Imagens de câmeras ajudaram a polícia a prender suspeito de matar delegado na zona sul de SP

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A prisão de um dos suspeitos de envolvimento na morte do delegado Josenildo Belarmino de Moura Júnior, de 32 anos, na zona sul de São Paulo, contou com a colaboração de imagens de monitoramento de vias próximas ao local do crime, feitas pela empresa Gabriel. Os vídeos flagraram os assaltantes praticando outros crimes dias (e até minutos) antes da ocorrência, todos dentro de um raio de cinco quilômetros da Rua Amaro Guerra, no bairro Chácara Santo Antônio, onde Belarmino foi baleado, no dia 14 de janeiro.

A Secretaria de Segurança Pública diz que a Polícia Civil está empenhada na prisão dos envolvidos na morte do delegado, e afirma que as forças de segurança já prenderem mais de 13 mil pessoas e apreenderam 1.230 armas de fogo entre janeiro em novembro do ano, nas regiões da zona sul em que os crimes flagrados foram cometidos.

Pelas imagens, é possível ver que os bandidos têm um modo padronizado de atuação: circulam em motocicletas com mochilas de entregadores, rondam os alvos e, sem se intimidarem com a claridade do dia ou com a presença de outras testemunhas, abordam as vítimas nas ruas com a arma em punho. Nas ações, costumam agir em dupla ou em trio. Enquanto um pratica o assalto, outros parecem fornecer cobertura.

“É uma associação criminosa bem entrosada. Eles são bem organizados, em que um dos autores passa, faz a primeira ponta, até para evitar uma eventual abordagem da Polícia Militar, um vai atrás e o outro, no meio, abordando a vítima”, afirma Deglayr Barcellos, delegado assistente do 11° Distrito Policial de Santo Amaro, que está à frente do caso. “Eles agiam sobretudo na zona sul, em bairros como Brooklyn e Santo Amaro”, disse em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 28.

Crimes cometidos pelos assaltantes

Antes de assassinarem o delegado Josenildo Belarmino, os assaltantes realizaram um roubo no dia 9 de dezembro, por volta das 13h30, na Rua Pensilvânia, na Cidade Monções – uma distância de 2,9 km da Rua Amaro Guerra. A dupla de criminosos passa por um casal que está andando pela calçada. Eles chegam a parar as motos enquanto as vítimas passam. Em seguida, os bandidos dão partida, seguem pela rua e somem do alcance das imagens. O casal, então, conversa com outras pessoas. Os bandidos retornam, praticam o crime e fogem, seguindo pela contramão da via.

No dia 11 de janeiro, às 11h30, os criminosos fizeram uma tentativa de assalto à mão armada na Rua Antônio Aggio, no bairro Jardim Ampliação, em um local de pouco movimentação. Os bandidos circulam pela via com motos e mochilas de entrega, vão e voltam, enquanto algumas pessoas passeiam com cachorros. Ao abordam uma mulher, a vítima corre pela rua, enquanto o criminoso a persegue. Outras pessoas que presenciaram a cena também correm, e uma delas chega a voltar e tenta atrapalhar os suspeitos, que avançam pela rua.

No dia 14 de janeiro, às 11h20, minutos antes do crime que vitimou o delegado Belarmino, um dos suspeitos é flagrado assaltando uma pessoa na rua Bartolomeu Feio, no Brooklin, também à mão armada. O crime aconteceu poucos metros fora do alcance das câmeras, mas é possível ver o bandido descendo da moto e indo em direção a uma vítima e, na sequência, voltando ameaçando com uma arma um entregador que tenta sair do local.

Minutos depois do assalto na Rua Bartolomeu, por volta das 11h40, as câmeras flagraram os criminosos circulando pelas ruas da Paz e da Amaro Guerra. Josenildo Belarmino, de camisa preta, bermuda e chinelo, aparece nas imagens andando pela calçada. Os três motociclistas passam pelo delegado e avançam pela rua. Segundo o setor de inteligência da empresa Gabriel, é neste momento que o escolhem como alvo. Segundos depois, o crime acontece, metros à frente do alcance das câmeras.

