Inflação no DF supera média nacional em janeiro de 2025

Maiara Marinho
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador econômico do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), apresentou uma variação de 0,56% no Distrito Federal, acima da média nacional, que foi de 0,16%, em janeiro de 2025, ficando atrás apenas de Aracaju (0,59%). No acumulado dos últimos 12 meses, Brasília ocupa o quarto lugar entre as capitais, com uma variação de 4,89%, acima da média nacional de 4,56%. Os setores de alimentação e transporte foram os mais impactados.

Foram registradas variações de 1,08% para alimentação e 2,88% em transportes no Distrito Federal em janeiro. No setor de alimentos, na variação mensal e no acumulado dos últimos 12 meses, Brasília registrou resultados acima do nacional, com destaque para a alimentação fora do domicílio, com variação acumulada de 9,05%. No resultado nacional, a variação foi de 6,74% no mesmo subgrupo e período. No acumulado dos últimos 12 meses, no Distrito Federal, a variação de alimentação no domicílio foi de 7,60%. No Brasil, foi de 7,45% no mesmo período.

“Os índices são subestimados”

“Inicialmente, o resultado do IPCA serve para informar à população o quanto os preços variaram de um período para outro para um certo conjunto de famílias. Além disso, podem ser usados como fatores de reajuste de contratos, como aluguéis e salários”, explicou o economista e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Matheus de Paiva.

O aumento da inflação registrado no Distrito Federal significa que bens e serviços estão mais caros, impactando significativamente o padrão de consumo das famílias, especialmente as mais pobres, de acordo com o economista.

Na análise de Matheus, quando há inflação todas as famílias empobrecem, mas especialmente as mais pobres, pois elas “ficam numa situação relativamente pior do que famílias de maior renda, que possuem alguns mecanismos para se protegerem da inflação, como investimentos dolarizados, bitcoin, ouro e imóveis”, disse.

O professor ainda alerta para algo preocupante: “os índices de preços são subestimados, ou seja, a inflação real normalmente é cerca de três vezes mais alta do que a divulgada oficialmente”, comentou.

Impacto para empresários e consumidores

Aos 43 anos, Jacira Ramos Santana é, há três anos, supervisora de cozinha no restaurante Apetit Natural, na Asa Norte, em Brasília. Segundo ela explica, a alta nos preços dos alimentos em janeiro foi sentida. “A gente compra mais caro e tem que vender mais caro, aí acaba perdendo a clientela. As pessoas são atraídas pelo preço em conta, então às vezes procuram um restaurante mais barato”, relatou Jacira.

Para tentar contornar momentos como esse, a supervisora aposta na redução de opções de produtos no cardápio ou na diminuição da variedade de oferta de um item. A estratégia tem como objetivo evitar a substituição por produtos de menor qualidade do que aqueles que os clientes já conhecem e aprovam. “Temos que gerir bem essa matéria-prima para que o consumidor não seja lesado e, ao mesmo tempo, reduzir a compra”, destacou, a respeito do desafio.

Por outro lado, os empresários do restaurante The Plant, na Asa Sul, decidiram antecipar o reajuste para ter uma folga neste momento em que todos os demais do ramo estão precisando aumentar os preços no cardápio.

“Nós realizamos um reajuste de preço em novembro do ano passado, porque a gente estava relativamente defasado. Só que a gente já reajustou um pouco mais porque sabia que a inflação ia vir forte. Então jogamos um pouco mais de margem em novembro para quando viesse o reajuste”, contou Davi Guedes Neves, administrador do estabelecimento.

“Quando a gente reajustou os preços, as pessoas não estavam reajustando. Agora que todo mundo está reajustando parece que estamos com preços mais baratos do que os outros, mas isso aconteceu porque fizemos o reajuste com uma folga para essa inflação que a gente sabia que ia vir”, disse.

Assim como Jacira, Davi evita diminuir a qualidade do produto ou fugir da proposta do restaurante. E para não chegar a preços exorbitantes ao consumidor, os donos do The Plant focam em ‘engenharia de menu’, que trata-se da compra de menor variação de insumos, o que permite a compra de um volume maior dos produtos, oferecendo “maior capacidade de controle e mais preparos com o mesmo insumo, então, engenharia de menu se torna ainda mais fundamental nesses momentos”, explicou Davi.

Para os dois, o aumento no preço de alguns insumos já foi sentido no mês de janeiro, em comparação a dezembro de 2024, forçando aos reajustes implementados pelos profissionais. Ainda, ambos perceberam uma menor movimentação de clientela em janeiro deste ano, comparado a janeiro de 2024.

Da mesma maneira que os empresários, os consumidores buscam escapar do impacto da inflação. Sentadas à mesa de um restaurante, na manhã chuvosa de Brasília nesta terça-feira (11), duas amigas faziam algo bastante incomum no cotidiano delas: almoçar fora de casa. A professora de arte da rede pública de ensino do Distrito Federal, Thanity Andrade, de 32 anos, que estava acompanhada da amiga que não quis se identificar, disse que para as pessoas pobres sempre houve inflação. “Somos pessoas da periferia, sempre tivemos o hábito de comer comida de casa”, disse.

Em uma rotina equilibrada entre preparar comida em casa e comer fora de casa, o professor da Universidade de Brasília (UnB), Valdir Novelo, de 38 anos, notou o aumento do preço nos restaurantes e bares em que costuma frequentar. Em situações como essa, ele busca conhecer lugares com preços mais baratos, dependendo da ocasião.

“Às vezes a pessoa almoça em um lugar que é próximo do trabalho ou próximo da casa e, mesmo aumentando, não vale a pena se deslocar mais para achar outro lugar mais barato. Até porque quando aumenta em um lugar, geralmente aumenta no geral”, ponderou Valdir.

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