Energia solar: avanços e desafios no Distrito Federal

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Camila Coimbra
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Como alternativa para alternar o valor nas contas de luz, a energia solar tem ganhado espaço no Distrito Federal, consolidando a região como um polo promissor devido à sua localização estratégica no Centro-Oeste e à alta incidência solar. Cada vez mais vista como uma solução sustentável e econômica diante do aumento das tarifas de energia elétrica, a tecnologia também enfrenta desafios, como barreiras de infraestrutura, regulamentação e altos custos iniciais. Especialistas, consumidores e empresários da capital compartilham suas vivências, apontando avanços e desafios no caminho para a expansão dessa fonte renovável.

No Distrito Federal, em 2024, foram instaladas 6,2 mil novas unidades de energia solar, totalizando 70,6 megawatts de potência. Esse crescimento acompanha uma série de regulamentações que buscam incentivar o uso de fontes de energia mais sustentáveis e baratas. O sistema de compensação de energia, por exemplo, permite que a energia gerada a mais, como a de painéis solares, seja devolvida à distribuidora e depois usada para abater o consumo nos meses seguintes.

Os créditos de energia gerados podem ser mantidos por até 60 meses e, em alguns casos, podem ser transferidos para outras unidades de energia dentro da mesma área. No entanto, se for identificado que o benefício está sendo utilizado de maneira indevida, a distribuidora deve interromper o uso dos créditos e cobrar os valores devidos.

Walberto, especialista em direito de energia e sócio do escritório Ernesto, explica que o Brasil vive um momento de transição energética, buscando diversificar sua matriz historicamente baseada em hidrelétricas. “A energia fotovoltaica é o primeiro vetor dessa mudança para fontes renováveis. Ela não só é mais barata, mas também evita a dependência de combustíveis fósseis, como acontece nas termoelétricas”, destaca.

Apesar dos incentivos do governo federal, ele ressalta que a compatibilidade das redes elétricas com novas fontes de energia ainda é um problema. “Sem atualizações no sistema, o risco de sobrecarga pode resultar em falhas no fornecimento”, alerta.

Outro desafio, segundo Walberto, está na revisão da compensação tarifária pela ANEEL. “Hoje, quem tem condições de investir em energia solar paga menos, mas a coletividade arca com custos maiores. Isso inverte a lógica da justiça tarifária e exige mudanças nas políticas públicas. É um tema delicado, mas necessário para democratizar o acesso à energia limpa”, afirma.

O custo inicial elevado é outra barreira significativa. “A dependência da importação é um fator crítico. Setenta por cento dos painéis solares vêm da China, e o preço desses equipamentos subiu 30% nos últimos três anos, dificultando ainda mais o acesso à tecnologia”, pontua o especialista.

Sândro Brito, publicitário de 53 anos, decidiu investir em energia solar há dois anos e meio, motivado pelo aumento das contas de energia elétrica e pela busca por uma solução sustentável. “No início, quando pedi um orçamento, o custo era de R$ 28 mil. Não conseguimos fazer o investimento na época, mas quando nossa conta dobrou, chegando a R$ 1.100, o preço caiu para R$ 23 mil e tornou-se viável”, relata.

Com o sistema instalado, Sândro viu sua conta de energia despencar. “Antes, pagava R$ 840; agora, são apenas R$ 80. A economia é inacreditável”, celebra. Além disso, ele destaca os benefícios ambientais: “Com o calor intenso dos últimos anos, decidimos instalar mais aparelhos de ar-condicionado. A energia solar nos deu a liberdade de usar mais energia sem nos preocupar tanto com os custos.”

Sândro também aponta a importância de se atentar ao mercado ao contratar empresas para a instalação. “Existem muitos profissionais, mas, com a oscilação do dólar, algumas empresas desaparecem e deixam os sistemas fotovoltaicos sem suporte. É essencial buscar uma empresa com histórico positivo e suporte robusto”, orienta.

Estelita Bites, aposentada de 71 anos, foi uma das pioneiras a adotar a energia solar em sua região. Mesmo com os altos custos em 2021, ela investiu na tecnologia e recuperou o valor em menos de três anos. “Eu paguei o investimento com a economia nas contas. Antes, minhas contas eram de R$ 400 a R$ 500. Hoje, variam de R$ 100 a R$ 200. A diferença é enorme”, conta.

