Campos Neto: Pix por aproximação não vai estar funcionando totalmente na semana que vem

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 30, que as transações com Pix por aproximação não vão estar totalmente funcionando na semana que vem. O produto, contudo, estará disponível “muito em breve”, conforme o banqueiro central.

“Não é que vai estar tudo funcionando na semana que vem, porque as pessoas precisam entrar, cadastrar… Mas vai estar funcionando muito em breve, ele é implementado meio de forma faseada”, disse Campos Neto, explicando que os usuários terão que colocar o Pix na carteira digital do Google, o Google Wallet, para fazer pagamentos por aproximação.

Um evento do BC com o Google, disse Campos Neto, vai acontecer nesta semana para divulgar a solução, já testada em projeto piloto. Ao participar de encontro da Anfidc, associação que representa participantes em fundos de investimento em direitos creditórios, o presidente do BC pontuou que outras empresas de tecnologia poderão incorporar o Pix em suas carteiras se desejarem. “É aberto para qualquer um.”

Ao mostrar dados como a inclusão de 71,5 milhões de novos usuários na plataforma como um exemplo da democratização do sistema financeiro, Campos Neto frisou que a bancarização aumenta à medida que o Pix cresce.

“A tecnologia é o maior instrumento de democratização que existe no mundo”, declarou Campos Neto, para na sequência pregar que todos os governos tenham um ministério voltado à adoção de tecnologias nos serviços públicos, de modo a melhorar sua qualidade com menor custo.

Durante a apresentação da agenda de inovação do BC, Campos Neto observou que uma “infinidade” de soluções poderá surgir a partir da união da programabilidade com a tokenização, além da abertura de dados do Open Finance. Citou como exemplo a possibilidade de fazer leilão de ativos, com divisibilidade automática e pagamentos programados, em plataforma. Reconheceu, no entanto, que nem tudo poderá ser entregue até o fim de seu mandato, em 31 de dezembro.

“Óbvio que gostaria de sair do Banco Central vendo tudo isso funcionando, mas tivemos algumas dificuldades ao longo do caminho, principalmente uma greve durante seis meses, que foi difícil.”

O presidente do BC destacou, por outro lado, que os projetos estão “se encaixando”, e demonstrou convicção de que a agenda de inovações financeiras vai mudar a realidade do Brasil. “Se a gente conseguir montar isso desse jeito, e acho que está praticamente encaminhado, dá para dizer com alguma folga que o Brasil vai ter o sistema de intermediação financeira mais avançado do mundo”, disse Campos Neto.

Drex

O presidente do Banco Central reforçou ainda a diferença da tecnologia do Drex, a moeda digital do BC, das tecnologias das demais moedas digitais existentes no mundo. De acordo com ele, grande parte das moedas digitais no mundo foi feita com a visão de que a moeda é emitia pelos banco centrais e logo o instrumento afeta o balanço destas instituições, entre passivos e ativos.

“O problema deste tipo de moeda é que, quando você a converte muito, você gera uma desintermediação dos balanços dos bancos, que é um problema que ninguém conseguiu resolver neste formato. Então, nós resolvemos fazer o Drex em um outro formato, que a gente chama de tokenização de depósitos”, explicou Campos Neto.

No modelo brasileiro, de acordo com Campos Neto, o banco bloqueia um depósito, emite um token que gera a moeda. “Lembrando que isso gera muitas vantagens porque, por exemplo, a regulamentação é muito mais fácil porque já temos a regulamentação de depósitos e, como isso, é um depósito digital, ele já tem a regulamentação por tabela”, afirmou o banqueiro central.

Então, continuou, ele Drex tem muitas vantagens e que no final é pensar como vai ser o mundo daqui a um ano e meio. “No final de 2025, vai ter alguns agregadores, alguns super Apps, que algumas pessoas gostam de chamar de marketplace de finanças, onde você não mais terá um App ligado a banco. Você vai ter seus dados centralizados ali e começará com uma experiência que eu acho que é muito mais rica. Por exemplo, se você quer fazer um pagamento, pode escolher se quer fazer com um banco ‘A’, ‘B’ ou ‘C’. Se eu quero fazer uma compra de crédito, boto lá uma compra eu vou ter um algoritmo que os bancos vão me dar, lembrando que nosso sistema tem o webhook, uma pesquisa constante até você ter uma comparação de preço”, disse.

É uma tecnologia diferente, reforçou o presidente do BC. Mas, segundo ele, o que importa mesmo é que no final haverá um marketplace com melhores produtos, produtos sob medida, um spread melhor, com preço melhor, com mais transparência e com ajuda de outras ferramentas de Inteligência artificial e monetização de dados.

Ao lembrar que era importante ampliar as possibilidade de uso de ativos fixos como garantia, de modo a reduzir o custo de crédito, Campos Neto citou avanços como o aperfeiçoamento do marco de garantias. Ao olhar para o futuro, ressaltou que quando o Drex começar a funcionar, será possível colocar um imóvel, como uma casa, dentro de uma plataforma para a realização de leilões com fracionamento do ativo. “Vai ter muita eficiência em relação ao que existe hoje”, concluiu.

Taxonomia

O presidente do Banco Central disse ainda que o G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, trabalha numa governança única para a interligação de sistemas de pagamentos instantâneos, como o Pix. Sob liderança do banco central da Itália, o grupo está discutindo uma taxonomia internacional de pagamentos, a ser observada pelos países que entrarem na rede.

“Vai ter uma taxonomia, com algumas regras, e quem quiser aproveitar isso, vai ter que entrar na taxonomia”, explicou Campos Neto.

Segundo o banqueiro central, as diferenças de governança representam o maior obstáculo na interligação dos sistemas, uma vez que os países têm controles diferentes contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, além de variações na tributação das transações financeiras. Assim, é necessário que exista uma governança única para os sistemas funcionarem em rede

Para Campos Neto, o debate sobre qual será a moeda do futuro vai perder importância se todos os sistemas de pagamentos instantâneos forem interligados. Ele usou também parte da palestra para destacar a inclusão financeira promovida pelo Pix, que chegou a 240 milhões de operações em um dia, ou mais de duas transações por brasileiro bancarizado.

“Nenhum outro país atingiu esta penetração”, comemorou Campos Neto, lembrando também que servidores do BC trabalharam até de madrugada para que a plataforma entrasse no ar em plena pandemia.

Estadão Conteúdo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.