Governo não está enxergando a nova crise de credibilidade que vem do IBGE

Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Há uma crise pronta e embalada para explodir nas redes sociais, arrancando mais um pedaço da credibilidade do governo, que anda em baixa. É a crise IBGE. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que sempre foi uma espécie de guardião dos números que moldam o Brasil, está no meio de uma tempestade política, que se tornou evidente ainda no ano passado, quando foi anunciada a criação da Fundação IBGE+, pelo presidente do órgão, Márcio Pochmann.

A fundação tem como objetivo captar recursos da iniciativa privada para apoiar as atividades do Instituto. No entanto, essa iniciativa gerou preocupações entre servidores, que temem que o financiamento privado possa comprometer a autonomia e a credibilidade da instituição. Eles, inclusive, passaram a chamar a fundação de IBGE paralelo e acusar o presidente de tomar autoritárias, que poderiam comprometer a credibilidade do instituto.

Pochmann chegou a ser alvo de uma carta dos servidores do IBGE, que expressaram preocupações com a falta de planejamento e diálogo, mediante medidas que consideram autoritárias.

Houve ainda pedidos de demissões de diretores, insatisfeitos com a forma de gestão do presidente. Essa situação tem sido explorada pela oposição, que não perdeu tempo em usar o episódio para buscar corroer, mais uma vez, a credibilidade do governo.

A narrativa mais recente das redes tem colocado em questão os dados do IPCA – o principal indicador de inflação no Brasil, que monitora o aumento ou a queda do custo de vida no País.

Como a inflação dos alimentos tem se tornado uma pedra no caminho do governo que vislumbra permanecer no poder, os dados do IBGE passaram a ser alvo de ampla contestação.

Os números que compõem a prévia da inflação e formulam o IPCA-15 foram anunciados nesta sexta-feira, mostrando uma desaceleração da alta de preços. Algo que já está envolvido em dúvidas e questionamentos, diante da percepção nítida nas redes de que os produtos alimentícios subiram muito mais do que o divulgado oficialmente. Há perfis que já pedem, inclusive, a instauração de uma CPI do IBGE.

Enquanto isso, seguindo o mesmo modelo que vigorou durante a recente crise do Pix, o governo segue inerte, esperando talvez um novo vídeo da oposição para tomar uma atitude, depois que a crise escalar.

A inércia, na política feita na era das redes, custa muito caro e causa danos que podem ser irreversíveis. Se o governo perder de vez a capacidade de dar esperança às pessoas, pode começar a se preparar para passar o bastão para seus opositores.

Opinião Estadão

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