Mudanças climáticas aumentaram probabilidade dos incêndios mortais em Los Angeles, diz estudo

powerful winds fuel multiple fires across los angeles area

GIULIANA MIRANDA
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS)

Incêndios como os ocorridos na região de Los Angeles, na Califórnia, a partir de 7 de janeiro -em pleno inverno no hemisfério Norte, fora do período habitual de maior ocorrência das chamas-, se tornaram mais prováveis em razão das mudanças climáticas.

A conclusão é de uma análise divulgada pelo grupo científico WWA (World Weather Attribution), com a participação de um time internacional com 32 pesquisadores.

A ocorrência e disseminação dos incêndios é um problema complexo e que agrega diferentes fatores. As mudanças climáticas, contudo, estão deixando o sul da Califórnia com condições ainda mais favoráveis à combustão.

Segundo o levantamento, as condições quentes, secas e de vento intenso que impulsionaram as queimadas ficaram cerca de 35% mais prováveis devido ao atual cenário de aquecimento global, com cerca de 1,3°C de aumento em relação às temperaturas do período pré-industrial.

Nessas condições, o quadro climático favorável ao fogo encontrado em Los Angeles neste começo de janeiro é esperado a cada 17 anos.

Os pesquisadores estimam que, se o ritmo atual de aquecimento se mantiver -o que, projetam, levará a um aumento de temperatura de 2,6°C até 2100-, as chances de ocorrência de condições climáticas semelhantes às deste janeiro ficarão ainda maiores, aumentando a probabilidade de extremos em cerca de 80% (1,8 vez) em comparação ao período antes da Revolução Industrial.

“A mudança climática aumentou o risco dos incêndios devastadores em Los Angeles. Condições de seca estão se prolongando no inverno, aumentando a chance de incêndios durante os fortes ventos de Santa Ana, que podem transformar pequenas ignições em infernos mortais”, disse Clair Barnes, pesquisadora do WWA no Imperial College em Londres, citando os ventos que fluem das montanhas em direção à costa, principalmente no outono e no inverno.

A cientista alertou para a necessidade de reduzir a emissão dos gases causadores de efeito estufa, que seguem batendo novos recordes. “Sem uma transição mais rápida para longe dos combustíveis fósseis que aquecem o planeta, a Califórnia continuará a ficar mais quente, mais seca e mais inflamável.”

A Califórnia é uma região tradicionalmente atingida por incêndios florestais, mas que se concentram tipicamente de julho a setembro, meses mais quentes e secos. Historicamente, as chuvas de outubro a dezembro encerravam a temporada de fogo.

Nas últimas décadas, porém, os níveis de precipitação caíram. Atualmente, de acordo com a pesquisa, ter baixos índices de chuva nos últimos três meses do ano ficou aproximadamente 2,4 vezes mais provável em um cenário sem o fenômeno El Niño.

A região tem agora condições de seca altamente inflamáveis que duram, em média, em torno de 23 dias a mais por ano. Por conta da variabilidade do regime de chuvas, a duração do período de seca pode ser ainda maior em alguns anos.

Na Califórnia, o risco de espalhamento do fogo é agravado também pela chegada da temporada dos chamados ventos de Santa Ana.

O início da época de chuvas, a partir de outubro, normalmente impedia que a intensificação dos ventos propagasse as chamas. No entanto, conforme mostra a pesquisa, o alongamento do período de seca faz com que, cada vez mais, as estiagens se sobreponham à temporada dos ventos.

Nos incêndios de 7 de janeiro, ventos de Santa Ana excepcionalmente fortes contribuíram para disseminar as chamas, que fizeram pelo menos 28 mortos e queimaram mais de 16 mil estruturas.

O relatório, que combinou dados observacionais e modelagens climáticas, indica que houve uma confluência desses fatores, combinados também a uma vegetação atipicamente mais abundante na região, o que deu ainda mais combustível para alimentar o fogo.

“A região não experimentou chuvas significativas desde maio de 2024, o que significa que gramíneas e arbustos estavam secos e altamente inflamáveis quando os incêndios começaram. Além disso, a precipitação acima da média nos invernos de 2022/23 e 2023/24 havia previamente incentivado o crescimento da vegetação, fornecendo mais combustível para os incêndios”, escrevem os cientistas.

A alternância brusca entre períodos de seca e umidade intensos tem causado as chamadas “chicotadas climáticas”, fenômeno que favorece os incêndios na Califórnia e em outras regiões do planeta.

O levantamento indicou ainda que o sistema de abastecimento de água para o combate às chamas teve falhas críticas, uma vez que não foi projetado para a demanda desses eventos de larga escala.

Os cientistas também apontam que populações vulneráveis -como deficientes e pessoas de baixa renda sem veículo próprio- foram desproporcionalmente afetadas pelos incêndios, uma vez que tiveram maior dificuldade para chegar a locais seguros.

Para Park Williams, professor de geografia na Universidade da Califórnia, o processo de reconstrução das casas e comunidades afetadas precisa levar em consideração a realidade climática e os riscos associados.

“As comunidades não podem se reconstruir do mesmo jeito, porque será apenas uma questão de anos antes que essas áreas queimadas sejam novamente cobertas por vegetação, e o alto potencial para incêndios rápidos retorne a essas paisagens.”

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