Presidente Tim

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Esta era a frase que o presidente da Sociedade Esportiva do Gama, Erminio Fereira Neves, mais gostava de falar. Mas o Gama nem sempre o amou. Um dia, o abandonou, o afastou por completo de sua vida, como veremos adiante.

Mineiro, nascido (02.04.1926) em Rubim, a 784 quilômetros de Belo Horizonte, como todo garoto brazuca, ele foi mais um dos “tantos muitos” que jogavam futebol pelas ruas de sua cidade e de Almenara, por onde também passou, os 15 de idade. O apelido surgiu porque diziam que ele queria ser o (driblador) Tim (Elba de Pádua Lima), que defendera a Seleção Brasileira da Copa do Mundo-1938. “Tim era, também, mais fácil para a molecada falar do que Hermínio”, achava.

Nas peladas de rua e em seu primeiro time organizado, o Iguaçu, em Araçuaí, na região do Vale do Jequitionha, ele rolava a bola em qualquer posição do ataque, até que pintou em um time maior, o Atlético, de Teófilo Otoni. Depois, achou que tinha bola para encarar o Atlético Mineiro, e tentou. Mas uma forte pancada em um dos pés acabou com o seu sonho de ser um ídolo da torcida do Galo, aos 25 de idade.

Em 1961, o desiludido (com o futebol) Tim resolveu tentar a vida em Brasília, da qual muito ouvia falar, sobretudo das oportunidades de emprego. Como aprendera o ofício de barbeiro durante o tempo em que não podia rolar a bola, veio e foi trabalhar na Cidade Livre (hoje, Núcleo Bandeirante). “Depois, na (SQS) 306 Sul (Salão Ceará) e no Supremo Tribunal Federal-STF, sempre cuidando de cabelos, barbas e bigodes” – e só falando de futebol com os clientes, lembrava.

Como a grana que ganhava era curta, o sempre durão Tim foi residir na cidade satélite do Gama, onde, curado da lesão em um dos pés, chegou a jogar pelo time do Gaminha.

Tempinho depois, embora bem enturmado no ambiente futebolístico da cidade satélite, ele desentendeu-se com os diretores do Gaminha e, em 14 de fevereiro de 1965, juntou-se a outros dissidentes para formar o Minas Atlético Clube, que disputou vários torneios da cidade sem nunca carregar um caneco.

Após juntar algumas economias, para ficar mais perto do emprego, o cansado (de pegar ônibus lotado) Tim mudou-se para o Cruzeiro, em 1966, mas não se desligou dos ares boleiros do Gama dos finais de semana.

Nove temporadas se passaram e, quando a FMF se mexeu para promover o seu primeiro campeonato de futebol profissional, um animado Tim reuniu a diretoria do gamense Minas e propôs criar o primeiro clube do setor em uma cidade satélite de Brasília. Proposta aceita, ele pediu audiência ao administrador regional (prefeitão) da cidade, Walmir Bezerra, para pedir apoio, o que lhe foi prometido, desde que mudasse o nome do Minas Atlético Clube, para Sociedade Esportiva do Gama, ficando com a sigla SEG, a do órgão ao qual o administrador era lotado-Secretaria de Governo.

Saído do gabinete do administrador do Gama, um mais do que animado Tim marcou com os amigos Antônio José Gonçalves, Antônio Domingos de Aguiar, José Rafael de Aguiar, Luiz Alberto Brasil de Carvalho, Palmiro Bueno Nogueira Barros, Esmerindo Valeriano da Silva e Otacílio Nascimento de Freitas fundarem a Sociedade Esportiva do Gama, no 15 de novembro de 1975 – e fundaram.

Clube na praça, a segunda ideia do Tim foi ter por escudo o desenho de uma coluna do Palácio da Alvorada, a residência do presidente da república. “O meu pensamento era homenagear Brasília por um símbolo da (arquitetura) da cidade”, explicou ele, que havia tirado empréstimo de Cr$ 5,5 mil cruzeiros junto à Caixa Econômica Federal para os gastos iniciais de regularização do clube no profissionalismo.

