Como a volta de Trump à presidência dos EUA pode impactar o Brasil?

Presidente dos EUA discursa ao tomar posse — Foto: Chip Somodevilla/Pool via REUTERS

Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o Brasil enfrenta um novo cenário de incertezas. Embora o impacto exato das políticas do republicano sobre o país ainda seja imprevisível, há várias áreas que podem ser diretamente afetadas, como a economia, a questão ambiental, as relações diplomáticas e até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF). Confira o que esperar de cada uma delas:

Dólar e tarifas

Uma das principais promessas de Trump para seu segundo mandato envolve a imposição de tarifas comerciais. Mesmo que o Brasil não seja o alvo prioritário de novas taxas, a simples menção de medidas protecionistas já está gerando um efeito significativo no mercado cambial.

A moeda americana se fortaleceu desde a vitória de Trump, com o real sendo uma das moedas mais desvalorizadas frente ao dólar globalmente.

Especialistas, como os analistas da Eurasia Group, preveem que a incerteza sobre as tarifas pode gerar uma pressão adicional sobre a economia brasileira. Uma inflação mais alta nos Estados Unidos e o aumento das taxas de juros americanas podem resultar em um fluxo menor de dólares para o Brasil, o que fortaleceria ainda mais a moeda americana. Este cenário pode também empurrar o Brasil a adotar taxas de juros mais altas, dificultando o crescimento da economia global, incluindo o Brasil.

Deportações

Outro tema controverso no governo Trump é a questão das deportações. Trump, que prometeu realizar as maiores deportações da história dos EUA, ao menos um milhão de imigrantes indocumentados por ano, podendo afetar diretamente a comunidade brasileira.

Estima-se que cerca de 230 mil brasileiros vivam como imigrantes indocumentados no país e, com a possibilidade de deportações em massa, esses cidadãos podem ser seriamente impactados.

Apoiadora de Trump segura um cartaz que diz “Deportação em Massa Agora” no terceiro dia da Convenção Nacional Republicana no Fiserv Forum em de julho de 2024, em Milwaukee, Wisconsin – Foto: GettyImages

Por meio da lei de acesso à informação dos Estados Unidos, a Fox News obteve informações de que o serviço de Imigração e Fiscalização alfandegária do país (ICE, na sigla em inglês) possui 1,5 milhão de pessoas com ordens de deportação ativas. Desse total, 38.677 são brasileiros.

Embora fontes ligadas ao novo governo afirmem que os brasileiros não seriam alvo prioritário, especialistas alertam que, caso a política de deportações em massa se concretize, cidades brasileiras com grande número de imigrantes, como Governador Valadares (MG), podem sentir um impacto econômico considerável, já que muitas dessas comunidades dependem das remessas enviadas pelos imigrantes para sua sobrevivência.

Meio ambiente

Trump segurando uma placa com a frase Trump Digs Coal”, sugerindo que ele é favorável ao uso do carvão como combustível fóssil – Foto: Reprodução/Internet

Trump é conhecido por suas políticas de negação das mudanças climáticas e, é altamente provável que seu segundo mandato seja marcado pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, cuja premissa é de que países ricos diminuam suas emissões de gases do efeito estufa e financiem os países mais pobres no esforço pra mitigar e se adaptar aos efeitos do aquecimento global. Isso afetaria diretamente os esforços globais para combater as mudanças climáticas.

É esperado que Trump não honre compromisso firmado por seu antecessor, Joe Biden, de remeter meio bilhão de dólares ao Fundo Amazônia. O próprio Joe Biden, que foi o primeiro presidente americano no cargo a visitar a floresta no fim do ano passado, só cumpriu uma parte da própria promessa.

No entanto, em áreas como energias renováveis e exploração mineral, especialmente em relação a lítio e terras raras, o Brasil pode encontrar novas oportunidades de colaboração com os EUA.

O país tem investido em energias renováveis, como a energia solar e eólica, setores nos quais Trump, especialmente em estados como o Texas, tem promovido grandes mudanças.

Para especialistas, a cooperação no setor energético pode ser um terreno fértil para o Brasil, tanto no desenvolvimento de energias renováveis quanto na exploração de recursos minerais, necessários para a indústria de carros elétricos e turbinas eólicas.

STF e as Big Techs

O retorno de Trump também pode ter implicações para o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente no que diz respeito à regulação das redes sociais.

Elon Musk conversa com Donald Trump, enquanto assistem ao lançamento do sexto voo de teste do foguete SpaceX Starship em novembro de 2024 em Brownsville, Texas – Foto: Reprodução/Fortune

O bilionário Elon Musk, aliado de Trump e proprietário da plataforma X (antigo Twitter), já entrou em confronto com o STF sobre a regulamentação de fake news. Com a volta de Trump ao poder, espera-se um aumento das pressões sobre a corte brasileira, especialmente por aqueles que defendem menos regulação das redes sociais, incluindo figuras como Musk e Mark Zuckerberg.

Em relação ao STF, há uma especulação sobre a possibilidade de o governo Trump se envolver em questões de vistos, pressionando por uma possível cassação dos vistos de ministros do STF, como Alexandre de Moraes, que esteve no centro de discussões com Musk e outros aliados do republicano.

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