Dólar abre em alta frente ao real e principais moedas do mundo após posse de Trump

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar abriu em leve alta nesta terça-feira nas primeiras negociações, refletindo o que ocorre nos principais mercados do exterior, com a moeda norte-americana se valorizando um dia após a posse do presidente dos EUA, Donald Trump.

Às 9h45, o dólar subia 0,28%, a R$ 6,059. Na segunda-feira (20), a moeda encerrou a sessão com queda de 0,36%, cotado a R$ 6,042, após a realização de leilões de dólares realizados pelo BC (Banco Central) e o discurso de posse mais moderado de Donald Trump sobre tarifas. Já a Bolsa encerrou com alta de 0,41%, aos 122.855 pontos.

Nesta terça-feira, o dólar está em valorização na comparação com outras moedas. Na abertura dos mercados na Europa, o euro chegou a cair 0,6% e estava cotado a US$ 1,04. A libra esterlina tinha queda de 0,6%, a US$ 1,23, enquanto o peso mexicano se desvalorizava 1,3%, e o dólar canadense, 1%.

Uma das poucas moedas que se valorizou frente à divisa norte-americana foi o iene, que fechou em alta de 0,5%, cotado a 154,78 ienes.

A performance foi impactada pelo anúncio de Trump que ameaçou impor tarifas de 25% aos produtos importados da México e Canadá a partir de 1º de fevereiro, e de 100% sobre China, além de exigir que a União Europeia comprasse mais petróleo dos EUA.

As principais Bolsas da Ásia não sofreram oscilações significativas. As ações de Hong Kong subiram 0,91%, maior patamar em cinco semanas, em movimento antagônico às ações de baterias e energia, que caíram. Já as Bolsas da China ficaram praticamente estáveis, com o índice CSI300 (que reúne as principais companhias de Xangai e Shenzhen) oscilando positivamente 0,08%, e o índice de Xangai, negativamente a 0,05%. No Japão, o índice Nikkei subiu 0,32%.

Já o minério de ferro teve alta de 0,56% no contrato de maio na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China, cotado a 804,5 iuanes (US$ 110,57) a tonelada. No início da sessão, o contrato atingiu o valor mais alto desde 12 de dezembro de 2024, em 808 iuanes.

Na segunda-feira, o dólar iniciou o pregão rondando a estabilidade, chegou a operar em leve alta, com investidores à espera da posse de Trump como presidente dos EUA, mas apresentou queda depois que o BC vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha.

A tendência de baixa seguiu firme após Trump não mencionar em seu discurso de posse um prazo para impor tarifas de importação. Em vez de taxar os países, o presidente prometeu, de forma genérica, uma revisão do sistema comercial.

A queda do dólar também segue em linha com os mercados globais, que reagiram à informação de altos funcionários da nova administração de que Trump pretendia avaliar as relações comerciais com México, Canadá e China, e de que não imporia rapidamente novas tarifas.

A moeda teve uma desvalorização de 0,9% em relação a uma cesta de seis moedas globais nesta tarde no mercado em Londres, colocando-a no caminho para seu maior declínio diário em mais de cinco meses.

Uma matéria do The Wall Street Journal indicou que Trump divulgaria um memorando nesta segunda instruindo as agências a investigarem os déficits comerciais e as práticas comerciais injustas, mas não adotaria novas tarifas em seu primeiro dia no cargo.

Inicialmente, os investidores estavam preparados para ações rápidas e agressivas, como a imposição de tarifas. Entretanto, a sinalização de um período de avaliação antes de qualquer medida tarifária frustrou as expectativas, levando à desvalorização do dólar.

A cautela de Trump em relação às tarifas comerciais causou volatilidade no mercado, impactando negativamente o dólar e influenciando moedas globais.

O euro e a libra esterlina valorizaram-se 1,1%, registrando seus melhores desempenhos desde o final de 2023.

O peso mexicano e o dólar canadense subiram 1%, alcançando seus maiores ganhos em meses.

