Temor de arrastões e roubos afeta turismo no litoral de SP, apesar de melhora nos números

guaruja

TULIO KRUSE, ISABELLA MENON E JOÃO PEDRO FEZA
SÃO PAULO, GUARUJÁ E SANTOS, SP (FOLHAPRESS)

Uma série de assaltos violentos marcou os últimos dois meses na Baixada Santista, apesar do reforço no policiamento para a temporada de verão no litoral de São Paulo. Os casos, concentrados em Santos e Guarujá, ocorreram mesmo após melhora nos índices de crimes como roubos e furtos na região ao longo do ano passado.

Os dois municípios tiveram aumento nos registros de homicídios em 2024, enquanto a tendência no litoral como um todo foi o contrário. De janeiro a novembro do ano passado, a quantidade de assassinatos aumentou em Guarujá (de 20 para 32 casos), Santos (de 10 para 20), Ubatuba (de 11 para 13) e Ilhabela (de 2 para 4). Na maioria dos municípios litorâneos, caiu.

De janeiro a novembro do ano passado, o registro de roubos diminuiu 25% no conjunto de municípios do litoral paulista, na comparação com o mesmo período de 2023. Os furtos caíram 5%. Os índices foram semelhantes na Baixada Santista, que reúne nove municípios e tem os maiores índices de violência do litoral.

As estatísticas oficiais do mês de dezembro ainda não foram publicadas pelo governo estadual. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que houve uma redução de 35% no número de roubos e furtos na Baixada de 21 de dezembro do ano passado a 3 de janeiro de 2025, em comparação com as mesmas datas do período anterior.

Desde julho de 2023, Santos e Guarujá foram o epicentro de megaoperações da PM realizadas após mortes de policiais. As ações deixaram um saldo oficial de mais de 90 mortos pela corporação -casos que não são contabilizados nas estatísticas de homicídio. Dez policiais militares foram denunciados, e o governo paulista diz que todos os casos são investigados com rigor.

Agora, a sequência de arrastões e um caso de latrocínio assusta turistas e ameaça uma das principais atividades econômicas da região. No final da tarde de 3 de janeiro, por exemplo, um motorista de 39 anos levou um tiro de raspão na cabeça durante tentativa de assalto na rodovia dos Imigrantes, um dos principais acessos à Baixada.

O ataque ocorreu no quilômetro 62 da rodovia, segundo a concessionária Ecovias. O trânsito estava congestionada no momento do assalto, dificultando a reação dos motoristas.

A vítima passou por avaliação médica em uma unidade de saúde até ser liberada, horas depois. Dois suspeitos em bicicletas chegaram a ser detidos pela PM, mas foram liberados por falta de reconhecimento. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse que o 2º DP de Cubatão conduz as investigações.

A reportagem esteve nas praias de Pitangueiras e Enseada, em Guarujá, durante a manhã e tarde da última terça-feira (14). Por lá, o patrulhamento era feito por policiais militares em quadriciclos. Também era possível ver policiais de bicicleta pela orla, em carros estacionados próximos às praias e, durante do dia, a cavalaria fazia ronda na região.

A sensação de comerciantes é que notícias sobre arrastões na cidade espantam turistas. Eles afirmam que, ao verem policiais, se sentem mais aliviados.

“Quando não tem policiamento, os turistas são abordados”, diz a comerciante Catiana Rodrigues Ramos, 43. “A nossa alegria é quando vemos a polícia aqui porque sabemos que é mais segurança para os turistas e para nós.”

Em 31 de dezembro, um turista chinês de 40 anos foi baleado na perna durante tentativa de roubo. Ele estava na trilha do Mar Casado, na praia de Pernambuco, em Guarujá. Ninguém foi preso. O mesmo local já tinha registrado crime do tipo em setembro, e ambos os casos seguem sem desfecho.

Antes, na manhã de 19 de dezembro, um turista de 20 anos morreu ao levar um tiro na cabeça na praia da Enseada, uma das mais frequentadas de Guarujá. Por volta das 7h30, dois homens -um deles, armado- teriam descido de um carro e anunciado o assalto. O jovem foi morto na frente da namorada.

O autor do disparo não foi localizado. A SSP diz que o caso está sob investigação da 3ª Delegacia de Homicídios do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de Santos.

Quatro dias antes, um homem tinha sido atacado por um grupo de seis agressores na orla da praia de Pitangueira. Ele foi cercado pelo bando e derrubado no meio da rua. Nas imagens gravadas por um morador de um prédio vizinho, os assaltantes parecem tomar pertences do homem imobilizado no asfalto. A vítima não registrou boletim de ocorrência.

Em 6 de dezembro, segundo a SSP, um adolescente de 15 anos foi apreendido após roubar de uma corrente de ouro de um homem de 38 anos na praia da Enseada. Segundo a pasta, o jovem mostrou a corrente numa transmissão ao vivo nas redes sociais. Policiais tiveram acesso ao vídeo e chegaram até o autor.

Outro arrastão, em 17 de novembro, obrigou condutores a retornar na contramão na Ponte do Mar Pequeno, que liga São Vicente a Praia Grande. Nesse caso, os ladrões também se aproveitaram do congestionamento na via. Segundo a Polícia Militar, os suspeitos fugiram. A Polícia Rodoviária reforçou o patrulhamento no local.

A SSP diz que todos os casos são investigados pela Polícia Civil, “que realiza diligências para a identificação e prisão dos autores dos crimes”.

REFORÇO SAZONAL

Até fevereiro, o litoral de São Paulo deve receber mais de 4 milhões de turistas, segundo projeção da Secretaria estadual de Turismo. A expectativa é que o setor movimente R$ 9,6 bilhões na região.

Um efetivo total de 3.000 policiais militares deve reforçar o policiamento da Baixada Santista até o fim da temporada, além daqueles que já estão lotados rotineiramente nos municípios da região, segundo o governo estadual.

Policiais militares do interior são remanejados para atuar em locais de grande fluxo, como praias e pontos turísticos, e nas áreas de interesse estratégico do governo estadual que, para isso, mantém convênios com as prefeituras.

No ano passado, após a morte de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, batalhão de elite da PM), a Operação Verão se tornou a ação mais letal na história da PM paulista desde o Massacre do Carandiru. Foram 56 mortos por policiais na Baixada.

Santos teve um aumento de 152% nas mortes por intervenção policial ao longo do ano passado, na comparação com 2023. O governo paulista diz que “as investigações são acompanhadas pelas respectivas Corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário” e que “desde a formação e ao longo de toda carreira, os policiais paulistas passam por cursos de formação e atualização que contemplam disciplinas de direitos humanos, igualdade social, diversidade de gênero, ações antirracistas, entre outras.

A pasta afirma que “ao longo do ano passado houve a ampliação de unidades policiais e a prisão de importantes lideranças de facções criminosas, o que contribuiu para a diminuição do índice de criminalidade” e que “investe constantemente em estratégias de enfrentamento à criminalidade na região, inclusive no combate aos crimes violentos”.

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