Vice de Trump rouba cena em Paris na cúpula de IA

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ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS)

JD Vance foi a estrela do encerramento da Cúpula de Ação sobre a Inteligência Artificial, que terminou nesta terça (11) em Paris. O vice-presidente dos EUA chegou, discursou 15 minutos em defesa da desregulamentação da IA e foi embora, sem ouvir os líderes mundiais que o sucederam.


“Não vim aqui para falar de segurança em IA, e sim de oportunidade em IA”, disse Vance, na contramão de outros participantes da cúpula que apontaram os riscos de uma regulamentação frouxa. “O futuro da IA não estará ganho se nos preocuparmos demais com segurança. Precisamos de regimes regulatórios que fomentem a criação, em vez de estrangulá-la.”


Vance ameaçou os países que não seguirem a liderança americana no setor. “A administração Trump vai garantir que a tecnologia americana de IA continue a ser o padrão-ouro mundial. Somos o parceiro ideal para outros países e empresas”, disse, numa aparente resposta ao anfitrião do evento, Emmanuel Macron. O presidente da França usou a cúpula para promover seu país e a Europa como rivais de EUA e China no mercado de inteligência artificial.


A China também foi alvo de uma advertência de Vance: “Regimes autoritários roubaram e usaram a IA para fortalecer suas forças armadas, capturar dados estrangeiros e criar propaganda. Vou ser claro: esta administração vai bloquear essas iniciativas. Quero relembrar a nossos amigos internacionais que parcerias com esses regimes nunca compensam no longo prazo.”


Em seu discurso, o americano fez poucas concessões aos temores sobre a IA. Citou a fala que o antecedeu, do líder indiano Narendra Modi, que alertou para os riscos da nova tecnologia: “Entendo o argumento do primeiro-ministro Modi, mas a IA não vai substituir o ser humano.” E concluiu admitindo que não se pode “jogar pela janela todos os receios sobre segurança”.


A impressão geral na cúpula foi de derrota dos defensores de uma maior regulamentação da inteligência artificial. Isso não passou despercebido a Vance. “Folgo em ver um gosto de desregulamentação penetrando muitas conversas nesta conferência”, disse.


Uma versão da declaração final da cúpula, cuja divulgação estava prevista ainda para esta terça, vazou para a imprensa e foi criticada pela linguagem considerada excessivamente cautelosa.


A visita-relâmpago à França foi a primeira viagem internacional de Vance desde que tomou posse, no último dia 20. Na véspera, o vice de Donald Trump fez uma visita simbólica ao museu militar francês dos Invalides, onde fica o túmulo de Napoleão. Ali, Vance disse ter tocado o sabre do marquês de La Fayette (1757-1834), francês que lutou ao lado de George Washington na Guerra de Independência dos EUA.


“A França e meu país construímos juntos uma bela civilização com armas como esse sabre”, discursou Vance, numa tentativa de metáfora para a nova tecnologia da IA. “Armas que são perigosas nas mãos erradas, mas incríveis instrumentos para a liberdade e prosperidade nas mãos certas.”


Vance despertou risos ao contar que, na noite anterior, no jantar de gala no Palácio do Eliseu, o presidente da França, Emmanuel Macron, lhe perguntou se queria discursar na cúpula. “Respondi: senhor presidente, eu vim pela boa companhia e pelo vinho grátis”, gracejou.


Em alguns aspectos, a cúpula simbolizou a atual ordem mundial, até na ordem e disposição dos convidados. Na sessão plenária principal, o centro do palco foi ocupado pelo CEO da Alphabet, dona do Google, Sundar Pichai. O secretário-geral da cada vez mais impotente ONU, António Guterres, ficou relegado à extremidade do palco.


Entre as autoridades presentes à cúpula, estavam a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; e Zhang Guoqing, um dos vice-primeiros-ministros da China.


O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que representou o país no primeiro dia da cúpula, retornou ao Brasil ainda na noite de segunda. O diplomata mais sênior presente à sessão de terça foi Laudemar Gonçalves de Aguiar Neto, secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Itamaraty.

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