Dólar fecha a R$ 5,79 e quebra sequência de 12 quedas; Bolsa sobe com Embraer e Santander

VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar interrompeu uma série de 12 quedas seguidas -a maior sequência negativa em 20 anos- e fechou a sessão desta quarta-feira (5) com alta de 0,41%, cotado a R$ 5,793. Apesar de registrar o primeiro avanço diário desde 17 de janeiro, a moeda norte-americana acumula uma baixa de 6,24% em 2025.

O mercado repercutiu dados econômicos do Brasil e dos Estados Unidos, as falas do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e monitorou os desdobramentos do conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo.

A divisa dos EUA começou o dia em queda e chegou a ser cotada a R$ 5,750, na mínima, às 9h07. Na máxima, bateu R$ 5,817, às 11h06. Durante a tarde, rondou a estabilidade, mas terminou em alta.

Lá fora, o dólar recuou diante da cesta das principais divisas globais e também da cesta de emergentes, enquanto se valorizou entre a maioria das moedas de países da América Latina. O índice DXY, que mede a força do dólar americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, recuou 0,35%.

Já a Bolsa teve alta de 0,30%, aos 125.534 pontos, com as atenções voltadas para Embraer, cujas ações dispararam 15,56%, a R$ 66,40, após receber a maior encomenda de jatos executivos da história, e para o Santander Brasil, que se recuperou e teve um lucro líquido gerencial de R$ 13,872 bilhões em 2024.

O bom desempenho do Santander ajudou a impulsionar o setor bancário e a puxar o Ibovespa para cima no pregão. A Petrobras pesou negativamente na esteira do declínio do petróleo no exterior.

Analistas pontuam que o dólar vinha atingindo patamares exagerados no Brasil, com os investidores repercutindo temores em relação ao cenário fiscal brasileiro. A divisa americana teve uma trajetória ascendente no fim do ano passado e chegou a renovar o recorde histórico para R$ 6,267.

O exagero, na visão de especialistas, forneceu espaço para a correção observada neste início de ano, o que, depois de doze sessões consecutivas de perdas, também permite uma reprecificação na direção contrária.

“Foram doze pregões seguidos de queda. Absolutamente natural um pregão de correção (hoje)”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Com ele concorda o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno. Para ele, não surgiu nenhum fato “efetivamente concreto” que justificasse a alta do dólar ante o real, a não ser uma “correção depois de 12 dias de recuo”.

“Não que este seja um sinal de reversão de tendência. Acho que a tendência de queda deve continuar”, afirmou.

Há analistas que ainda atribuem as quedas recentes do dólar à percepção de um governo norte-americano mais moderado sob o comando do presidente Donald Trump do que o esperado anteriormente.

Trump tem repetido suas ameaças de impor tarifas de importação sobre parceiros comerciais desde que tomou posse em 20 de janeiro, mas economistas têm percebido que as ameaças podem, na verdade, ser uma tática de negociação.

“É natural que haja algum receio no impacto do comércio global já que estamos falando das duas maiores economias do planeta. Mas acho que fica nisso. Trump é o rei da bravata”, disse Bergallo.

Na sessão desta quarta, os agentes financeiros repercutiram dados da produção industrial brasileira divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que cresceu 3,1% no acumulado de 2024, apesar da perda de força no fim do ano.

Em dezembro, a produção da indústria teve queda de 0,3% em relação a novembro, terceiro mês consecutivo no vermelho, período em que acumulou perdas de 1,2%.

“De modo geral, o crescimento do setor industrial em 2024 pode ser entendido a partir de alguns fatores, como o maior número de pessoas incorporadas pelo mercado de trabalho, a queda na taxa de desocupação, aumento na massa de salários e o incremento no consumo das famílias, beneficiado pelos estímulos fiscais, maior renda e a evolução na concessão do crédito”, disse André Macedo, gerente da pesquisa no IBGE.

O resultado mensal, no entanto, corrobora as expectativas de perda de força da economia no final do ano passado e de desaceleração em 2025, em meio ao aumento da taxa de juros, desvalorização do real e inflação elevada, mesmo com um mercado de trabalho robusto.