Tim foi sincero com os primeiros atletas a assinarem contrato com o Gama, em um prédio sobre a loja dos Móveis Guará – prometido um salário-mínimo mensal (Cr$ 800 cruzeiros, a moeda da época): “O clube não tem condições de pagar nada. Se conseguir alguma renda em seu jogos, divido tudo com vocês, e dividi, afirmou ele que disse mais: “Algumas vezes, para não deixar a moçada tão decepcionada, eu e os outros diretores tiramos o pouco que tínhamos nos bolsos e passamos para eles. Fizemos o que pudemos”.

Bola rolando no nascente futebol profissional candango, o Gama foi o pior time das primeiras disputas. Levou goleadas durante uma competição experimental –Torneio Imprensa – e só venceu uma partida do I Campeonato Brasiliense de Futebol Profissional.

Por ter nível cultural baixo, o Tim foi pressionado a deixar a presidência do Gama, como contou: “O doutor Walmir (Bezerra, administrador regional da cidade do Gama) para nos dar apoio, pediu mudança no nome (do clube, de Minas Atlético Clube para Gama). Depois, pra eu deixar o comando (do time) e indicou o seu principal assessor (Márcio Tanus de Almeida) para o meu cargo (de presidente do Minas AC). Fiquei chocado, porque eu havia me sacrificado muito para o Minas representar a cidade (do Gama) no campeonato (de profissionais). Havia deixado um cheque, com o doutor Wilson de Andrade (presidente da FMF), para garantir a filiação (do Minas), e tirei empréstimos, de Cr$ 7,5 mil cruzeiros, na Caixa Econômica Federal, na CAPEMI (caixa de pecúlio de militares) e no IPASE (instituto pensionista de servidores públicos). Levei mais de um ano pagando tudo, do meu bolso, com desconto em folha salarial no Supremo Tribunal Federal”.

Tudo isso aconteceu porque o Tim foi uma festa no clube gamense Opromeso e ouvido do Sargento Walter (como era conhecido nos meios futebolísticos do Gama) que o seu time, o Flamenguinho, iria representar a cidade no campeonato de profissionais da FMF (em 1976). “Não aceitei aquilo, pois o time dele era recente, enquanto o meu rolava a bola há 13 anos. Me apressei, para o Minas, que eu havia fundado, em 1962, não perder aquela chance, pois tinha história, desde que consegui autorização da administração regional para fazer o campo onde a moçada treinaria, atrás de um supermercado no Gaminha (setor assim chamado n cidade do Gama). Com a nossa primeira rapaziada, disputamos vários torneios do Departamento Autônomo da Federação. Tinha de ser a gente”, defendeu.

Tim deixou a Sociedade Esportiva do Gama em 20 de junho de 1976. Em 1978, o símbolo que ele havia criado para a camisa alviverde foi trocado por um desenho riscado pelo arquiteto da Administração Regional, o baiano Alberto Farah, que bolou algo que lembrasse uma mão segurando uma bola, parodiando com o símbolo do Brasília Esporte Clube (pé em movimento chutando uma bola) e o da Copa do Mundo da Argentina-78. Enfim, nada que que lembrasse o fundador, ficou no clube que ele fundou e do qual lembrava: “Deus tem quatro letras e o Gama, também”.

Passado dos 70 de vida, o Tim residia em Sobradinho, tendo dificuldades para pagar o seu aluguel. Então, mordia uns trocos em uma barbearia da Quadra 8, ‘também, para espantar a solidão”, dizia, acrescentando que não tirava o ouvidos do rádio nos dias de jogos do Gama. Sentia saudades do volante Santana, jogador de chute forte, que sabia cadenciar o jogo e fazia gol, cobrando faltas, de longa distância.

Longe do Gama, o fundador Tim só recebeu dois convites para voltar ao clube: dos presidentes Osvando Lima (em 1980), “para presidir (simbolicamente) uma reunião de diretoria” e de Wagner Marques (em 2000) para participar das comemorações dos 25 anos do clube’, lembrava.

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