Não adianta trabalhar com situação utópica, diz Nunes sobre troca de ônibus por veículos elétricos

ricardo nunes

FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A gestão Ricardo Nunes (MDB) pretende convencer a Justiça das dificuldades encontradas para renovar a frota de ônibus com modelos elétricos e para implantar infraestrutura de recarga na capital paulista, após uma liminar derrubar lei que flexibilizava a troca dos veículos.

“Vamos responder à Justiça que precisamos ter propostas plausíveis, que a gente possa fazer algo que seja possível”, afirmou Nunes na manhã desta terça-feira (11) a jornalistas, em agenda para entrega das obras de um terminal de ônibus no bairro de Santa Cecília, no centro.

“Nós vamos insistir em fazer as coisas que são possíveis, não adianta a gente trabalhar com uma situação utópica, que não vai se realizar, porque não vai ter ônibus elétrico para vender, não vai ter infraestrutura para carregar bateria”, afirmou Nunes na manhã desta terça.

“Vamos partir para um ponto crucial, que é a realidade dos fatos, a de substituir quando tem algo para substituir. Se a indústria começar a produzir, temos capacidade [para compra] porque disponibilizamos R$ 6 bilhões, com juros, taxas mais baixas e carência de 12 meses [para aquisição dos coletivos pelas empresas].”

Em janeiro, Nunes sancionou projeto aprovado em dezembro pela Câmara Municipal, comandada pelo então vereador Milton Leite (União Brasil), que alterava duas leis, uma de 2009, que instituiu a política de mudança do clima no município de São Paulo, e outra de 2018, que tratava do uso energia menos poluente no transporte público.

O texto sancionado, porém, eliminou a meta de renovar 50% da frota por veículos que poluam menos, como os elétricos, mantendo apenas a troca total até 2038.

“Obviamente, não tem como garantir que isso vai ser possível [renovação de 50% da frota por elétricos] até 2028 por conta das realidades da atualidade”, disse o prefeito na manhã desta terça.

A liminar, do desembargador Mário Devienne Ferraz, do último dia 6, ocorre a partir de uma ação de inconstitucionalidade movida pelo diretório estadual do PSOL.

A decisão do relator, que substitui o desembargador Aroldo Viotti no caso, vale até o julgamento da ação.

“O prefeito quer que a população da cidade respire um ar mais poluído e não podemos permitir”, disse à Folha o vereador Toninho Vespoli (PSOL).

A justificativa para a nova lei, que correu a toque de caixa na Câmara nos últimos dias do ano legislativo de 2024, é que a indústria não tem capacidade para fornecer os ônibus elétricos necessários para renovação da frota e por falta de estrutura para abastecimento de energia nas garagens.

Com 3.400 ônibus que deveriam ser substituídos até o fim do ano por terem data de validade vencida (dez anos), o prefeito defendeu recentemente que a renovação ocorra após os veículos atingirem 13 anos de circulação, exatamente pela dificuldade de se encontrar modelos elétricos no mercado -cem desses foram incorporados à frota no último dia 23, chegando a cerca de 400 ônibus no total.

Desde outubro de 2022 está em vigor medida da SPTrans (estatal que administra o transporte público municipal na cidade) determinando que não sejam mais adquiridos veículos movidos a combustão para renovação da frota.

Isso não estaria sendo cumprido pelas empresas de ônibus por causa dos dois gargalos apontados pela prefeitura -o outro é a falta de infraestrutura para a recarga, o que vem gerando embate entre a administração municipal e a Enel, concessionária de energia.

Recentemente, o especialista em mobilidade urbana Rafael Calábria afirmou à reportagem que o coração do projeto aprovado na Câmara era a retirada do prazo de 2028. “Iria pressionar o Nunes a agir. Ele aprovou uma lei que vai tirar dele a pressão de cumprir uma meta.”

Questionada, a Câmara Municipal afirmou que não foi intimada da decisão e recorrerá no momento adequado.

A lei sancionada em 15 de janeiro permite a renovação da frota por veículos movidos a gás natural. Na entrevista desta terça, o prefeito disse que a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas está estudando a viabilidade do uso desse combustível na frota, do ponto de vista ambiental.

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