Para relacionar o envolvimento dos suspeitos dos crimes anteriores com a morte de Belarmino, a equipe de inteligência da empresa Gabriel realizou um cruzamento de imagens que permitiu identificar semelhanças entre os casos.

Algumas delas foram: a presença da mesma placa usada por uma das motos nos crimes cometidos na Rua Antônio Aggio e na Rua Bartolomeu Feio, e também a mesma placa usada por outra das motos para os crimes da Rua Pensilvânia, em dezembro de 2024, e dos assaltos do dia 14 de janeiro.

O delegado Rogério Barbosa Thomaz, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que presta apoio às investigações, disse à reportagem que os criminosos tentavam disfarçar trocando e clonando a placa das motocicletas, mas confirmou que os motociclistas das ocorrências citadas estão envolvidos na morte de Belarmino.

A SSP informa que os endereços mencionados estão localizados na área atendida pelas 2ª, 3ª e 6ª Delegacias Seccionais, que já estão em posse das imagens dos fatos para identificar os suspeitos. “A atuação das forças policiais nessas regiões resultou na prisão de 13.737 pessoas e na apreensão de 1.230 armas de fogo de janeiro a novembro do ano passado”, diz a pasta

De acordo com Deglayr Barcellos, delegado assistente, os bandidos adotavam estratégias para despistar as autoridades, como usar motos diferentes, fazer a clonagem de placas e praticar rodízio entre os assaltantes na hora de praticar o crime. “Foram diversas motos utilizadas, diversas placas mapeadas. Ao menos 10 envolvidas, utilizadas nessa associação criminosa”, disse Deglayr Barcellos. “Eles não praticaram somente o latrocínio (contra o delegado Belarmino). No mesmo dia foram três fatos. Foram dois roubos anteriores e depois o latrocínio”.

Segundo Barcellos, o homem preso nesta terça é apontando como suspeito de ter efetuado os tiros que mataram Belarmino. A quantidade de integrantes da quadrilha, diz, pode chegar a seis pessoas. Existe, por enquanto, “a possibilidade” dele estar diretamente envolvido com o caso. Como o nome dele não foi revelado – os investigadores querem preservar as informações para não comprometer o inquérito -, a defesa do suspeito não foi localizada.

“Hoje foi a primeira grande fase desta investigação. Foi o primeiro passo, novas provas surgiram. Com isso, existem ainda diversas diligências a serem realizadas”, disse o delegado.

Relembre o caso

O delegado Josenildo Belarmino de Moura Júnior foi morto no dia 14 de janeiro durante um assalto no bairro Chácara Santo Antônio, na zona sul de São Paulo. Uma câmera de segurança registrou o momento em que a vítima é abordada. Nas imagens, é possível ver Belarmino, que estava de folga, caminhando pela rua Amaro Guerra de camiseta, bermuda e chinelo. Na sequência, o criminoso chega em uma moto, estaciona à frente de um trecho da calçada, perto de uma obra.

O ladrão, então, desce do veículo e aborda a vítima. De capacete e apontando a arma para Belarmino, ele revista o delegado, que estava armado. Em seguida, atira quatro vezes. Os tiros atingem as costas, o braço e a garganta da vítima. O delegado cai ao lado de um carro. O criminoso foge de moto com o celular e a arma de Belarmino. “O fato dele ser policial decretou a morte dele”, disse Deglayr Barcellos. Não havia necessidade do tiro.”

Nascido em Pernambuco, em agosto de 1992, a vítima tinha acabado de concluir o curso de formação da polícia e atuava no 11° Distrito Policial (Santo Amaro) há menos de um ano. Em dezembro, soube da notícia de que tinha aprovado em um concurso para atuar, também como delegado, no seu Estado natal. Ela tinha previsão de mudar no final de fevereiro deste ano.

Estadão conteúdo

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