Vítimas de enchentes se queixam de comida podre em SP

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HERCULANO BARRETO FILHO
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

As vítimas das enchentes na zona leste de São Paulo têm se queixado da comida estragada entregue nos locais de abrigo.

Crianças abrigadas alertam para o cheiro ruim da comida. O episódio flagrado pelo UOL ocorreu no começo da tarde desta quarta-feira (5) na escola estadual Heckel Tavares, no Jardim Helena.

As marmitas foram entregues pela Prefeitura de São Paulo. Procurada pela reportagem, a administração municipal não se posicionou sobre a denúncia feita pelas vítimas das enchentes na zona leste da capital paulista.

Ilhados pela enchente há ao menos quatro dias. Sem um apoio efetivo do poder público, os moradores contam com a ajuda dos próprios vizinhos para enfrentar a fome e a sede. O UOL acompanhou o trabalho de voluntários, que levavam mantimentos a moradores em áreas isoladas pela água.

Prefeitura de SP diz que está adotando medidas emergenciais para atender a população. “Desde o final de semana, foram entregues [cerca de 20 mil refeições], mais de 5 mil colchões, cobertores, cestas básicas e outros itens”, diz um dos trechos da nota.

O QUE DIZEM OS MORADORES

“Vi que algumas marmitas estragadas estavam sendo recolhidas. A comida está azeda mesmo, mas eu vou levar porque não tenho o que comer em casa. Quando encheu, perdi tudo o que tinha. Dentro de casa, a água bate no meu joelho. A situação está muito precária”, disse Marinaldo Cardoso de Queiroz, morador do Jardim Helena.

“Tem marmita que não dá nem para comer, porque está azeda e estragada. Mas a gente se alimenta do jeito que dá, e as crianças não podem ficar com fome. A comida não é para ser humano, nos tratam como bichos. Quando a água secar, a gente volta para casa e espera pela próxima enchente. Nós estamos esquecidos aqui”< disse Diana Ribeiro Sabino, moradora da Chácara Três Meninas.

Não tenho nem leite suficiente para o meu filho de 2 meses. Preciso economizar até o uso de fraldas, já que recebo só cinco por dia. A água chegou na minha casa e levou tudo o que eu tinha. Perdi até os documentos das crianças”, disse Kathlen Antonia dos Santos Penella, moradora da Chácara Três Meninas.

SEM ATENDIMENTO

Espera de até dez horas sem atendimento por cadastramento para benefício emergencial. Mais de 500 moradores que aguardavam a entrega de senha foram informados no começo da tarde desta quarta-feira que não seriam mais atendidos na escola municipal Mururés, no Jardim Helena. Episódio terminou com pedras e bombas sendo arremessadas na direção de guardas municipais.

Prefeitura de SP diz já ter distribuído mais de 1.200 cartões para beneficiar as famílias que tiveram as casas atingidas pela enchente. A administração municipal ainda analisa outros 3.500 cadastros para saber se as pessoas estão aptas a receber o benefício.

Cada família tem direito a R$ 1 mil no cartão de auxílio-emergencial. “Em razão da presença de pessoas de bairros não atingidos e de diferentes pessoas que residem numa mesma casa, a Prefeitura decidiu que não fará novos cadastros nos pontos de atendimento”, diz um trecho da nota enviada pela Prefeitura de SP.

“Promessa não cumprida”, queixam-se moradores. “Eu moro com as minhas três filhas e perdi tudo. Aqui; está todo mundo embaixo d’água. Prometeram, e agora estão se negando a fazer o cadastro das vítimas da enchente. Estão tratando os moradores com negligência e descaso”, disse a diarista Silvana dos Santos, 56, que mora com dois filhos em um imóvel atingido pela enchente.

“Tinha moradores aqui desde as 3h. A gente pegou chuva e sol. São idosos, crianças e até cadeirantes, mas a população não foi atendida. Perdemos tudo, e estamos pisando em água suja de esgoto”, disse Alana Cristina Oliveira, moradora.

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