Governo vê desgaste entre autônomos com crise do Pix e prepara contraofensiva de olho em popularidade

lula

CATIA SEABRA E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O governo Lula (PT) percebeu um aumento da insatisfação de autônomos e empreendedores após a crise do Pix na última semana, e prepara agora uma campanha com foco nesse público.

Na avaliação de aliados do presidente, o diálogo com o segmento já era difícil e piorou ainda mais com a disseminação de fake news sobre a taxação dessas operações.

Na noite da última sexta-feira (17), a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) avisou às agências encarregadas da publicidade do governo sobre a encomenda de uma campanha de esclarecimento.

O conceito da propaganda ainda será encaminhado, mas, segundo o que já foi informado, será direcionada ao segmento mais sensível à medida, que são os empreendedores.

Essa não é a primeira vez que Lula é obrigado a desmentir falsas informações endereçadas ao segmento.

Em 2022, o petista teve que negar a afirmação, reproduzida pelo então presidente, Jair Bolsonaro (PL), de que acabaria com a categoria de empreendedor individual (MEI).

À época, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou a remoção de postagens de aliados de Bolsonaro que repetiam a desinformação.

Agora, com a crise do Pix, o governo viu que perdeu o debate. Por isso, decidiu recuar. Mas há ainda a avaliação de que o estrago com esse público não ficou apenas no recuo.

Uma ala de aliados de Lula diz que a medida da Receita sequer deveria ter sido feita, que teve um caráter burocrático e que não houve devido cálculo político.

A avaliação é de que nem a equipe econômica teve noção do impacto que haveria. O tema não foi debatido com a Casa Civil ou mesmo com o ministério de Micro e Pequena Empresa, de Márcio França.

Outra ala diz que a forma como ela foi divulgada foi equivocada. Era preciso primeiro articular com pessoas ou instituições que pudessem ajudar nesse diálogo com a população.

Um integrante do governo cita, por exemplo, o nome da influenciadora Nath Finanças, que é membro do Conselhão.

Antes de assumir a Secom, na terça-feira, Sidônio Palmeira tinha encomendado às agências encarregadas da comunicação do governo uma campanha de esclarecimento sobre as novas regras de monitoramento da Receita de transações por Pix.

Um dia antes da posse de Sidônio, o ministério solicitou às agências a apresentação de uma estratégia de comunicação digital para combate a fake news a cerca da falsa informação sobre taxação do sistema de pagamento.

Na noite de quinta-feira (16), após a revogação da medida, no entanto, a Secom informou à Calia, agência escolhida para a empreitada, que a campanha tinha sido cancelada. As agências foram orientadas a aguardar nova solicitação.

Desde a campanha eleitoral, já é considerado um desafio a comunicação e a implementação de medidas para os empreendedores e autônomos, hoje próximos ao discurso do bolsonarismo.

Um auxiliar de Lula relembra o episódio envolvendo, por exemplo, a regulamentação dos trabalhadores de aplicativo de transporte. Era uma promessa de campanha do petista, mas a medida enfrentou forte resistência.

O programa foi lançado mesmo após alertas de integrantes do governo de que a proposta poderia não ser bem aceita pelo segmento. A avaliação desses interlocutores de Lula é de que o governo ainda tem dificuldade em dialogar com esse novo perfil de trabalhador.

No ano passado, mais uma vez o governo se viu diante da dificuldade de dialogar com esse público durante a campanha eleitoral de São Paulo.

O então candidato Pablo Marçal (PRTB) teve desempenho melhor nas periferias por ter uma plataforma com discurso voltado para o empreendedorismo.

Durante a campanha, Lula foi à capital paulista realizar cerimônia de balanço e novos anúncios do Acredita, programa que amplia a oferta de crédito para empreendedores e famílias de baixa renda.

Sancionada na semana anterior, a medida não teve evento de lançamento por falta de agenda, mas foi chamada por Lula de “maior programa de crédito já feito na história deste país para pequeno e médio empresário”.

A oposição explorou, no caso do Pix, justamente a possibilidade de microempreendedores caírem na malha fina da Receita Federal com a nova medida.

Integrantes da Fazenda buscaram desarmar essa informação reforçando que o foco era no crime e nas irregularidades, não no pequeno comerciante. Mas ganhou tração essa versão, sobretudo após o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

O alerta para organizar a oposição veio do marqueteiro da campanha de Bolsonaro em 2022, Duda Lima.

Ele deu o tom para que os ataques à medida focassem nos empreendedores.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.