Conheça a história da Bombril, que foi de sonho de casal a pedido de recuperação judicial

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DIEGO FELIX E FERNANDA BRIGATTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A Bombril, uma das marcas mais lembradas no país pelas lãs de aço (ou palhas de aço, como também são conhecidas), entrou com pedido de recuperação judicial nesta segunda (10) e reportou uma dívida de aproximadamente R$ 2,3 bilhões.

Eternizada nas campanhas com Carlos Moreno, eterno garoto-propaganda da companhia, o grupo detém o controle de 14 marcas, sendo Bombril a principal delas.

A história da companhia paulistana teve início em 1948, com o empresário Roberto Sampaio Ferreira, que teria sido estimulado pela esposa a iniciar a produção de lã de aço, ambos inspirados por um produto similar vendido nos Estados Unidos. A primeira máquina da Abrasivos Bombril Ltda. foi adquirida como pagamento de uma dívida.

Além de polir panelas, limpava vidros, louças, azulejos e ferragens. Daí veio a fama de produto de “1.001 utilidades”. O sucesso foi imediato e no primeiro ano de vendas a companhia vendeu 48 mil pacotes de palha de aço.

Em 1961, a Bombril incorporou a Companhia de Produtos Químicos-Fábrica Belém, dona das marcas Sapólio e Radium, que virou a linha Sapólio Radium. No ano seguinte, comprou a Q’Lustro, dona de 25% do mercado nacional de lã de aço na época.

O “Garoto Bombril” aparece pela primeira vez em 1978. Interpretado pelo ator Carlos Moreno, o garoto propaganda da lã de aço apareceu em 400 filmes comerciais dirigidos por Andrés Bukowinski e concebidos pelo publicitário Washigton Olivetto, que morreu em 2024.

Moreno foi durante quase 40 anos uma espécie de rosto público da marca. Atrás de um balcão, ele interpretava personagens e situações ligadas ao conceito de “1.001 utilidades”.

Foi também em 1978 que a empresa começou a comercializar o detergente Limpol. Em seguida, foram lançados produtos como os desinfetantes Pinho e Kalipto.

Roberto comandou a empresa até 1981, quando faleceu. No ano seguinte, a empresa muda de nome para Bombril Indústria e Comércio Ltda e, em 1983, é lançado o amaciante Mon Bijou.

Em 1984, a Bombril passou a ser negociada na Bolsa de Valores, atualmente conhecida como B3.

A morte de Roberto Sampaio marcou o começo de uma onda de disputas entre controladores e a família.

Em 1995, a Bombril foi vendida para a italiana Cirio Finanziaria, de Sergio Cragnotti, por US$ 200 milhões.

Anos mais tarde, Ronaldo Sampaio Ferreira, herdeiro da família fundadora, ainda não havia recebido toda a quantia acertada.

Em 2003, a pedido do brasileiro, a Justiça penhorou as ações da Bombril e colocou a empresa sob administração judicial.

A Cirio entrou em falência, e Cragnotti acabou preso na Itália, em 2004, acusado de fraudes no controle da companhia. Essa primeira recuperação judicial da Bombril durou até 2006.

Em 2016, a empresa voltou a registrar lucros depois e concluir uma nova reestruturação que prometia colocar a Bombril de volta aos trilhos. Dois anos antes, a situação da empresa era de penúria.

Fornecedores pararam de entregar produtos e até o contrato com Carlos Moreno não foi renovado em 2016. Moreno voltou ao teatro ao fim da longa parceria.

Na reorganização de 2017, cinco marcas foram encerradas, 450 funcionários, demitidos, e 550 tipos de produtos deixaram de ser produzidos.

Atualmente, segundo o site para investidores do grupo, o portfólio da companhia tem 14 marcas e 217 itens de limpeza. Além da Bombril, o grupo é dono e Limpol, Mon Bijou, Sapólio Radium, Kalipto e Pinho Bril.

Além disso, possui três fábricas em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

O pedido de recuperação atual é decorrente de dívidas tributárias do início dos anos 2000. Em fato relevante ao mercado, a Bombril disse que a empresa possui “contingências tributárias relevantes”, especialmente as relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos no valor de cerca de R$ 2,3 bilhões.

Esses tributos teriam incidido sobre operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros realizadas entre 1998 e 2001 pela companhia e pela Cragnotti & Partners, na época controlador da Bombril.

A Bombril disse no comunicado que sua diretoria reavaliou as chances de perda nos processos judiciais e discutiu alternativas para lidar com a questão.

Segundo a empresa, o risco de perder esses processos representa uma “ameaça aos bons resultados contábeis que vêm sendo obtidos pela Bombril, expondo a companhia a riscos considerados elevados, relacionados à reavaliação da sua capacidade de adimplência por parte de fornecedores e financiadores e, no limite, à descontinuidade de determinadas relações comerciais e vencimento antecipado de dívidas”.

A Bombril acrescenta que a apresentação do pedido de recuperação judicial visa conduzir negociações para adequação de sua estrutura de endividamento, garantir a manutenção operacional das atividades da companhia e proteger seu caixa.

No pedido encaminhado à Justiça, o grupo diz, por meio de seus advogados, que a companhia é sólida e tem condições de se recuperar.

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