Advogado de PMs suspeitos de matar delator do PCC diz que perdeu visão de um olho após ataque

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FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O advogado Mauro Ribas Junior, 38, alvo de tiros em Sorocaba, interior de São Paulo, na noite de sábado (1º), diz que perdeu a visão do olho esquerdo depois de ser atingido por estilhaços do vidro do carro.

“Fui ouvido ontem, passei por corpo de delito, estou cuidando da minha recuperação. Perdi a visão do olho esquerdo, piorou bem o quadro do olho, estou indo ao médico diariamente. Não sei se é temporário, se é definitivo, mas foi por causa dos estilhaços”, afirmou.

Ribas Junior disse que não consegue trabalhar por causa da limitação na visão.

“Estava bem, passei por tratamento. Mas foi piorando no domingo (2). Não estou conseguindo trabalhar, não estou conseguindo enxergar a tela do computador, estou derrubando o copo da mesa”, explicou.

Ele defende os três militares suspeitos de participação no assassinato de Antônio Vinicius Gritzbach, 38, ligado à facção PCC (Primeiro Comando Capital) que fechou um acordo de delação premiada.

O advogado mora em Sorocaba e deixava uma obra na rua Projetada 1, no bairro Quintais do Imperador, quando o veículo em que estava, um Volkswagen Saveiro, foi alvo de tiros.

“Eu não vi nada, não vi se [o autor] estava em carro ou moto, não vi nada. Só vi que começaram a atirar”, disse.

Ele não foi atingido pelos disparos, mas teve ferimentos leves no rosto por causa dos estilhaços do vidro do carro. O advogado disse que ainda não sabe a razão do ataque e se tem ligação com o PCC.

“Minha cabeça está bagunçada com relação a isso. Faz quase dez anos que atuo na defesa de policiais militares, são quase 150 júris, em regra com vítimas do PCC ou não. Nunca passei por nada disso. Lógico que a gente falaria que é [ataque em razão de sua atuação], mas não consigo afirmar isso porque às vezes é algum oportunista”, disse à Folha no domingo.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do estado, a perícia analisou o carro e a polícia busca imagens de câmeras de segurança que ajudem a elucidar o caso.

A Delegacia de Homicídios do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de Sorocaba investiga o caso.

A força-tarefa do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) prendeu no dia 18 de janeiro um tenente suspeito de envolvimento na morte de Gritzbach.

Segundo a investigação, o tenente Fernando Genauro da Silva -que trabalha na 1ª Companhia do 23º Batalhão da Polícia Militar, na capital paulista– dirigia o carro em que estavam os atiradores que mataram Gritzbach na área de desembarque do Aeroporto Internacional de Guarulhos, no dia 8 de novembro do ano passado.

No dia 16 de janeiro, a Corregedoria da Polícia Militar prendeu o cabo Dênis Antonio Martins, 40, apontado pela investigação como um dos autores dos disparos que mataram o delator. Na ocasião, outros 14 policiais -2 tenentes e 12 cabos e soldados- também foram presos por fazer a escolta irregular de Gritzbach e envolvimento com o PCC.

O tenente preso, segundo apuração da força-tarefa, já trabalhou com o cabo Dênis na Força Tática do 42º Batalhão da PM, em Osasco, na Grande São Paulo, onde atuavam na mesma viatura.

A investigação descobriu que o celular de Silva recebeu ligações exatamente no momento em que o carro saiu para levar os atiradores até o delator e depois uma nova ligação quando o carro foi abandonado.

A defesa sustenta que o tenente é inocente. “Ele não cometeu esse crime, ele não estava no dia dos fatos”, disse o advogado Ribas Junior.

“Ele não fazia segurança para Gritzbach. Nunca fez. E não tinha relação profissional com os demais policiais”, acrescentou Ribas. A defesa é composta também pelo advogado Renato Soares.

A investigação agora busca identificar o terceiro ocupante do veículo, que seria o outro executor de Gritzbach. Além disso, também apuram se o tenente tem relação com os policiais militares que integravam a escolta irregular do delator do PCC.

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