DeepSeek se cala, mas chineses cantam vitória na ‘guerra de IA’

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NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS)

A sede da DeepSeek em Hangzhou, no noroeste da China, fechou na terça-feira (29) para o longo feriado, de oito dias. Não soltou nota e não se espera que anuncie nada de novo até a quarta da semana que vem, dia 5, quando termina o Festival da Primavera. Mas chineses em veículos de comunicação e redes sociais vêm proclamando vitória na resistência tecnológica ao cerco americano.

O CGTN, canal de notícias da rede oficial CCTV, afirma que o modelo de inteligência artificial da DeepSeek “rompeu os muros altos e os pequenos jardins”, referência à maneira como o governo Joe Biden descrevia suas políticas contra a China. Para o canal, “a noção de manter a liderança em IA através de táticas isolacionistas parece cada vez mais ultrapassada”.

Na mesma linha, o Beijing Ribao, um dos principais jornais da capital, opinou que a DeepSeek “deu um tapa retumbante na cara daqueles que tentam manter vantagem tecnológica através do isolamento”. E o influente portal privado Guancha, de Xangai, levou à manchete que “A competição de IA terminou, e os resultados chegaram”.

O jornalista Hu Xijin, hoje afastado do diário Global Times, tabloide do Partido Comunista da China, mas ainda influente através de diversas plataformas, escreveu no Weibo que “o aplicativo chinês de IA DeepSeek explodiu a aura de invencibilidade da indústria de tecnologia dos EUA”.

Executivos e investidores em tecnologia na China também se expressaram, com mais comedimento e propriedade, mas conteúdo semelhante. O CEO da Game Science, que criou o videogame de sucesso Black Myth: Wukong, escreveu também no Weibo que a DeepSeek pode alterar “o destino da nação” chinesa na guerra de tecnologia com os EUA.

E o CEO da Qihoo360, uma empresa de segurança de internet de Pequim, afirmou em vídeo publicado nas plataformas chinesas que “nós devemos ter confiança de que a China irá eventualmente vencer a guerra de inteligência artificial com os EUA”. Segundo ele, a DeepSeek virou o mundo de cabeça para baixo com seus modelos V3 e R1, no último mês.

Por outro lado, Jen Zhu Scott, da In.Capital, de Hong Kong, disse que “este é um momento monumental para o desenvolvimento global” de IA, não se limitando à China. “Por muito tempo, pareceu que o desenvolvimento seria centralizado nuns poucos atores, mas a DeepSeek não só tornou esses produtos gratuitos, mas toda a pesquisa de código aberto”, acrescentou.

Agora, diz “JenAI”, como é conhecida, numa referência a “GenAI”, a IA generativa, “o mundo tem este conhecimento”. Na entrevista ao programa The China Show, da TV Bloomberg, acrescentou que isso “democratizou para sempre” o modelo.

Em julho do ano passado, em entrevista ao veículo chinês Anyong publicada na plataforma WeChat, o fundador Liang Wenfeng afirmou que o propósito da DeepSeek não era virar “peixe-gato”, no sentido de uma empresa disruptora. “Nós não queríamos nos tornar, apenas nos tornamos, acidentalmente.”

Naquele momento, a DeepSeek havia chocado as líderes em IA no país, como Alibaba, Baidu e ByteDance, forçadas a reduzir preços e custos. A expectativa agora é quanto a seus próximos passos. O principal já foi dado, na direção de usar chips 910C da Huawei, outro “peixe-gato” chinês, para inferência.

Substituem os enfraquecidos H800 da Nvidia.

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