Além da economia, Estelita valoriza a simplicidade do sistema. “O monitoramento remoto facilita tudo. A empresa me avisa quando há algum problema e faz os reparos. A limpeza das placas também é simples e acessível. Durante o período de garantia, está inclusa, e depois o custo é simbólico”, explica.

Estelita também se orgulha de contribuir para a sustentabilidade. “O sistema não só abastece minha casa, como também gera excedente que vai para a concessionária. É um ciclo que beneficia a todos”, conclui.

Franks Silva, 37 anos, empresário e proprietário de uma empresa especializada em energia solar no Distrito Federal, compartilha os desafios e avanços do setor na região. Para ele, apesar do crescimento na aceitação da energia solar, ainda há entraves que dificultam o pleno desenvolvimento desse mercado.

“O principal desafio aqui no DF é a falta de incentivos governamentais. Apesar de muitas publicações dizerem que o governo está investindo em energia renovável, isso não chega ao cliente final. A questão dos impostos para energia solar ainda pesa bastante”, afirma Franks.

Outro ponto destacado pelo empresário é a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. “A mão de obra hoje é um problema para o empresário. Precisamos de profissionais capacitados para atender à demanda crescente”, acrescenta.

O aumento na conta de energia elétrica também tem impulsionado a procura por sistemas fotovoltaicos. “Atualmente, o custo do quilowatt-hora no Distrito Federal está em torno de R$ 1,05. Isso torna a energia solar ainda mais atrativa, proporcionando maior rentabilidade para o cliente que investe nessa tecnologia”, explica.

Franks também observou um impacto positivo no setor devido à popularização dos carros elétricos. “A venda desses veículos cresceu bastante no DF, o que naturalmente aumenta o consumo de energia nas residências. No entanto, o gasto adicional com energia não se compara ao que seria gasto com combustíveis, e isso aqueceu o mercado fotovoltaico”, analisa.

Apesar do avanço, Franks alerta para um problema técnico que pode surgir: a inversão de fluxo de energia. “Devido à instalação massiva de sistemas solares, algumas regiões podem não estar preparadas para suportar essa demanda, especialmente em sistemas de maior porte. Já vimos isso acontecer em Minas Gerais, onde a concessionária local enfrentou dificuldades”, conta.

A empresa de Franks atua em todas as etapas do processo de energia solar, oferecendo venda, projeto e instalação de equipamentos fotovoltaicos. Com a crescente conscientização sobre os benefícios econômicos e ambientais dessa tecnologia, ele acredita que o setor continuará a crescer, mesmo diante dos desafios.

Gabriel Pires Iduarte, engenheiro mecatrônico de 29 anos e diretor de tecnologia em uma startup no Distrito Federal, destaca a falta de informação dos consumidores como um entrave para o setor. “Muitos não entendem que a manutenção, como a limpeza dos painéis, é essencial para garantir a eficiência das usinas. A sujeira impede a luz de alcançar os painéis e reduz a geração de energia. Ainda assim, os clientes só enxergam o custo da manutenção, e não o retorno financeiro que ela pode gerar”, explica.

A startup de Gabriel utiliza tecnologia de limpeza robotizada a seco, que é mais econômica e sustentável. “Essa tecnologia reduz o uso de água e é mais eficiente, mas enfrentamos resistência porque muitas pessoas desconhecem o impacto da sujeira na geração de energia. Precisamos provar que uma usina que perde R$ 15 mil por conta da sujeira pode recuperar esse valor com uma limpeza de R$ 5 mil. A conta é clara, mas a desinformação ainda é uma barreira”, ressalta.

O avanço da energia solar no Distrito Federal reflete um movimento global em direção à sustentabilidade. Especialistas, como Walberto, apontam que, apesar das dificuldades econômicas e estruturais, o setor continuará a crescer. “A transição energética é um caminho sem volta. Com os ajustes certos, a energia solar será a base de um futuro mais limpo e acessível”, finaliza.

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