Setor de carvão dos EUA deve ser prejudicado por tarifa ao aço do Brasil

RICARDO DELLA COLETTA E ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A imposição de uma sobretaxa sobre as importações de aço pelos Estados Unidos, conforme prometido pelo presidente Donald Trump, deve ter como efeito colateral a redução do carvão metalúrgico comprado pelo Brasil dos próprios americanos.

O Brasil é um dos principais compradores desse insumo dos EUA. Ele é utilizado para produzir boa parte do aço que, posteriormente, é vendido para os americanos.

O argumento de que o aumento das tarifas sobre aço prejudica os produtores americanos de carvão siderúrgico foi usado quando Trump, então em seu primeiro mandato, estabeleceu uma sobretaxa de 25% sobre a importação de aço em seu país.

A avaliação no governo é que os possíveis impactos sobre o setor do carvão contribuíram para que os EUA aceitassem, em 2018, a abertura de uma cota anual em que o aço brasileiro poderia entrar com barreiras reduzidas. Outro ponto que foi levantado à época era que o aço brasileiro semiacabado vendido era utilizado, na sua grande maioria, como insumo da produção siderúrgica americana.

O carvão metalúrgico, também com conhecido como carvão coqueificável, é um combustível essencial para o processo de produção de aço realizado pelos altos-fornos das siderúrgicas. O Brasil tem uma produção ínfima desse material e importa a maior parte do que é consumido no país.

Os dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) mostram que, só no ano passado, foram gastos US$ 1,4 bilhão com importações desse produto dos Estados Unidos para o Brasil. Nos últimos cinco anos, foram mais de US$ 6,2 bilhões colocados na compra desse insumo.

De acordo com um integrante do governo Lula (PT), que falou à reportagem sob condição de anonimato, há um alto grau de interdependência entre as cadeias do aço nos dois países. Uma redução na quantidade de aço brasileiro para os EUA -diz esse interlocutor- também traria prejuízos ao setor americano. Ele exemplifica que um corte na produção de aço pelo Brasil resulta, fatalmente, na diminuição do carvão comprado dos EUA.

Donald Trump disse, no domingo (9), que anunciará nesta segunda (10) tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para o país, uma nova escalada de sua revisão da política comercial que pode afetar o Brasil. Produtos semiacabados de aço estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves.

Os produtos semiacabados de aço são materiais intermediários da siderurgia, que precisam ser processados para se tornarem produtos finais. Eles são utilizados como matéria-prima para a fabricação de itens como chapas, perfis, tubos e outros produtos.

Autoridades no governo Lula dizem que ainda não é possível antecipar qual será a reação do Brasil, uma vez que o anúncio de Trump é vago e não há detalhes sobre o alcanço das medidas.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse à Folha de S.Paulo nesta segunda (10) que ainda aguarda que se concretize o anúncio.

“Não teve, não teve. Vamos esperar que sejam anunciadas”, disse Vieira ao chegar a Cúpula para Ação sobre a Inteligência Artificial, em Paris. “Só posso conversar sobre coisas concretas. Então, na hora em que for anunciado…”

Pessoas que acompanham o tema dizem que ainda não está de todo claro se a sobretaxa vai incidir sobre a tarifa já aplicada para o produto e se a cota brasileira será mantida.

O tema é acompanhado de perto por todos os agentes do setor, que preferem não se manifestar enquanto não houver uma definição clara sobre os movimentos de Trump.

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