Moradores do Jardim Vitória denunciam demolições sem aviso prévio no Riacho Fundo 1

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Por Camila Coimbra
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Moradores do condomínio Jardim Vitória, localizado na Granja Modelo do Riacho Fundo 1, foram surpreendidos por uma operação de demolição de casas e muros realizada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram), DF Legal e Polícia Militar na manhã desta quinta-feira (30). A ação, que ocorreu sem aviso prévio, contraria uma liminar judicial que suspende as remoções até que o governo apresente um plano de realocação para as famílias. Relatos de moradores destacam a sensação de impotência e o medo constante de perderem suas casas, muitas vezes enquanto estão no trabalho.

Nelson Teixeira da Rocha, 39 anos, morador do condomínio há sete anos, vive sob a ameaça de despejos desde 2019. Ele já teve sua casa demolida uma vez e relata que a rotina dos moradores é marcada pela insegurança. “Eu estava prestes a me mudar para minha casa nova. A mudança seria na sexta-feira, mas na quinta eles vieram sem avisar e demoliram tudo”, conta. Nelson descreve que as operações costumam ocorrer enquanto os moradores estão no trabalho, deixando-os sem tempo para reagir ou proteger seus pertences. “A gente sai cedo para trabalhar e, quando chega lá, recebe a ligação: ‘Está tendo operação no condomínio’. Hoje mesmo perdi o dia de serviço para voltar correndo”, desabafa.

Idilene Teixeira da Rocha, 34 anos, moradora do condomínio há quatro anos, vive na casa da mãe para ficar próxima ao Hospital da Criança, onde seu filho, que tem hidrocefalia, recebe tratamento. No dia da operação, ela saiu de casa às seis da manhã para levar o filho ao hospital, mas precisou retornar imediatamente ao receber a notícia das demolições. “Me sinto um lixo, sem poder fazer nada. Eles vêm armados, eu vou fazer o quê?”, questiona. Idilene também denuncia o uso excessivo de força pela Polícia Militar, citando um caso em que um adolescente levou spray de pimenta no rosto ao tentar pedir informações aos agentes.

O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) justifica as ações afirmando que o condomínio está localizado em uma Unidade de Conservação e em uma Área de Preservação Permanente (APP), o que impede a regularização da ocupação. O órgão aplicou uma multa de R$ 239.437,92 à Associação de Moradores por ocupação irregular dentro do Parque Ecológico Riacho Fundo. No entanto, o Ibram reconsiderou a demolição das casas, reconhecendo que a medida afetaria moradores que não participaram do processo administrativo.

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Apesar disso, a Justiça determinou a suspensão temporária de todas as operações de remoção e demolição no condomínio. A liminar judicial considera que as famílias podem estar em situação de vulnerabilidade e exige que o governo apresente um plano de realocação antes de qualquer desocupação. O juiz argumentou que, embora a ocupação seja ilegal e prejudique o meio ambiente, não é justo remover as famílias sem oferecer uma alternativa de moradia.

Enquanto o impasse judicial e ambiental persiste, os moradores do Jardim Vitória seguem vivendo em meio ao medo e à incerteza. Muitas famílias investiram todas as suas economias para construir suas casas e não têm para onde ir caso sejam despejadas. “Aqui somos todos trabalhadores, pais de família. Tem gente que, se perder a casa, não tem como pagar aluguel e vai ter que ir para um abrigo”, afirma Nelson.

A situação expõe a complexidade do conflito entre a preservação ambiental e o direito à moradia, deixando centenas de pessoas à mercê de decisões que podem mudar suas vidas de forma irreversível.

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