Ironias de fevereiro

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As chuvas de novembro são as mais frias

Uma nasceu, outra partiu. Wanda fez sua estreia no mundo em 1960. Exatamente quando os foliões vibravam numa energia efervescente. Creyse foi embora exatamente no mês da aparente alegria, da festa; do mês espremido entre o incerto janeiro e o março de começos e enormes expectativas. Wanda viveu apenas 36 anos, feito Renato Russo. Creyse ainda prolongou seus bem vividos 50 anos.

Nascida em novembro, quando a vida é mais flexível e as chuvas são mais frias, Creyse, marcada pelo signo de escorpião, viveu como quis viver, morreu como foi possível morrer. Até porque a morte não assusta, não mete medo, ela é apenas um portão dimensional, enquanto a vida efervesce num enorme sonrisal de saudade.

Isso porque, o egoísmo humano não quer o fim, a despedida; sabendo que o homem foi feito pra viver eternamente, ninguém quer abrir mão do infinito e da eternidade. No entanto, a partir do momento em que  nos percebemos sob a dimensão e a realidade da queda, passamos a encontrar com o mal irremediável, o acontecimento que marca o nosso estranho destino sobre a terra e une a todos num só rebanho de condenados. Porque tudo que é vivo morre. A partir daí somos engolidos pela finitude, embora tenhamos uma enorme voracidade pelo Eterno e pela eternidade.

Dessa forma, Ariano Suassuna nos empurra na direção do não -ser, do nosso iniludível e estranho destino. Nessa ótica, ela foi encontrar-se com a sua irmã de fevereiro, aquela que viveu filosófica e festivamente a vida; que embriagou-se de alegria naquele festejado 14 de novembro de mil novecentos e setenta e cinco. 

Agora o que resta é a vida, que acaba sendo um enorme sonrisal de saudades, a lembrança, mão de tinta em nosso coração partido. O menino Renato, órfão da alegria, dos sonhos de Creyse D’aguiar e dos mistérios do desconhecido. Também Jonas, o gato apaixonado por aquela que o criou, cuidou, sensibilizou.

Certamente, um dia nos encontraremos. Certamente, Deus enxugará dos olhos toda lágrima, e não haverá dor, escuridão ou desespero. Porque nos encontraremos de mãos dadas com a gloria do Eterno, cantaremos a música “Imagine” e celebraremos a vida sob as frondosas e fartas mangueiras do infinito…

*Walber Aguiar – advogado, poeta, historiador, mestre em letras, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras

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