Troca de mensagens mostra resistência a preferido de Lula para comando do PT

CATIA SEABRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Preferido do Palácio do Planalto para assumir a presidência do PT, o ex-prefeito Edinho Silva enfrenta resistências dentro da ala do próprio presidente Lula (PT) no partido, a CNB (Construindo um Novo Brasil).

A perspectiva de mudança na cúpula partidária tem fomentado a oposição dos ocupantes da atual direção ao nome de Edinho. A CNB ameaça se rebelar contra seu maior líder, procurando opções ao seu indicado.

Entre aliados de Lula, a aposta era que essa resistência viesse a arrefecer depois que o presidente informou a petistas a intenção de nomear a atual presidente da sigla, a deputada federal pelo Paraná Gleisi Hoffmann, para o comando da Secretaria-Geral da Presidência.

Gleisi vinha defendendo um nome do Nordeste para sua sucessão no PT. Com ela fora do cargo, a articulação de alternativas a Edinho poderia ser reduzida, nos cálculos do governo. Não foi o que aconteceu.

Apoiadores do ex-prefeito de Araraquara tiveram uma amostra disso na noite de segunda-feira (3), quando um convite para um jantar com Edinho recebeu críticas no grupo de WhatsApp dos deputados que integram a corrente majoritária do PT. O encontro acabou cancelado.

Coordenador da bancada da CNB, o primeiro-secretário da Câmara, Carlos Veras (PE), publicou, no grupo, um convite para jantar com Edinho programado para esta quarta-feira (5) no apartamento do deputado Reginaldo Lopes (MG).

Líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE) foi um dos que reagiram ao convite sem prévio debate sobre a disputa. Ele chamou a iniciativa de precipitada, um caminho para a divisão interna.

Guimarães também lembrou que a esperada nomeação de Gleisi para a Secretaria-Geral da Presidência ainda nem sequer foi formalizada e tampouco se sabe quem a substituirá para conduzir a eleição. “Não podemos atropelar os ritos. Muitas vezes quem anda rápido come cru”, disse.

O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP), ressaltou o fato de o convite para o jantar fazer menção a “alguns deputados” entre os convidados.

Tatto disse que era equivocada uma reunião com apenas alguns parlamentares. Afirmou também que seria um caminho para um racha partidário.

“Veras, você, como ainda coordenador da bancada CNB, não pode se prestar a isso. CNB sempre se preocupou com o consenso progressivo. Isso não ajuda. É um desrespeito à presidente Gleisi e a toda a coordenação”, protestou.

Veras se justificou, afirmando que um “portador de convite não merece pancada”. À Folha o deputado afirmou que “seria um encontro nada formal com um companheiro do partido”.

Segundo ele, o encontro foi adiado em virtude da coincidência de data com um jantar que reunirá líderes do campo democrático, também programado para esta quarta.

“Não temos nenhum processo ainda aberto para sucessão do partido até porque temos um respeito muito grande pela presidenta Gleisi Hoffmann, condutora do processo de sucessão. Se tem alguma coisa que a gente preza no PT é conversar”, afirmou.

Outro aliado de Edinho afirmou que o adiamento se deu para ampliar a participação de deputados que poderão vir a apoiá-lo.

O futuro presidente do PT conduzirá a costura de alianças para as eleições presidenciais de 2026. O perfil de Edinho tem sido defendido por sua postura conciliadora, já que tem defendido a ampliação do diálogo ao centro e o fim da polarização.

À frente do PT, Edinho poderá buscar um alinhamento do partido à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele é apontado como um dos apoiadores de Haddad dentro do partido.

Sob a presidência de Gleisi, o PT aprovou documentos críticos à política econômica, classificada até de “austericídio”. Aliados de Lula avaliam que a provável entrada dela no governo é uma aposta para estimular a base social do partido e pode até amenizar as tensões com Haddad.

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