Milei faz seu maior aceno ao campo e reduz impostos de exportação do agro

MAYARA PAIXÃO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

Há quem diga que o governo de Javier Milei está em seu “momento de húbris” -tomado por um ego desmedido diante de sua boa performance. Seja como for, os resultados da gestão na Argentina lhe têm permitido fazer acenos importantes. Desta vez, ao campo.

Após pressão, a administração do ultraliberal anunciou nesta quinta-feira (23) a redução temporária das “retenções” (os impostos de exportação) para o agronegócio e a eliminação permanente das tarifas para as economias regionais, como açúcar, algodão e arroz.

Da próxima segunda-feira até 30 de junho, mercados como o de soja e seus derivados; de milho, de trigo, de cevada, de girassol e de sorgo terão os impostos reduzidos.

“Queremos mostrar ao campo que estamos atentos, que não somos indiferentes, de alguma maneira é um demonstrativo de solidariedade, de justiça”, disse o ministro da Economia Luis “Toto” Caputo.

O pai do ortodoxo plano econômico de Milei mencionou a difícil situação do agro, fruto da seca histórica que afetou as safras em 2023 e da diminuição dos preços internacionais das commodities. “Adoraríamos poder eliminar a zero e de forma permanente as tarifas, mas isso exigiria um superávit de US$ 8 bilhões, que hoje não temos.”

“Este é um governo que veio para diminuir impostos, tirar a mão do Estado da cabeça do setor privado. Mas, como uma consequência do desastre herdado, precisamos de superávits fiscais para fazer isso”, seguiu Caputo, falando em Buenos Aires.

A Argentina registrou um superávit comercial recorde de US$ 18,9 bilhões em 2024, de acordo com dados oficiais divulgados no início da semana e que coincidem em grande parte com o primeiro ano de Milei. O resultado positivo superou o recorde anual anterior de US$ 16,89 bilhões, estabelecido em 2009.

Sob a batuta do governo Milei, o país reduziu os índices inflacionários de 25,5% em dezembro de 2023, quando o autodeclarado libertário chegou à Casa Rosada, para 2,7% no último dezembro.

Com esse espírito e imbuído no ânimo pelo retorno do aliado Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, Milei chegou ao Fórum Econômico de Davos com um discurso agressivo marcado por sua agenda econômica e por sua defesa da guerra cultural.

A Argentina é o principal exportador mundial de azeite e farinha de soja, e o terceiro de milho. Uma nova temporada de seca, intensificada por uma forte onda de calor, fenômeno cada vez mais frequente, tem preocupado ao produtores.

Informe divulgado pela Bolsa de Comércio de Rosário nesta quinta-feira, pouco antes do anúncio do governo, apontou que, diante de escassas chuvas, 55% da área cultivada de soja no país está em condições consideradas de regulares a ruins.

Produto – Imposto atual (em %) – Novo imposto (em %)
Soja – 33 – 26
Derivados de soja – 31 – 24
Milho e trigo – 12 – 9,5
Cevada – 12 – 9,5
Girassol – 7 – 5,5
Sorgo – 12 – 9,5

Adicionar aos favoritos o Link permanente.