Aliados de Bolsonaro apostam em ofensiva de Trump e Musk contra Alexandre de Moraes

Foto: Cristiano Mariz/ Agencia O Globo

A análise de parte do entorno do ex-presidente é que a negativa de Moraes sobre o pedido de sua defesa para que ele reavesse seu passaporte e fosse autorizado a viajar para os EUA para acompanhar a posse de Trump, embora criticada, ajudou a reforçar a narrativa bolsonarista de perseguição jurídica entre os aliados americanos.

Estes mesmos aliados avaliam que um sinal verde do ministro dificultaria o argumento de que Bolsonaro é vítima de “lawfare”, termo usado pelo novo presidente americano para se referir aos diversos inquéritos abertos contra ele durante o governo Joe Biden. O ex-presidente foi convidado por Trump e acabou representado pelo seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle.

“Por esse motivo eu estava pessoalmente torcendo pela rejeição do pedido, e muita gente no entorno também”, confidenciou sob anonimato um aliado de Bolsonaro envolvido na caravana de deputados que viajaram para acompanhar a posse em Washington.

Na semana passada, Eduardo comparou a situação de seu pai com a do dirigente americano ao agradecer a crítica da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, controlada pelo partido de Trump, à decisão de Moraes de vetar sua viagem para o exterior.

Estes mesmos interlocutores do bolsonarismo admitem sob reserva que não há uma definição clara do que Trump e Musk poderiam fazer para retaliar o ministro ou pressionar o STF na reta final da investigação da trama golpista, com uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) a caminho, mas ponderam que um aliado próximo no Salão Oval da Casa Branca contribui muito para “mudar o jogo”.

O próprio Bolsonaro externou essa opinião em uma conversa com jornalistas no último sábado (18) no aeroporto de Brasília.

“Com toda certeza, se ele me convidou, ele tem a certeza que pode colaborar com a democracia do Brasil afastando inelegibilidades políticas, como essas duas minhas que eu tive”, disse o ex-presidente, que adiantou que não daria “palpites ou sugestões” sobre como o aliado dos EUA poderia ajudar na sua situação judicial.

“Só a presença dele, o que ele quer, só ações. Não vai admitir certas pessoas pelo mundo perseguindo opositores, o que chama de lawfare, que ele sofreu lá. Grande semelhança entre ele e eu. Também sofreu atentado”.

No ano passado, deputados trumpistas apresentaram um projeto de lei visando cassar o visto americano de Moraes durante a briga pública entre o magistrado e Musk com a suspensão do X no Brasil após a plataforma descumprir decisões do Supremo. Um segundo texto apresentado na Câmara dos Representantes dos EUA defendeu a mesma medida para todos os ministros do STF, o que tem sido encarado com ironia por Moraes.

“Quem vai ser o primeiro a perder o passaporte?”, disse Moraes a um colega do STF recentemente. O próprio ministro costuma priorizar viagens à Europa do que aos Estados Unidos – e já chegou a ser hostilizado por uma família do interior de São Paulo enquanto aguardava embarque no aeroporto internacional de Roma.

Essas proposições seguem à disposição, observa um bolsonarista, que lembra ainda que o Partido Republicano de Trump controla agora as duas Casas do Congresso, além da presidência.

Quem aposta em uma eventual ajuda do trumpismo conta com a influência de Elon Musk, que mergulhou de cabeça na campanha do agora presidente Trump e se tornou um dos aliados mais próximos durante a transição. O bilionário sul-africano foi escalado para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, que ambiciona reformar o sistema público americano, e contará com um gabinete próprio dentro da Casa Branca.

Musk bateu de frente com Moraes e já chamou o ministro de ditador e exigiu sua renúncia e prisão. A briga, cujo pano de fundo são as decisões sigilosas do STF pela derrubada de conteúdos e perfis a pretexto de combater ataques contra a democracia e a desinformação, rendeu ao dono do X a inclusão dele no inquérito das milícias digitais e um procedimento aberto pela Polícia Federal (PF) para apurar seus ataques contra o magistrado.

O empresário, segundo relatos colhidos pela equipe do blog, tem Moraes como um inimigo pessoal e costuma se divertir com memes bolsonaristas em tom jocoso sobre a aparência física do ministro. Essa antipatia, avaliam, pode ser um recurso importante para convencer a administração Trump de pressionar o STF brasileiro.

O Globo

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