias de produção após a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.


“Ao longo de 2025, a gente tem ouvido mais a ideia de que, pelo fato que o Brasil não se inseriu tão bem, do ponto de vista da correlação com a economia norte-americana, talvez o Brasil sofra menos no caso de uma tarifa”, disse.

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