Em visita sem agenda e cronograma públicos, comitiva da ONU avalia estrutura para COP30 em Belém

VINICIUS SASSINE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)

Uma comitiva da ONU (Organização das Nações Unidas) visita Belém nesta semana para avaliar as obras de infraestrutura da COP30 (conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas), que será realizada de 10 a 21 de novembro na capital do Pará.

A agenda da comitiva e o cronograma da visita são mantidos em sigilo pelos governos federal e do Pará, responsáveis pela cúpula do clima no Brasil.

A equipe vinculada ao braço da ONU que cuida das discussões sobre mudança do clima, a quem cabe a realização das conferências anuais, buscou informações sobre o andamento das obras para a realização do evento, sobre a logística que estará disponível aos 40 mil visitantes esperados na cidade e sobre a oferta de leitos.

Os integrantes da ONU encontraram obras espalhadas pela cidade, para as quais não há transparência governamental em relação ao estágio atualizado dos empreendimentos. Os gastos públicos federais previstos são de R$ 4,7 bilhões, entre recursos do Novo PAC, do BNDES e de Itaipu Binacional.

Até agora, a dez meses da realização da COP, não se sabe o estágio exato das obras, e apenas uma pequena parte foi entregue.

Outro foco de preocupação nos governos Lula (PT) e do Pará, de Helder Barbalho (MDB), é a oferta de leitos para os visitantes. Belém não tem capacidade de hospedagem para o número de pessoas esperadas e foi preciso improvisar nas medidas previstas, como a atracagem de navios de luxo em um distrito da cidade, Outeiro, e a adequação de escolas para hospedagem.

A visita da ONU ocorre em meio a uma manifestação de indígenas na capital paraense. Eles ocupam, há uma semana, a sede da Secretaria Estadual de Educação, num protesto contra a substituição de aulas presenciais nas aldeias por aulas online.

Sem agenda e sem cronograma públicos da visita da comitiva da ONU, não foi possível saber com antecedência os lugares percorridos, o que evitou, até agora, protestos dos indígenas mobilizados em Belém e uma cobertura da imprensa.

“A agenda da missão da ONU é fechada, e não será divulgada com antecedência”, disse a assessoria do governo federal, responsável pela COP30 no Brasil. O governo do Pará também não informou a agenda e o cronograma da visita, nem o estágio das obras visitadas.

A comitiva está em Belém desde segunda (20) e deve ficar na cidade até a sexta (24). Entre as visitas feitas, estão o Hangar Convenções e o Parque da Cidade, que ficará ao lado. O parque será o principal espaço para os eventos oficiais da COP30.

Ele fica em um antigo aeroporto e está conectado ao centro de convenções. Também houve visita à Vila COP30, uma construção que se propõe a ser de alto padrão, e a uma escola a ser adaptada para hospedagem.

“As COPs são grandes projetos, que são muito desafiadores. E trazer a COP para a Amazônia é um desafio ainda maior”, disse o oficial de conferência do UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Khalid Magzoub, que integra a comitiva em Belém.

“Há uma dedicação do governo do Brasil e do Pará a esse projeto e estamos otimistas quanto ao sucesso”, afirmou. “A gente visita esses países para avaliar a infraestrutura disponível, para ver se podem receber a COP.”

Segundo ele, a avaliação incluiu uma análise sobre expansão do centro de conferência e sobre quantidade e qualidade dos quartos que estarão disponíveis.

Nesta terça-feira (21), em Brasília, o presidente Lula (PT) anunciou que o presidente da COP30 será o embaixador André Corrêa do Lago. O diplomata é secretário de clima do Ministério de Relações Exteriores.

Para a direção-executiva do evento, no chamado posto de CEO da COP, o governo escolheu a atual secretária de clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni.

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