Favoritos, Hugo Motta e Davi Alcolumbre mantêm tradição de ‘dinastias políticas’ no Congresso

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Favoritos para a presidência da Câmara e do Senado nas eleições que ocorrem neste sábado, 1.º, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), respectivamente, representam a continuidade de dinastias políticas que há gerações exercem influência em seus Estados e no Congresso Nacional. O legado, historicamente, fortalece políticos no cenário nacional e amplia as chances de que ambos exerçam mandatos de destaque nos próximos dois anos.

Há, na história do País, mais de uma dezena de políticos que já presidiram uma das duas Casas e construíram suas carreiras com base na herança política familiar. Entre eles, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Renan Calheiros, José Sarney, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira, Jader Barbalho, Antônio Carlos Magalhães, Humberto Lucena, José Fragelli, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, entre outros.

Para o professor Ricardo Costa de Oliveira, decano do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal do Paraná e autor do mapeamento realizado a pedido do Estadão, os perfis de Motta e Alcolumbre refletem a continuidade de uma lógica histórica na política brasileira: a sucessão de nomes no cenário nacional, especialmente no Congresso, oriundos das chamadas “famílias políticas”. São grupos familiares que controlam redutos eleitorais e se perpetuam no poder por meio de heranças políticas e redes genealógicas. “Com mecanismos como fundos eleitorais e emendas parlamentares cada vez mais robustos, esses clãs políticos tendem a se consolidar ainda mais, dificultando a renovação do poder”, diz Oliveira.

Apontado como nome certo para suceder a Lira na presidência da Câmara, Hugo Motta vem de uma longa linhagem de políticos influentes, com raízes no século XVIII (1701-1800), período do Brasil Colônia, e forte ligação com a elite rural de Patos, no Sertão da Paraíba.

A ascensão do clã começou com seu avô paterno, Nabor Wanderley Nóbrega, prefeito de Patos entre 1956 e 1959, e com seu avô materno, Edivaldo Fernandes Motta, que iniciou sua trajetória política como vereador na cidade, exerceu cinco mandatos como deputado estadual (1967-1987) e foi eleito duas vezes deputado federal (1987-1992) pela Paraíba.

Sua avó materna, Francisca Motta, ampliou ainda mais a influência da família, conquistando cinco mandatos como deputada estadual (1995-2012) antes de ser eleita prefeita de Patos em 2012.

A dinastia política teve continuidade com Nabor Wanderley da Nóbrega Filho (Republicanos), pai de Hugo Motta, que foi deputado estadual nas legislaturas iniciadas em 2014 e 2018 e atualmente cumpre seu quarto mandato como prefeito de Patos. Ilanna Motta, mãe de Hugo Motta, também ocupou cargos na administração municipal de Patos, exercendo as funções de secretária de Saúde e chefe de gabinete da prefeitura durante a gestão de sua mãe, Francisca Motta.

Em 2016, ambas foram alvo de uma operação que investigava irregularidades em licitações e contratos públicos firmados pelas prefeituras da região. Na ocasião, Ilanna Motta foi presa por cinco dias, enquanto Francisca Motta foi afastada do cargo de prefeita. Posteriormente, as duas foram absolvidas pela Justiça.

Quando fez o primeiro discurso como deputado federal aos 21 anos, em 2011, Hugo lembrou da trajetória do avô como parlamentar naquela Casa. “Junto de todo o sentimento de alegria que nos cerca neste momento, lembro da memória do meu avô, que também foi deputado federal nesta Casa, Edivaldo Motta, e tenho certeza que, onde quer que ele esteja, ele vai estar torcendo para que façamos um grande mandato”, afirmou.

Assim como Motta, Davi Alcolumbre vem de uma família com forte tradição política no Amapá. O patriarca do clã, Isaac Alcolumbre, conhecido como “rei do ouro”, era de origem judaica do Norte da África e chegou à Amazônia no início do século XX, consolidando a presença da família nos setores do comércio, da política e dos negócios. A influência se manteve com Samuel José Tobelem, pai de Davi Alcolumbre, empresário com forte presença no cenário político do Amapá.

Com uma ampla rede familiar na política local, Alcolumbre é irmão de Josiel Alcolumbre, seu atual suplente no Senado, que em 2024 tentou se eleger vereador por Macapá, e de Alberto Alcolumbre, presidente da Junta Comercial do Estado.

O senador também é primo de ex-parlamentares que construíram carreira no Estado, como Isaac Alcolumbre, deputado estadual por dois mandatos (2007-2015), o ex-vereador Moisés Alcolumbre (2005) e os ex-suplentes de senador Salomão Alcolumbre Júnior, cujo pai, Salomão Alcolumbre, foi primeiro suplente do então senador José Sarney. A força da família também se reflete em homenagens públicas: o Aeroporto Internacional de Macapá leva o nome de seu tio falecido, Alberto Alcolumbre.

Famílias políticas fortalecem candidaturas e devem continuar no poder

O professor Ricardo Costa de Oliveira avalia que a tendência é de uma maior perpetuação das famílias políticas, impulsionada pelo atual sistema político brasileiro, com fundos partidários turbinados e maior controle do Legislativo sobre o Orçamento, principalmente por meio das emendas parlamentares, cuja projeção para 2025 chega a R$ 50 bilhões. Como mostrou o Estadão, tanto Alcolumbre quanto Motta destinaram milhões de reais para seus redutos eleitorais, reforçando o controle de suas bases políticas e a influência de suas dinastias no cenário nacional.

Oliveira também destaca que o histórico político familiar é um fator fundamental para a consolidação do poder em nível nacional, já que proporciona vantagens estruturais que vão desde o acesso a redes de influência e financiamento eleitoral até a herança de capital político e reconhecimento público.

Para ele, candidatos oriundos de famílias políticas partem com vantagem nas eleições, beneficiados pelo controle de redutos eleitorais e maior capacidade de articulação nos bastidores do poder. “O fator ‘família política’ é um diferencial determinante para os políticos. Basta ver a história do Congresso”, resume.

O professor de Ciência Política do Insper, Leandro Consentino, aponta que Alcolumbre e Motta exemplificam esse processo, consolidando suas candidaturas com o apoio de diferentes matizes políticas e se beneficiando das estruturas que historicamente favorecem as famílias políticas no Brasil – um cenário que os fortalece para o exercício de seus mandatos. “Eles chegam muito fortes, com amplo apoio dentro do Congresso, e como representantes dos interesses do Legislativo, especialmente do Centrão”, afirma.

O pesquisador da UnB Lucio Rennó avalia que Alcolumbre e Motta devem ser eleitos em primeiro turno por aclamação – algo que não ocorre desde 2003, quando José Sarney e João Paulo Cunha foram escolhidos para presidir o Senado e a Câmara. Por outro lado, o cenário de baixa popularidade do governo Lula às vésperas de um ano eleitoral decisivo torna os futuros presidentes das Casas peças-chaves para as pretensões eleitorais da cúpula petista em 2026, explica Rennó.

“Lula precisa mais do Congresso do que o Congresso precisa dele. É fundamental que o presidente aprove projetos econômicos e sociais neste ano para viabilizar suas pretensões eleitorais em 2026 e, para isso, Alcolumbre e Motta serão essenciais. O cenário será desafiador para o Planalto”, avalia Rennó.

Estadão Conteúdo

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