Nove crianças foram vítimas de homicídio no DF nos últimos três anos

Nos últimos dois anos quatro crianças que estavam desaparecidas no Distrito Federal foram encontradas mortas. Conforme dados da Polícia Civil do DF, outras cinco crianças foram vítimas fatais de homicídio de 2022 a 2024. A maioria era do sexo masculino (cinco) e os crimes ocorreram principalmente no Itapoã (três). Os dados foram levantados pela PCDF ao Jornal de Brasília, e para isso foi utilizado a faixa etária até 12 anos.

Ao JBr, uma pessoa próxima a uma criança de cinco anos que foi encontrada sem vida em março de 2023 em um apartamento no Residencial Itamaraty, em Taguatinga, que preferiu não se identificar, contou que toda a situação é muito traumática. “Na época vários repórteres entraram em contato comigo, mas eu não aceitei falar com ninguém. Eu fiquei bem mal. Saber que a criança que cuidamos, demos comida na boca partiu assim é muito traumático. Não tem como lidar com uma perda, uma pessoa adulta já traz sofrimento imagina uma criança”, desabafou.

A criança foi encontrada sem vida após o apartamento da família pegar fogo, a própria mãe da menina confessou ter incendiado o imóvel. “Eu nunca gostei muito da mãe dela, sentia que tinha algo estranho nela. Quando aconteceu o crime eu não quis ver nenhuma reportagem, senti que poderia ser uma criança que eu conhecia. A criança demonstra quando tem algo errado e as pessoas ao redor devem ficar atentas aos sinais. Às vezes as pessoas não querem se meter, mas é preciso quando observamos algo diferente”, ressaltou.

O especialista em segurança pública, Cássio Thyone, enfatiza que quando falamos de crimes de morte contra crianças estamos falando de casos gravíssimos. “Quando temos uma ocorrência de morte produzida por terceiros que envolve criança sempre vamos está falando de uma ocorrência grave especialmente porque as crianças são consideradas vítimas indefesas que certamente terão muita dificuldade de oferecer resistência aos seus agressores. Seja qual for a condição de morte de uma criança, sempre estaremos falando de ocorrências muito graves”, explicou.

“Quando aos desaparecimentos que depois se tornam casos de homicídios sabemos que muitas dessas ocorrências escondem outras questões como por exemplo violência sexual, o que torna a ocorrência ainda mais grave”, acrescentou o especialista. Segundo Thyone, os casos de morte de crianças ocorrem em diferentes tipos de manifestações de violência. “Temos casos que ocorrem dentro dos lares. Também tem casos de crianças que são vítimas de predadores sexuais e tráfico de órgãos”, salientou.

Ações para combater crimes contra crianças

A reportagem, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que instituiu o programa “Segurança Integral”, que envolve a participação da sociedade civil e de diversos órgãos, com o objetivo de reduzir a criminalidade e a violência, aumentando a sensação de segurança da população. “Entre os eixos do “Segurança Integral”, destacamos a criação do “Escola Mais Segura”, voltado à realização de ações de prevenção e intervenção no ambiente escolar, garantindo um espaço saudável para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens, e promovendo a cultura de paz nas escolas”, frisou a pasta.

Além disso, a Polícia Militar (PMDF) oferece palestras em conselhos comunitários e o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), que consiste em atividades educacionais, ministradas por policiais militares qualificados pelo programa internacional de origem americana, em salas de aula do DF, com o objetivo de prevenir o uso de drogas e a violência por meio de escolhas seguras e saudáveis.

Por meio da Polícia Civil (PCDF) também é ofertado o “Projeto Cabeça Feita” destinado a prevenção ao uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, desenvolvido pelo Centro Piloto de Educação e Prevenção ao Uso de Drogas (CEPUD) em parceria com a escola e a família, destinado aos anos finais do Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio.

“Destaca-se ainda os trabalhos permanentes desenvolvidos por meio da Comissão Permanente de Paz nas Escolas da Secretaria de Educação do DF (SEEDF) para capacitação voltada à educação infantil, a promoção, sensibilização e engajamento de educadores para prevenção e o enfrentamento de crimes como é o caso, por exemplo da exploração sexual, que em maior parte ocorre no interior de residências, em ambientes familiares, sendo a denúncia o principal mecanismo para que os órgãos de segurança pública possam elaborar estratégias de atuação preventiva e, ainda, para identificar e prender autores”, salientou a SSP/DF.

Em relação ao desaparecimento de crianças, a pasta pontuou que lançou o Protocolo Integrado de Busca Imediata de Desaparecidos, que faz parte das iniciativas da Rede de Atenção Humanizada de Pessoas Desaparecidas, criada em 2024. “A nova rede estabelece diretrizes de atuação, que reúne ações como a dos Alertas Amber e Cell Broadcasting, a criação de um cadastro distrital de desaparecidos, o atendimento psicológico e assessoria jurídica aos familiares dos desaparecidos e campanhas educativas. O Alerta Amber é um sistema de emergência de notificação de desaparecidos que funciona via Instagram e Facebook”, explicou.

Relembre casos

Caso criança encontrada morta em incêndio

Em março de 2023, um apartamento no Residencial Itamaraty, em Taguatinga, pegou fogo e uma criança de cinco anos foi encontrada sem vida no imóvel. A própria mãe da menina confessou ter incendiado o local. Conforme informações do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF), o quarto onde a criança estava não foi atingido pelas chamas e o corpo dela apresentava rigidez e não tinha sinais de queimadura, o que indicou que a criança foi morta antes do incêndio. A genitora da menina foi presa em flagrante.

Caso João Miguel

O corpo de João Miguel, 10 anos, foi encontrado em uma área de mata do Guará duas semanas após desaparecer no DF, no dia 13 de setembro de 2024. A criança foi localizada já sem vida, enrolada em um cobertor dentro de um buraco com a cabeça para baixo e as mãos amarradas. Segundo informações passadas pelos suspeitos à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o motivo do crime teria sido um furto de um cavalo. Um dos suspeitos de envolvimento no crime, um carroceiro de 19 anos, disse à polícia que ajudou a amarrar e jogar João Miguel na fossa, mas que a sua namorada, de 16 anos, que executou a vítima.

João Miguel era conhecido do casal e frequentava a casa dos autores do crime. De acordo com a PCDF, os suspeitos criaram inimizade com a criança por causa de pequenos furtos que o menino supostamente cometia. Em um dos casos, João teria pegado um cavalo emprestado e soltado o mesmo nas proximidades, gerando um prejuízo financeiro de R$2,5 mil ao casal. Na época, a família da vítima negou que o envolvimento da criança com furtos. O carroceiro foi preso e a namorada detida no Sistema Socioeducativo do DF.

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