“Essa perda de dinamismo da indústria guarda uma relação com a redução nos níveis de confiança das famílias e dos empresários, explicada, em grande parte, pelo aperto na política monetária, com o aumento das taxas de juros a partir de setembro de 2024, a depreciação cambial, impactando os custos, e a alta da inflação, especialmente de alimentos”, disse Macedo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou nesta quarta-feira ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), um diagnóstico da economia brasileira no qual diz que o governo está construindo um “equilíbrio fiscal verdadeiro”, listando também 25 prioridades do governo para 2025 e 2026 na área econômica.

A apresentação aponta que o país vem crescendo acima das previsões, com desemprego no menor patamar da história, alta em investimentos e redução da pobreza.

Mais cedo nesta quarta, antes da reunião, Motta afirmou que a Câmara terá a responsabilidade fiscal como uma prioridade na sua gestão.

Após o fechamento dos mercados, as atenções se voltarão para comentários de Haddad, que concede entrevista à jornalista Miriam Leitão, com exibição às 23h30 na GloboNews.

Na cena internacional, também foram divulgados os dados de emprego nos EUA, que são monitorados com atenção uma vez que mostram o quão aquecida está a economia do país.

A depender do resultado, o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) pode manter a taxa de juros em patamares elevados -o que fortalece o dólar.

Segundo o Relatório Nacional de Emprego da ADP (Automatic Data Processing), foram criadas 183 mil vagas de trabalho no setor privado americano em janeiro, acima das expectativas. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 150 mil empregos no setor privado.

O Departamento de Comércio americano divulgou que as importações aumentaram 24,7%, saltando para US$ 98,5 bilhões em dezembro, nível recorde até então e acima do esperado pelo mercado -o maior valor havia sido em março de 2022.

Além disso, a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos desacelerou em janeiro, segundo o PMI (Índice de Gerentes de Compras), caindo de 54,0 em dezembro para 52,8 no mês passado -um PMI acima de 50 indica crescimento no setor de serviços.

O mercado seguiu repercutindo a política tarifária do presidente Donald Trump, tônica da sessão de terça.

No sábado (1º), o republicano assinou um decreto que aplicava taxas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China.

De lá para cá, porém, Trump costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos -e manteve as medidas contra os chineses.

Em conversas na segunda, Trump suspendeu a imposição de tarifas sobre o México e o Canadá por um mês depois de ambos os países reforçarem a segurança nas fronteiras com 10 mil agentes de cada lado.

Claudia Sheinbaum, presidente do México, anunciou o acordo pelo X (ex-Twitter). “Tivemos uma boa conversa com o presidente Trump, com muito respeito à nossa relação e soberania”, escreveu ela.

O reforço nas fronteiras será “para evitar o tráfico de drogas para os Estados Unidos, em especial de opioides fentanil”. Já os EUA se comprometeram em “trabalhar para evitar o tráfico de armas poderosas ao México”.

Já em relação ao Canadá, o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, concordou em enviar “10 mil funcionários da linha de frente” para a fronteira para “parar o fluxo de fentanil”. No X, disse que teve uma boa conversa com Trump e que o Canadá implementará um plano de US$ 1,3 bilhão para proteger as fronteiras.

Em ambos os casos, as suspensões darão espaço para negociações entre os países, visando um acordo econômico final. A manobra demonstrou a disposição de Trump em usar tarifas como barganha ante parceiros comerciais importantes, apesar de potenciais efeitos negativos para a própria economia americana.

Até então, tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, impostas no decreto de sábado, seriam uma espécie de sanção para os fluxos de imigrantes indocumentados para os Estados Unidos e de opioides fentanil.

Trump, porém, manteve as tarifas adicionais de 10% sobre produtos da China, que entraram em vigor nesta terça. A medida resultou em represália. Os chineses retaliaram com taxas sobre as importações dos EUA, renovando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

O Ministério das Finanças da China anunciou que vai impor taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA e 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, como caminhões elétricos da Tesla, de Elon Musk. Também terão início investigações antimonopólio sobre o Google, da Alphabet.

As novas tarifas da China sobre as exportações norte-americanas começarão em 10 de fevereiro, dando a Washington e Pequim tempo para tentar chegar a um acordo que as autoridades chinesas indicaram que esperam alcançar com Trump.

Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, esforços estão sendo feitos para agendar um telefonema entre Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, “muito em breve”.

A imposição de tributos mais altos pode afetar fluxos comerciais, aumentar custos e provocar retaliações.

Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados -o que fortalece o dólar.

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