Apesar da postura inicial de Trump, existe potencial para tarifas mais agressivas no futuro, dependendo das revisões comerciais.

A repercussão mais ampla dos anúncios do novo presidente só deve ser conhecida na terça-feira (21), uma que vez os mercados dos EUA fecharam nesta segunda em razão do feriado do Dia de Martin Luther King Jr.

“A agenda foi relativamente tranquila, não teve outros fatores além da posse do Trump e dos leilões do Banco Central. Decretos de Trump podem ter impacto no dólar, mas como ele fala bastante, parte já está precificado”, disse Tiago Feitosa, fundador da T2 educação.

Após vencer as eleições de novembro, Trump tomou posse nesta segunda, ao lado do vice, J.D. Vance, retornando à Casa Branca após quatro anos.

A cerimônia começou com a tradicional participação de Trump em um culto na Igreja Episcopal de St. John, localizada próxima à Casa Branca.

Em seguida, como parte do protocolo de transição, ele tomou chá com o agora ex-presidente Joe Biden.

Devido ao mau tempo em Washington, com previsão de frio intenso e neve, o juramento foi realizado dentro do Capitólio.

Trump e Vance se reuniram com apoiadores em um centro de eventos na capital americana, onde o presidente fará seu primeiro discurso oficial. Depois, já na Casa Branca, Trump assinou os primeiros atos do mandato.

Na cena doméstica, o BC vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha, na primeira intervenção no câmbio da da gestão do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo.

Nessa modalidade, a autoridade monetária vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.

No primeiro leilão, foram aceitas três propostas no valor de US$ 1 bilhão, entre 10h20 e 10h25, a uma taxa de corte de 5,851% e com data de recompra no dia 4 de novembro de 2025.

Já o segundo leilão ocorreu das 10h40 às 10h45, quando foram aceitas duas propostas no valor de US$ 1 bilhão, a uma taxa de corte de 5,879% e terá como data de recompra o dia 2 de dezembro de 2025.

Ambas as vendas foram realizadas com base na taxa de câmbio da Ptax das 10h, que marcava R$ 6,078. O BC não informou o motivo das operações.

“O leilão de hoje foi de surpresa. Não havia ninguém com expectativa de leilão por agora, mas não apenas Galípolo é o novo presidente, como também o BC trocou o diretor”, comentou André Valério, economista sênior do Inter.

Em dezembro, ainda sob a presidência de Roberto Campos Neto, o BC vendeu um total de US$ 32,6 bilhões em leilões ao mercado, considerando operações de linha e operações de venda de moeda sem compromisso de recompra.

Na época, o BC quis atender à tradicional demanda de fim de ano por moeda, quando fundos e empresas costumam enviar recursos ao exterior.

“Dezembro foi um mês muito atípico, com o BC torrando as reservas com vários leilões, porque tinha saída muito grande, e o mercado não estava muito funcional”, acrescentou Valério, lembrando que janeiro é tipicamente um mês de entrada de dólares no país, e não de saída.

Os dados mais recentes do fluxo cambial brasileiro, no entanto, sugerem que pode haver algum “resquício” de envio de moeda ao exterior em janeiro. Neste mês até o dia 10, o fluxo brasileiro estava negativo em US$ 4,610 bilhões.

As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) fecharam a segunda-feira em baixa, refletindo o recuo firme do dólar ao redor do mundo em uma sessão de otimismo, após notícias da posse de Trump e leilões do BC.

No fim da tarde, a taxa do DI para julho de 2025 -um dos mais líquidos no curtíssimo prazo- estava em 14,04%, ante o ajuste de 14,031% da sessão anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 14,935%, com queda de 3 pontos-base ante o ajuste de 14,963%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 15,02%, em baixa de 13 pontos-base ante 15,153% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,96%, ante 15,07%.

No trecho curtíssimo da curva, porém, as taxas pouco variaram, mantendo a precificação para o próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, no fim deste mês.

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